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O ano que o mercado audiovisual se reinventou

O impacto do Covid-19 tem sido imenso e acelerou o processo de transformação digital em todas as esferas, todos os mercados, e no audiovisual não foi diferente.


Eu trabalho há 25 anos no cinema ou no mercado de filmes publicitários e cinematográficos.

Ainda filmava com película, quando chegaram as câmeras digitais, mudando toda a forma de filmar, trazendo um jeito novo de olhar pela lente, novas cores, novos detalhes, novas tecnologias, deixando para trás o charme da película cinematográfica. 

De repente, tudo ficava mais vivo, saltando diante das diferentes lentes. E assim, todos foram se adaptando, reaprendendo a filmar, as equipes já não colocavam mais os filmes nas latas, e sim nos HDs. 

As câmeras foram ficando cada vez melhores, e o medo de estar fazendo um vídeo e não cinema, foi sendo deixado de lado, pois até filmes publicitários eram feitos com película. 

Na verdade, esses eram os tipos de filmes que movimentavam o mercado cinematográfico brasileiro por volta dos anos 90. Muito mais do que filmes longa-metragens, a produção de filmes publicitários era fantástica. 

Com a película dando lugar às câmeras digitais, fez-se com que diminuísse muito o custo de produção de um filme publicitário, o digital foi tomando conta e democratizando o mercado, com seus diferentes equipamentos, desde um mais acessível aos mais sofisticados. Chegamos a um ponto em que, hoje, é possível filmar com o próprio celular.

2020 chegou com força total, e com ele a pandemia de uma doença que atingiu o mundo todo, o Covid-19. O impacto tem sido imenso e acelerou o processo de transformação digital em todas as esferas, todos os mercados, e no audiovisual não foi diferente.

Mas, o que poderíamos fazer diante de um quadro onde não podíamos nos reunir, todos deveriam ficar em suas casas, isolados, sem tocar em ninguém de fora do seu círculo de convivência de dentro da sua casa, sem se abraçar, sem socializar, mantendo a distância? 

O Brasil entrou em quarentena. Tudo fechou, bares, restaurantes, parques, shoppings, lojas de rua, até consultórios médicos, clínicas, muitas pessoas foram dispensadas, pequenas e micro empresas fecharam, para sempre, outras resistem com ajuda do governo, de bancos ou com reservas, e outras se reinventaram e estão conseguindo se manter e até crescer em meio a um cenário mundial caótico,

Mas, de forma surpreendente algumas produtoras começaram rapidamente a se mover rápido,cheias de incertezas, e iniciamos as filmagens remotas, de longe, à distância, e com a minha empresa, a Confeitaria Filmes, não foi diferente. 

Um novo modo de produzir filmes jamais pensado para um mercado tão vivo, acostumado a trabalhar com grandes equipes, muitos profissionais que se conhecem há tantos anos, amizades construídas dentro de estúdios ou filmando nas madrugadas e fins de semana, nas ruas das grandes cidades, como São Paulo. 

De uma hora para outra as equipes estavam do outro lado de um computador, cada um em suas casas, equipes super-reduzidas, e do outro lado nem sempre haviam modelos ou atores e atrizes, e sim técnicos que passaram a atuar em publicidades para que as marcas não deixassem de vender os seus produtos, para que as produtoras não deixassem de produzir, e os profissionais freelancers não ficassem sem seus cachês, para que o mercado não parasse de vez e muitas pessoas perdessem seus trabalhos, sendo ainda mais prejudicadas por conta da pandemia.

Esse novo jeito de produzir e fazer acontecer nos mostrou que temos muito a inovar no mercado audiovisual. É possível fazer filmes publicitários de diferentes formas, é lindo filmar com uma Alexa, uma das melhores câmeras do mercado mundial, em um cenário primoroso, com figurino perfeito, maquiagem maravilhosa, com direção de arte e fotografia em plena harmonia que fazem os olhos brilharem. 

No entanto, apesar de tudo ter ficado um pouco mais simples para a produção e o mercado ter abraçado esse novo modus operandi, sem tantas exigências, com pouca verba, perante a realidade, o outro lado dessa inovação não foi tão bacana para muitos profissionais que acabaram ficando de fora disso tudo, sem trabalho, sem expectativas. E esse é um grande detalhe a se pensar.

Como incluir o maior número de profissionais, técnicos cinematográficos, nesse tipo de filmagem remota? Temos um belo desafio, uma bela questão a ser solucionada.

Hoje, após quatro meses do início da quarentena, as esperanças retornaram ao mercado paulistano, com a permissão para filmar em locais privados e abertos, desde que se faça uso dos protocolos de segurança. 

Não vamos deixar de fazer filmes incríveis, mas agora sabemos que eles podem ser realizados de forma diferente, quando necessário, e que o mercado ainda pode repensar o modelo atual de produção, abrindo-se cada vez mais para novas possibilidades, de forma ágil e segura e brilhante como sempre.

Eu, Kelly Castilho, mulher negra, mãe, cineasta, empresária, fundadora da Confeitaria Filmes, da Pas de Chat Couture e do Africa.Br Contemporary Institute, participo da Ocupação Promoview.