Paula D'Almeida

O offline é o novo luxo

Pessoas praticando yoga em um terraço em um evento de wellness da Alo
Foto: Reprodução / Pinterest @aloyoga

Vivemos uma era em que desconectar virou símbolo de status. Embalado pela ascensão das tendências de bem-estar, o desejo de sair das redes sociais e buscar experiências “fora da tela” ganhou protagonismo. Hoje, se permitir estar offline — nem que por algumas horas — é quase um luxo.

Para o mercado de experiências, essa movimentação é um sinal valioso. Reforça a importância de trazermos investimentos de marketing cada vez mais para o físico — ou melhor, para o sensorial.

Após “brainrot” ser eleita a palavra do ano em 2024, e com diversos estudos alertando sobre os impactos do scroll infinito na nossa atenção e saúde mental, se desconectar passou a ser desejo. Mais do que isso: passou a ser cool entre a nova geração.

O perigo que percebo aqui é que o discurso de “viver o offline” pode levar a percepção de que o setor de experiências deve olhar apenas para o ao vivo — e a na realidade, não é bem assim. 

O psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Nobel de Economia, chama atenção para um viés cognitivo chamado “What You See Is All There Is” — ou, em português, “tudo o que você vê é tudo o que existe”. Ele explica que nosso cérebro tende a tomar decisões com base nas informações que estão mais disponíveis ou mais acessíveis, sem buscar o contexto completo. Em outras palavras: se a sua bolha no Instagram está falando sobre detox digital, você pode ser levado a acreditar que o mundo inteiro está adotando esse comportamento. Mas não está.

Na realidade, os números mostram o oposto. O tempo médio diário gasto por brasileiros no celular tem aumentado, e o uso de redes sociais no país deve crescer cerca de 11% até o final de 2025. Ou seja: falar sobre viver mais offline é algo aspiracional, mas ainda distante da prática da maioria.

Estar consciente sobre os danos do excesso de tela não significa, automaticamente, que estamos aderindo a uma vida menos digital.

O digital não vai “decair” em decorrência da ascensão das experiências — os profissionais mais sábios são aqueles que saberão utilizar o digital como alavanca de suas experiências (e as experiências como uma alavanca de conteúdos para as redes sociais).

Dito isso, podemos sim afirmar: o offline é o novo luxo — é onde as pessoas desejam estar, e de onde se orgulham de fazer parte. Mas, na maioria dos casos, com uma intenção clara: registrar, compartilhar, e voltar para o online com conteúdo valioso do que viveram no off. 

Sim, o seu consumidor ama receber um convite para um aulão de yoga, um jantar exclusivo ou talvez uma tarde em um beach club da sua marca — mas tenha certeza de faze-lo extremamente instagramável porque a experiência só está completa se ele tiver o que postar sobre isso depois.

Por isso, é hora dos times de marketing trabalharem menos como rivais por verba e mais como aliados estratégicos. O consumidor é cada vez mais phygital — vive entre os dois mundos e espera que as marcas estejam preparadas para acompanhá-lo nessa jornada híbrida.

Vencem as marcas que entendem que o offline não concorre com o digital — ele o alimenta! Vence quem sabe criar experiências presenciais tão marcantes que se tornam, naturalmente, conteúdo. Que transformam ativações físicas em narrativas virais. Que alcançam até quem não esteve presente — mas viu nas redes sociais.

O offline virou luxo, sim. Mas o que o torna ainda mais valioso é sua capacidade de viralizar.

Paula D'Almeida
Paula D’Almeida

Brand Experience

Cofundadora e CMO do Grupo if, grupo referência no mercado de live marketing com a if Agência e sua comunidade “if Lab” para profissionais de Brand Experience. Paula é publicitária formada pela ESPM, com extensão em neuromarketing pela IBN e especialização em Estratégias de Marketing e Inovação pela University of Akron (USA). Possui 7 anos de experiência no mercado de eventos e live marketing e desde que fundou a if Agência já atuou ao lado de grandes marcas, como Ambev (Corona, Beats, Brahma, entre outras), PUIG e Sony Music.

Cofundadora e CMO do Grupo if, grupo referência no mercado de live marketing com a if Agência e sua comunidade “if Lab” para profissionais de Brand Experience. Paula é publicitária formada pela ESPM, com extensão em neuromarketing pela IBN e especialização em Estratégias de Marketing e Inovação pela University of Akron (USA). Possui 7 anos de experiência no mercado de eventos e live marketing e desde que fundou a if Agência já atuou ao lado de grandes marcas, como Ambev (Corona, Beats, Brahma, entre outras), PUIG e Sony Music.