Arte e Criatividade

IA: A moda que desafia Marcas a entrarem em um mundo ainda inexplorado

Hanna Inaiáh, designer de moda e estampas, fala sobre seu processo criativo e o universo da Inteligência Artificial, que – spoiler – permitiu que criasse suas obras com mais facilidade e liberdade do que nunca

Por ser parte de um movimento que continua ganhando força, é possível dizer que foi a tecnologia que encontrou Hanna Inaiáh, designer de moda e estampas (Surface Design) nascida no Rio de Janeiro. Trouxe Hanna para conversar sobre seu processo criativo e o universo da Inteligência Artificial (IA), que – spoiler – permitiu que ela criasse obras incríveis, com mais facilidade e liberdade do que nunca.

Traçar a linha do tempo de realizações de um artista pode ser exigente, considerando que muitos acontecimentos são simultâneos e até em ziguezague. Pensando nisso, trouxe os principais encontros da Hanna com a tecnologia que transformaram sua forma de criar e tornaram seu trabalho ainda mais original.

Mesmo apaixonada por música, a assustadora prova teórica do vestibular fez com que Hanna visse na origem familiar (e no gosto por desenhar, pintar, bordar e costurar) a oportunidade de conhecer a moda como movimento social no curso que escolheu.  Na faculdade, a primeira aula de estamparia permitiu que ela olhasse para o desenho como algo profissional. 

Em 2000, descobriu a animação em um intercâmbio na Califórnia. A primeira aula de CorelDRAW na faculdade revelou o talento na modelagem e chamou a atenção de professores. Nesse momento, passando por questões pessoais conturbadas, a motivação para encerrar o curso era tão baixa que transformou Hanna na pioneira a usar o software da Corel como solução para o projeto final, resultando em um sucesso tão grande que logo foi chamada para o primeiro estágio, ainda com 20 e poucos.

Junto dele, decidiu empreender, e para levantar mais investimento, trabalhava em lojas de roupas, o que ajudou a entender como o mercado funcionava ali, da ponta – ou, em como o produto criado chegava ao consumidor final. 

Depois de sofrer um acidente e ter de parar por um ano, desabafou com uma amiga e foi indicada por ela para uma vaga em uma importadora de tecidos que queria entrar no mercado de moda. Conquistou um bom cargo, um bom salário e ainda conheceu seu marido por lá.

Mas na crise de 2016, a empresa parou de trazer novas cores e a decisão da Hanna foi a de sair da empresa, mas com portas abertas, muitos contatos embaixo do braço e a oportunidade de elevar o negócio próprio a outro patamar. 

Um tempo depois, engravidou e decidiu se entregar para a maternidade. Quando seu filho começou a crescer, voltou a trabalhar aos pouquinhos e decidiu comprar um tablet para poder andar pela casa junto dele enquanto criava. Na pandemia, pôde contar com ainda mais ajuda do marido em casa, então teve tempo de desenhar mais e até fazer uma pós-graduação. Mesmo no começo, sem acreditar muito no potencial do Instagram, ela viu seu perfil crescer e clientes aparecerem. 

A inteligência artificial apareceu em junho de 2023 e começou a invadir o mercado de estamparia. Mas, para Hanna, isso não foi uma mudança definitiva, porque (segundo ela) “ainda existe demanda para o desenho manual”. No mesmo período, a Farm Rio veio com a demanda de entrar na onda da IA com uma coleção que já tinha uma sessão fotográfica na neve.

Foi por meio de experimentações, erros (como quando teve de recusar um projeto de editorial de joias pelas limitações da ferramenta) e acertos (criando tantas imagens legais que ficava difícil de escolher) que Hanna encontrou sua identidade, trabalhando com variação das suas próprias imagens.

Nas pesquisas, encontrou uma marca espanhola que fez toda uma coleção em IA e a intitulou de “Inteligência Artesanal”, com a promessa de produzir as peças no mundo real devido ao sucesso. Ali, Hanna vislumbrou o potencial da IA como uma ferramenta do estilista, que desenha uma peça e a constrói de uma forma muito real, indo além da ideia e potencializando a criatividade. 

Para Hanna, “é muito difícil hoje ficar sem inspiração, a gente pode usar a IA para dar uma pirada. Então, é uma coisa que super indico para quem está começando agora. O papel do artista ainda é necessário, a inteligência não vai chegar ao ponto em que vai ter essas inspirações. Até porque, o meu trabalho tem diferencial – ele traz muitas linhas de memórias afetivas que são dos bordados.

Eu gosto muito desse efeito manual e de trazer bastante informação na imagem, como nas estampas, assim elas ficam mais surreais. Depois, eu comecei a fazer imagens mais realistas e a deixar a galera mais confusa. Isso é foto ou é inteligência artificial? A IA ainda tem uns erros que às vezes ficam muito legais.”

Afinal, tão importante quanto prever tendências, é abraçar inovações com o mesmo entusiasmo de Hanna Inaiáh, porque novas ferramentas são essenciais para nos impulsionar a experimentar mudanças e nos abastecer de inspiração inesgotável. 

Aqui fica o meu convite para acompanhar o instagram da artista: @hannainaiah

Até a próxima,

Julia Padula