Luiz Fernando Coelho

O primeiro contato

O texto a seguir mostra uma experiência vivida por uma empresa não patrocinadora dos Jogos de Beijing, e que planejou um modo de reconhecer seus colaboradores e acompanhantes, mas acabou tendo que repensar e replanejar, uma vez que aconteceu um erro de interpretação da segurança local, o que acabou gerando uma adaptação imediata

Créditos: Xinhua
Créditos: Xinhua

Beijing, 7 de agosto de 2008.

Aeroporto Internacional Deng Xiaoping

Depois de três dias de preparação, verificando rotas, acomodações, localização de hospitais, embaixada brasileira, transporte e muitas reuniões com nossos parceiros chineses. Estávamos prontos!

Hoje, finalmente chegariam os nossos convidados para assistir aos Jogos Olímpicos de 2008, na China.

Agora precisávamos fazer acontecer. E ali estávamos. A postos.

350 pessoas chegando naquele dia do Brasil após 36 horas de viagem. Mais de 50% jamais haviam saído do Brasil. E uma quantidade expressiva haveria experimentado um avião pela primeira vez.

Direto para a China. Que aventura.

Brasileiros do Amapá ao Rio Grande do Sul. Hábitos diferentes. Jovens, pessoas de mais idade. Homens e mulheres que trabalharam muito para ali estar. Gente, simples, muito simples.

Aeroporto Internacional de Beijing, Deng Xiaoping

7 de agosto de 2008, 13 horas.

Chegamos ao Aeroporto Internacional com antecedência para nos organizar. Todos ansiosos. Estávamos devidamente uniformizados, para que fosse fácil nossa identificação.
Tratamos de achar o portão de desembarque de nosso grupo e estabelecer nossa sinalização bem à frente da saída.

Localizamos onde ficavam os banheiros, onde estariam os ônibus, onde havia um café, enfim tudo que pudéssemos prever para orientar nosso grupo. Alguma pequena alteração de portão de desembarque e nosso esquema de recepção desmoronaria.

Todos os nossos passageiros com uma bela camisa verde e amarela.

Uma hora e meia de antecedência na espera de todos. Planejamos assim. Fizemos assim.

Até que num determinado momento vimos no quadro de CHEGADAS o nome da companhia e o número do voo que aguardávamos.

Passengers will be at terminal A, gate 42.

A adrenalina subia ainda mais. Queríamos logo receber a nossa turma. Estávamos no local exato onde iriam sair. Os ônibus estacionados bem em frente a porta de saída.

Perfeito.

E começaram os passageiros a sair para o saguão de desembarque.

E nada.

“Acho que temos um problema”, pensei.

“Será que estes passageiros vieram no voo do Brasil?”

Fomos até a porta.

Começamos a tentar olhar lá dentro para ver se haviam mais pessoas retirando bagagem. Para nosso conforto vimos um monte de nossas camisetas.

“Vamos aguardar”

“Está tudo certo”

“Eles chegaram”, alguém disse em voz alta.

Agora é só achar as bagagens e vir pra cá. Simples.

O nosso primeiro casal apareceu.

O casal que havia saído, nos tranquilizou.

“Estão todos bem. Já vão sair”

O segundo casal apareceu.

Não ia esperar o terceiro.

Fui até a porta.

Invadi a área de desembarque.

Tive 2 choques!

O primeiro; três chineses me agarraram e gritavam comigo algo que imagino ser, o Senhor não pode entrar aqui. Saia fora. Três gritando no meu ouvido. Em chinês.

Mas não fizeram nem cócegas em relação ao susto que tive quando meus olhos constataram que não havia mais ninguém ali.

Nenhum único passageiro. Nenhuma camiseta verde e amarela. Nenhuma mala se quer.

Senti uma mão firme me empurrando para fora do salão de desembarque.

Fora da sala de desembarque nossa realidade: dos 350 achamos 4.

Belo começo.

A cabeça começa a imaginar um monte de possibilidades.

Mas o que será que aconteceu???

Começamos a nos movimentar para tentar descobrir uma pista. Conseguimos então perceber um certo burburinho ao longe.

No andar inferior do aeroporto uma movimentação grande.

Câmeras, flashes.

Muita gente uniformizada.

Olhamos com atenção.

Eram todos amarelinhos.

Finalmente achamos nosso grupo.

Cercados de chineses de todos os tipos e tamanhos.

Estavam todos felizes, rodeados de pessoas também uniformizadas, tirando fotos, trocando pins e flâmulas.

Nosso chefe, com a camiseta amarelinha e um paletó por cima estava dando uma entrevista a uma emissora chinesa.

Afinal naquela elegância, no mínimo era o Chefe da Delegação. E era.

Mas afinal, o que aconteceu?

Constatação.

A Polícia chinesa percebeu no saguão de desembarque um monte de gente de uniforme.

Pensou imediatamente, são atletas que vieram para os Jogos.

Mas não estão em nossa escala.

Estão no local errado para fazer a imigração além de terem que pegar suas credenciais para poderem circular. Enquanto isso todos foram desembaraçando suas bagagens.

Assim o primeiro casal saiu. Os chineses ficaram desesperados.

Quando o segundo casal saiu, a polícia fechou aquela saída e orientou o grupo que eles deveriam tomar outra direção.

Tudo isso em chinês, com respostas em português.

E no final acharam por onde tinham que sair. Pela saída destinada aos atletas.

Na verdade, a confusão aconteceu porque o grupo uniformizado não figurava no controle de delegações estrangeiras previstas para chegar aquela hora.

Como não sabiam quem eram, de onde eram e não conseguiam se comunicar, colocaram nossos convidados, por via das dúvidas, para saírem pela saída destinada aos participantes dos Jogos, facilitando assim sua entrada na China.