Feiras

O retrato do futuro das feiras de negócios

Com as restrições no quesito 'aglomeração', surgiu o modelo híbrido, que acaba por levantar a questão de como será o futuro das feiras.

A pandemia de Covid-19 trouxe uma nova realidade em 2020, com a impossibilidade da realização de eventos em todo o mundo. 

Com o adeus aos encontros presenciais, o digital foi a casa que acolheu as negociações, acelerando a digitalização dos eventos, cujo futuro não poderá ignorar as mudanças presentes. 

Confira as principais feiras de negócios aqui.

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Na sequência da pandemia, os espaços fechados das feiras de negócios deixaram de ser seguros, motivo pelo qual o formato digital passou a ser prioritário para a promoção de sinergias e realização de negócios. 

Com as restrições no quesito ‘aglomeração’, surgiu o modelo híbrido, que acaba por levantar a questão de como será o futuro das feiras.

Première-Vision em fevereiro de 2020 (Foto: Divulgação/Première Vision).

Quase um ano depois, as maiores feiras comerciais do setor de moda demonstraram ter tido sucesso ao adotar o formato digital, como a Première Vision Paris com o seu Digital Show

A NuOrder, plataforma de comércio eletrônico a cargo da Informa Markets Fashion, estabeleceu uma parceria que designou como a “Maior feira digital do setor.” Já a Liberty Fairs colaborou com a plataforma de retalho Joor para lançar o primeiro mercado virtual.

Com a chegada da vacina, renova-se a esperança em relação ao formato físico das feiras. Para Andrew Olah, fundador da Kingpins, a notícia revelou-se positiva, visto que no final de 2020 referiu que o evento estaria de volta à China em setembro, no mês de outubro em Amsterdã e Nova Iorque no final do outono.

A Kingpins, contudo, não é o único evento a querer regressar ao modelo tradicional, tendo em conta que a Informa Markets Fashion planeja realizar, em fevereiro, o evento Magic Pop-Up em Orlando, seguindo-se a Magic Las Vegas em agosto. Por sua vez, a Denim Première Vision pretende regressar a Milão em maio e a Berlim em novembro.

Regresso gradual

Embora haja uma grande vontade de regressar à interação pessoal, o receio gerado pela atual situação de saúde pública ainda persiste. 

Tricia Carey, diretora de desenvolvimento de negócios globais da Lenzing, considera que para ser possível a concretização do evento físico no final do ano ainda há muito para fazer. 

“Como poderá haver feiras de negócios presenciais se as pessoas nem vão ao escritório?”, questiona-se perante o número de trabalhadores que desempenham funções a partir de casa.

“Há uma ordem pela qual as pessoas vão progredir. Não podemos passar do escritório em casa para viajar pelo mundo.”, explica Carey, acrescentando que o primeiro passo é voltar à rotina e depois passar às viagens, dando prioridade, inicialmente, aos eventos regionais.

Michelle Branch segue a mesma linha de pensamento. “Com base no que todos vivenciamos em 2020, sabemos que podemos realizar o trabalho com muito menos viagens. Ainda que, definitivamente, sinta falta de ver amigos de todo o mundo, não posso imaginar que algum dia voltaremos ao volume de feiras que tínhamos no pré-pandemia.”, afirma a diretora-criativa da Markt&Twigs ao Sourcing Journal.

Antes da situação pandêmica ter se agravado, a Rivet compilou uma lista de 21 certames da indústria agendados para 2020 na Europa, na Ásia e nos EUA. No entanto, apenas alguns deles foram realizados.

Apesar das feiras digitais terem tido um início que dividiu opiniões, são muitos os participantes que já se renderam à conveniência deste formato, que adiciona às negociações o fator conforto e promove também a aceleração de uma indústria mais sustentável.

A pandemia fez, inclusive, com que os organizadores dos eventos presenciais do setor passassem a analisar as respectivas pegadas. Segundo o Council of Fashion Designers of America e a Boston Consulting Group, a Semana de Moda de Nova Iorque gera entre 40 mil e 48 mil toneladas de dióxido de carbono. Mesmo assim, a necessidade do toque não deixará de lado a necessidade da fisicalidade.

Mudanças introduzidas

“As feiras presenciais podem ser fisicamente reduzidas, mas isso não significa, de forma alguma, que irão desaparecer. Vão evoluir e serão mais acessíveis para uma população global, que poderá assistir a um evento por meio de uma plataforma digital, talvez de todas as partes do mundo. Será uma forma híbrida de trabalhar, à qual já nos adaptamos parcialmente.”, avança Elena Faleschini, gerente de marketing da Isko em Milão.

Deste modo, os players do setor concluem que as feiras têm de funcionar de forma diferente, tanto em recursos de segurança como na própria estrutura. 

Desinfetantes, controle de temperatura à entrada, uso da máscara e áreas mais espaçosas são algumas das medidas que Michelle Branch prevê para o futuro das feiras físicas, assim como reduzir o tempo da mostra. 

O tempo para as negociações estará também mais bem definido, de acordo com as previsões da diretora criativa da Markt&Twigs. “Imagino que agora será mais ou menos como ir ao supermercado: Colocar máscara, fazer uma lista para manter o foco, entrar, encontrar o que é preciso e sair.”, retrata.

Mesmo com todos os efeitos negativos criados pela pandemia, Elena Faleschini destaca as oportunidades. “Esta é a nossa oportunidade de aumentar a eficiência, melhorar a forma como viajamos e capitalizar as ferramentas digitais para aumentar as oportunidades de negócios.”, conclui Elena.