O mercado de luxo sempre foi sinônimo de exclusividade, e é justamente essa aura de inacessibilidade que cria seu poder de atração. Marcas de alto padrão construíram, ao longo de décadas, um imaginário que as coloca como símbolos de distinção. O alto luxo, por definição, apela para a escassez e o desejo de pertencimento a um seleto grupo. Este apelo à exclusividade é fundamental para a construção do valor percebido, um valor que transcende o produto em si e se reflete em uma sensação de privilégio único.
À medida que o mercado evolui, vemos um movimento sutil, mas significativo, das grandes maisons em direção à aproximação com o público. Podemos até dizer que a entrada em produtos de beleza, por exemplo, é uma forma de permitir que quem não pode pagar R$ 50 mil em uma bolsa, pode comprar um batom. É aqui que entra a complexa dança entre manter raridade e criar novas formas de engajamento sem comprometer o posicionamento da marca.
E essa transição não significa uma diluição da exclusividade, mas uma reinterpretação do conceito de luxo, que se adapta às exigências do consumidor moderno. Em 2009, em minha primeira visita a Paris, fiquei na longa fila na Louis Vuitton da Champs-Élysées. Embora tenha saído sem adquirir nenhum produto, a sensação de entrar naquele universo me marcou profundamente.
Ao longo dos anos, acompanhei o desenvolvimento das marcas de luxo e o que se observa é uma crescente tentativa de aproximar-se, de abrir as portas sem perder a essência da marca. O luxo digitalizado tem permitido uma nova proximidade, mas é o offline que ainda mantém a chama do pertencimento aceso.
Um exemplo que vivenciei foi um evento promovido pela Tiffany & Co. na Pinacoteca de São Paulo. Em vez de se restringir a uma loja, a marca transformou-se quase em uma obra de arte dentro de um espaço cultural. Essa estratégia reflete um movimento claro das marcas de luxo: aproximar-se do público, mas sem deixar de lado sua essência de requinte e exclusividade. Afinal, quem já foi convidado para um jantar na Pinacoteca? Com certeza, poucos.
No caso da Moët & Chandon, o recente brunch no rooftop do hotel W durante um domingo comum para assistir uma corrida de Fórmula 1 foi outro exemplo de como o luxo está se renovando. Com a exposição de uma garrafa assinada por Ayrton Senna e o discurso de que foi com uma Moët & Chandon em mãos que se começou o tradicional gesto de estourar a champagne no pódio, a marca criou uma conexão emocional, não apenas com o produto, mas com a memória coletiva e o glamour da F1. A Moët queria celebrar o retorno como patrocinadora do GP (após um hiato de quase 15 anos), e celebrou, mas deu um jeito de também fortalecer os laços afetivos com a marca sem perder seu caráter premium.
Essa abordagem foi perceptível no filme Sra. Harris Vai a Paris, que ilustra uma das grandes lições do marketing de luxo contemporâneo: a experiência do cliente não é mais um elemento periférico, mas o cerne da construção da marca. A Dior, tradicionalmente uma das marcas mais exclusivas do mundo, abre suas portas para uma cliente fora do perfil habitual: uma viúva sem condições financeiras de comprar um vestido, mas com esse sonho. A narrativa reforça o conceito de que, no luxo, a verdadeira exclusividade está em fazer o cliente se sentir especial, sem perder a essência do que faz a marca única.
O verão europeu também tem sido um ponto de inflexão para muitas marcas de luxo que buscam expandir seu território. Durante a temporada, várias maisons de alto luxo ocuparam locais icônicos à beira-mar, como a Dior e Dolce & Gabbana, que transformaram praias e clubes de verão em extensões de suas marcas.
A união entre gastronomia e moda é outra ferramenta de aproximação para as marcas de luxo. Restaurantes e cafés assinados por grandes maisons têm se multiplicado ao redor do mundo. Exemplos como o Le Café V da Louis Vuitton em Tóquio, o Dior Café em Miami e Paris, e o Prada Caffè em Londres, são locais onde os consumidores vivenciam o luxo de uma forma mais cotidiana, sem, contudo, comprometer a sofisticação que essas marcas representam.
Enquanto o digital permite que o luxo se torne mais visível, a fila que ainda se forma em frente às lojas da Louis Vuitton em Paris, e em outras mundo agora, é o reflexo de algo mais profundo: o desejo humano de estar diante do inacessível. Mesmo na era digital, a verdadeira essência do luxo ainda reside na experiência tangível, no toque, no cheiro, no momento de imersão que não pode ser replicado pela tela.
O mercado de luxo, em sua busca por relevância e acessibilidade, está em uma encruzilhada. O desafio será saber como se aproximar do novo público sem perder o que o torna desejado e único. Como a exclusividade será redefinida no futuro? Ao abrir portas, as marcas estarão apenas expandindo sua audiência ou diluindo o próprio conceito de luxo? Essa é a questão que ficará com as marcas, e também com os consumidores, nos próximos anos.
Agora, a grande pergunta é: será que a aproximação, por mais estratégica que seja, pode, de fato, comprometer a aura de exclusividade que torna o luxo tão irresistível? Uma reflexão que aguarda, no tempo, sua resposta.
Eventos de luxo
Marcella Oliveira é jornalista com especialização em Ciência Política, atua como editora-chefe da Revista GPS|Brasília, a principal publicação de lifestyle e mercado de luxo do Centro-Oeste. Transitando nos universos dos eventos de luxo, turismo, gastronomia, arte, arquitetura, moda e beleza, Marcella consolida seus conhecimentos sobre o mercado de luxo com a Comunicação Estratégica para marcas e seu posicionamento no mercado. Atenta aos detalhes e a tudo que remete ao universo da personalização, vive e compartilha suas experiências pelo Brasil e pelo mundo. Tem mais de 15 anos de experiência em comunicação 360º, marketing, eventos e mercado editorial, com passagem por grandes veículos de Brasília e empresas dos setores de marketing e tecnologia.
Marcella Oliveira é jornalista com especialização em Ciência Política, atua como editora-chefe da Revista GPS|Brasília, a principal publicação de lifestyle e mercado de luxo do Centro-Oeste. Transitando nos universos dos eventos de luxo, turismo, gastronomia, arte, arquitetura, moda e beleza, Marcella consolida seus conhecimentos sobre o mercado de luxo com a Comunicação Estratégica para marcas e seu posicionamento no mercado. Atenta aos detalhes e a tudo que remete ao universo da personalização, vive e compartilha suas experiências pelo Brasil e pelo mundo. Tem mais de 15 anos de experiência em comunicação 360º, marketing, eventos e mercado editorial, com passagem por grandes veículos de Brasília e empresas dos setores de marketing e tecnologia.