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Vulnerabilidade e o retiro da Anitta

Enquanto saúde mental for assunto só das celebridades do showbiz, dos superatletas ou do colega da mesa ao lado, vamos sempre camuflar nossas sensações e negligenciar o autocuidado.

Na última semana foi notícia o retiro em busca de autoconhecimento e luta contra o ego que a superstar Anitta realizou. Algumas notas na imprensa davam conta do valor pago pela artista na semana de recolhimento, outras buscavam analisar o momento da carreira e a conexão com a iniciativa. A pausa pelo autocuidado psicológico da Anitta gerou notícia. 

O spotlight sobre os temas autocuidado, saúde e bem-estar, vindo de uma personalidade que inspira a ação, a determinação e a resiliência, é bastante didático pois nos faz pensar na buzzword que fez sucesso há algum tempo atrás: a vulnerabilidade. 

No mundo corporativo esses assuntos têm tirado a paz dos gestores genuinamente atentos às suas equipes e também daqueles que estão de olho nas metas ESG embutidas neste escopo. Diante da crescente demanda por gestão humanizada, os ambientes das empresas precisam oferecer apoio psicológico através da escuta, dos feedbacks, da valorização e do entendimento de como as pessoas estão se sentindo. Atuar no campo da inteligência emocional tornou-se tão fundamental quanto atingir os resultados financeiros da companhia. É aí que a vulnerabilidade volta à cena e acende um sinal de alerta nas empresas.

A terceira edição da pesquisa “Inteligência emocional & saúde mental no ambiente de trabalho”, realizada pela The School of Life e pela consultoria Robert Half, divulgada recentemente, apontou que 37,38% dos líderes estão sem tempo para cuidar de si mesmos e 61% dos liderados acreditam que seus líderes não estão capacitados para acolher os colaboradores que apresentam questões de saúde mental.

Nas agências criativas, a pressão dos prazos estranguladores, os desafios de relações com comunicação truncada, a falta de preparo dos líderes em perceber o outro e a escassez de escuta atenta, têm gerado desconexão, estresse, burnout e desistência.

A falta de planejamento de alguns clientes cria uma sequência catastrófica de acontecimentos em toda a cadeia de produção: tudo vira atendimento emergencial, sem prazos, sem direcionamentos claros, sem o cuidado com o outro. Todo mundo resolve “se esquecer” da vulnerabilidade do outro e o atropelo virou a nova praxe pós-pandemia. 

Enquanto saúde mental for assunto só das celebridades do showbiz, dos superatletas ou do colega da mesa ao lado, vamos sempre camuflar nossas sensações e negligenciar o autocuidado. Pare um instantinho, respire e se pergunte: “o que eu fiz de bom para mim mesmo hoje?”. Conecte-se consigo mesmo e busque seu próprio retiro.

O autoconhecimento é uma estrada interessante e acontece em diversos patamares, geralmente através de retiros, que garante um tempo e um espaço seu. As vezes é uma travessia de alguns dias caminhando, ou uma viagem com amigos. Mas não adianta ter uma lista de retiros incríveis, se ao voltar para o trabalho, nada daquilo se sustenta. As experiências sempre conduzidas por profissionais habilitados e gente experiente trazem insights importantes, reenergizam e ajudam a manter o norte das nossas bússolas calibrado.

Mas no final do dia, a respiração é o que importa.

Respire e busque seu próprio retiro.

Lidere com consciência, olhando e escutando o outro. 

Bora trabalhar?

Foto: Divulgação