ESG

Boas práticas para quem?

Exercitar a reflexão sobre os impactos das escolhas que são realizadas pela gestão é fundamental para garantir que os investimentos sejam estratégicos e nem sempre pautados pelo lucro financeiro.

O termo “boas práticas” sempre nos lembra de algo que funciona. Sendo assim, quero te fazer uma pergunta: o que move as pessoas que atuam na área de gestão de pessoas? Vou generalizar a resposta, por conta das diversas matérias que já li sobre o tema: muitos afirmam que gostam de desenvolver o potencial humano, enquanto outros gostam de cuidar das pessoas. Entre algumas justificativas, todas elas estão centradas em gente. 

Então, como ainda vemos casos de denúncias acerca de processos seletivos em que as pessoas são discriminadas desde o momento da divulgação da vaga até quando nem sequer recebem uma devolutiva sobre o processo do qual participaram? Entender o que é preciso melhorar é fundamental para quem está fora do mercado de trabalho, enquanto iniciativas como “Se Candidate, Mulher!”, PrograMaria, PretaLab, entre outras, atestam que a maior parte dos RHs não oferecem retorno sobre o desempenho das candidatas durante um processo seletivo, nem o porquê da recusa. 

Dados-da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o 1º semestre de 2022, mostram que o desemprego de homens ficou em torno de 9%, enquanto de mulheres ficou em torno de 13%, lembrando que elas são mais de 50% da população do país, e muitas são chefes de família. 

Dessa forma, é possível perceber o impacto social que nos trouxe de volta para a linha da miséria do Banco Mundial. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), inclusive, tem acompanhado com preocupação o coeficiente de GINI, “criado pelo matemático italiano Conrado Gini, e instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos”. 

Cada vez mais, há empresas lançando programas para ensinar mulheres a empreender, e não para contratá-las em regime CLT. Muitas, inclusive, contam com incentivo de capital-semente para que possam prosseguir crescendo, através do uso de boas práticas de mercado. 

O que não se garante é um mercado consumidor para cada negócio, e há muita frustração e perda pessoal e social de investimentos, o que é reflexo de um modelo que “catequiza” sem realmente estar no território, lado a lado com as pessoas. Essas questões nos levam a um outro ponto: o de pensarmos no ambiente corporativo. Nas empresas, quando falamos de boas práticas, algumas áreas estratégicas são consideradas o core (coração) das operações: a comercial e a financeira. 

Frequentemente, as duas áreas vivem em constante atrito. A área comercial tem a tarefa de encantar o cliente, investir para fazer a empresa ser conhecida e ampliar o alcance do branding (posicionamento de marca), ou seja, manter uma gestão que garanta a relevância da marca e torne-a objeto de desejo. O financeiro, por outro lado, tem como dever manter as contas sob controle, reduzir custos, garantir investimentos com altos rendimentos e proteger o patrimônio e os investimentos dos acionistas e dos sócios. 

As boas práticas de governança orientam que ambas as áreas citadas acima, caso trabalhem juntas, usem transparência e alinhamento estratégico para garantir a saúde e a sustentabilidade do negócio. No geral, as boas práticas sugerem uma parceria sólida e colaborativa, em que a estratégia seja priorizada para garantir o melhor resultado possível. 

Uma das áreas que sofrem com os reflexos do atrito entre ambas é a de Gestão de Talentos, afinal todas as regras de remuneração dependem basicamente da área financeira, mesmo que a comercial seja a que paga as contas. Se esses setores não possuem metas compartilhadas, o descompasso gera perdas e cria um clima de competição interna; o ambiente se torna, então, um lugar hostil, no qual as metas e os resultados são os parâmetros para premiar ou punir e, geralmente, as pessoas se tornam apenas números para atingir um fim, sem levar em conta a humanização das relações. 

Entender que as boas práticas são construídas a partir da transparência, da colaboração e de uma gestão alinhada que respeita os stakeholders e preserva o grupo de pessoas colaboradoras é fundamental para garantir que estas sejam mais que um termo: elas devem ser parte do DNA da organização e envolver todos os níveis hierárquicos para proteger o negócio como um todo. 

Exercitar a reflexão sobre os impactos das escolhas que são realizadas pela gestão é fundamental para garantir que os investimentos sejam estratégicos e nem sempre pautados pelo lucro financeiro. Muitas vezes, será importante garantir o retorno em frentes como as ambientais e sociais, além de garantir que a governança seja eficaz no que diz respeito ao gerenciamento de ativos, ou seja: as boas práticas de ESG (meio ambiente, social e governança) realmente podem mudar a forma como uma marca se relaciona com a sociedade e como esta constrói a sua identidade, visando à ética e à transparência em todas as áreas. 

Então, deixo aqui uma dica: quer ser parte do grupo que irá liderar as tendências dos próximos anos? Use as boas práticas de ESG, junte-se a parcerias éticas, dedique-se ao ganha-ganha e foque nas pessoas. Assim, você e a sua empresa poderão navegar em um ambiente seguro e mais amplo. 

*Samanta Lopes é coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa, agência de?live?marketing