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Periferia: O que acontece onde não se vê

Nesses grupos “invisibilizados”, há também muitos que moram em áreas sem suporte nenhum, nem mesmo de estrutura básica como água, esgoto e luz.

Estes dias, recebi mensagens pelo WhatsApp, em diversos grupos, com pedidos de socorro vindo de comunidades, de serviços comunitários e de coletivos que estão tentando minimizar, em tempos de isolamento social, as dores de grupos como moradores de rua, pessoas trans sem teto, prostitutas. 

Nesses grupos “invisibilizados”, há também muitos que moram em áreas sem suporte nenhum, nem mesmo de estrutura básica como água, esgoto e luz – são aquelas que vendem coxinha, chocolate e bala e que agora não podem sair, nem vender nada para comprar comida ou água.

Falo também das pessoas que prestam serviços domésticos, autônomos como cabeleireiros e manicures, daqueles que atendem nas portarias ou dirigem para terceiros, entre outros trabalhadores, que, em sua maioria, estão reclusos em casa sem dinheiro e sem nenhuma perspectiva de receber, devido aos dias não trabalhados.

E quem está nas periferias ou nas ruas? Muitos nem têm celular e estão sem entender por que o mundo parece ter parado, a razão de as pessoas estarem de máscaras e o motivo de o lugar onde comiam ter fechado.

Conheço lugares onde a internet muitas vezes nem chega. Consigo ver alguns balõezinhos: “Ah, é só pagar o 4G – fácil, né?”. Bom, geralmente é preciso ficar em cima da casa ou no lugar mais alto da vizinhança para captar o sinal. 

Fora que, em alguns lugares, amigos têm avisado que no horário de pico, entre 16h e 23h, não conseguem usar: simplesmente não há sinal. 

As operadoras não suportam a demanda, a rede está sobrecarregada. Nenhuma delas entrega sinal corretamente, exceto nos locais onde há fibra, e, a título de curiosidade, fibra só em regiões centrais como Faria Lima e Berrini. Aqui na Zona Leste, estou esperando há mais de dois anos…

E álcool em gel 70% ou mais, alguém viu? O produto “evaporou” das prateleiras e das lojas on-line. Chegamos ao absurdo de o Governo criar limitação do preço de venda porque estavam ofertando o litro mais caro que o grama do ouro. Mas essa é uma questão nacional.

Nas comunidades há muita gente em risco por conta da aglomeração de pessoas em espaços confinados e do pouco acesso a possibilidades de higienização. 

Muitas casas não têm água, esgoto ou energia. E olha isso: aqui na Zona Leste, a 10 minutos da Radial Leste, uma das maiores avenidas de São Paulo, a água é cortada sistematicamente todas as noites das 21h às 6h. Há lugares totalmente sem água, como o Complexo do Alemão e outras comunidades mais distantes dos centros, passam-se dias sem água!

Em meio a esse cenário caótico, pessoas lutam contra a onda de ações desumanizadas. Nadando contra a maré, captam recursos, unem-se para criar opções de máscaras protetoras usando tecnologia 3D, criam projetos como o da Opensource, que desenvolve respiradores de baixo custo, ou como a Agorize, que lança desafios e premiará ideias para solucionar problemas deste momento que vivemos.

Há também grupos criando pias e móveis para os moradores de rua; fazem “vaquinhas” para coletar dinheiro e comprar comida, roupas e artigos de higiene: https://asastest.catarse.me/artesas_da_periferia_resistindo_ao_corona_2670; https://www.catarse.me/por_uma_quarentena_mais_justa_9f02?ref=ctrse_explore_featured_big). 

Nas comunidades negras, o Movimento Black Money traz o convite “compre de preto”, lutando para mover a economia das regiões, garantindo o mínimo de recursos e até mesmo aceitando escambos. Criaram inclusive um “manual de guerrilha”.

E você, o que tem feito para ajudar quem realmente precisa? Existem várias formas de nos conscientizarmos das dores dos outros, basta olhar um pouco para fora ou dar alguns cliques na internet. Visitem @razoesparacreditar e se inspirem!