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Por quê o Uber Eats deixou o Brasil?

Apesar do Uber Eats ser um dos grandes players de delivery no mercado tupiniquim, ele ainda ficou longe de atingir seu pleno potencial.

por Dennis Nakamura, Especialista em economia digital, cofundador, mentor, consultor e sócio de várias Healthtech, Foodtech e outras startups

Por ter tido a oportunidade de ajudar na gestão e ganho de escala do iFood, muitos amigos têm me questionado sobre os motivos que levaram o Uber a encerrar o Uber Eats no Brasil, sua divisão de delivery de alimentos. Mas o que pode tê-los assustado a ponto de abandonarem o mercado para Rappi, iFood e alguns outros menores? 

Em seu comunicado oficial, o Uber vai mudar sua estratégia para focar apenas em entregas de supermercados, lojas e pacotes last mile e o Uber Eats continuará funcionando apenas até 7 de março. 

O delivery tem um papel excepcional nessa pandemia, pois esse consumo é influenciado por fatores como a economia, acessibilidade e cultura, segundo a Dra. Rosa Garcia da USP. Pilares estes que foram completamente influenciados pela chegada do Coronavírus e agora outras “novas” doenças também. 

Como especialista em inovação e startups no Brasil, digo que esse mercado de delivery não é nada fácil nem mesmo para os grandes. Quero mostrar alguns fatores que podem ter impactado nessa tomada de decisão:

UBER EATS CRESCEU, MAS DÁ PREJUÍZO 

Apesar das vendas (GMV) e receita do Uber Eats quase triplicarem durante a pandemia, não cresceu tanto quanto a o “Uber Eats Asia”, e também se mantém dando prejuízo, uma vez que a batalha acirrada pela fome do consumidor consome caminhões de dinheiro em marketing, desconto tanto para o consumidor quanto para o restaurante e incentivos financeiros para reter a preferência por entregas dos motofretistas. 

De acordo com levantamentos da Measurable AI, em 2021, empresa que analisa Notas Fiscais Eletrônicas por meio de inteligência artificial gerando dados “mais oficiais”, e ainda há uma hegemonia muito grande do iFood perante o UberEats e demais concorrentes como mostrado no gráfico a seguir:

Podemos observar que o iFood ainda retém cerca de 80% das NF eletrônicas no Brasil, enquanto o Uber Eats têm 10%. Por uma prática de parte das startups em não gerar lucro, todo o caixa livre pode ser reinvestido no crescimento por meio de cupons de descontos e marketing como mencionado anteriormente. E segundo o CFO do iFood, é uma escolha da empresa dar prejuízos nos balanços patrimoniais em busca de crescimento e fidelização do cliente. 

Outro dado que confirma essa diferença de market share é o mapa de presença desses aplicativos em todo o Brasil: o Uber Eats tem visivelmente menos presença que o primeiro lugar.

Estudo o mercado do delivery online há quase uma década, desde que fui um dos gestores do iFood e ajudei algumas outras grandes startups relacionadas, mas é um segmento agressivo, difícil e complexo.

Certamente a saída do Uber Eats do Brasil não foi à toa e conseguimos discutir todas as questões por horas afins. Caso não concorde ou tenha algum outro ponto que acabei esquecendo de mencionar, deixa aqui embaixo nos comentários.