
Neste mês de julho, celebramos o Dia Mundial da Escuta — inclusive fiz um post sobre isso! E aproveito para reforçar: falhas no som são, de longe, as que mais comprometem a percepção de qualidade de um evento. Seja no microfone que falha, no delay de uma transmissão híbrida ou na música ambiente mal escolhida, o som afeta diretamente a conexão emocional entre palco e plateia, marca e público.
Em eventos transmitidos ao vivo, por exemplo, a voz clara (sem ruídos ou atrasos) é o principal canal de conexão com o público remoto. Se a imagem cair, o som sustenta. Mas… e se o som cair? Por quanto tempo conseguimos acompanhar um conteúdo apenas por leitura labial ou linguagem corporal?
O som vai além. Ele é um recurso estratégico em ativações, principalmente em lançamentos de produto ou experiências imersivas. Música, ambientações sonoras e vozes bem escolhidas transformam qualquer evento — como já comentou por aqui o DJ Myrrha, que defende a criação de atmosferas envolventes.
Em um mundo cada vez mais visual, o meu sempre foi mais auditivo. Talvez por isso, quando ainda na faculdade mergulhei nos estudos de Semiótica, fiquei fascinada por Roland Barthes, que dizia: “A escuta é o lugar onde o sentido se constrói”.
De fato, o som tem alto poder de evocação emocional. Ele é processado primeiro pelo sistema límbico — região ligada à emoção e sobrevivência (amígdala, hipocampo) — e, por isso, ativa reações mais rápidas e instintivas que a visão.
Para se ter uma ideia, o cérebro reconhece um som familiar em apenas 0,05 segundo, enquanto precisa de 0,1 a 0,13 segundo para reconhecer uma imagem. Ou seja, o som é mais veloz para despertar atenção, memória e emoção.
Quando bem pensado, o som gera: emoção imediata, atenção seletiva, memória auditiva e reação corporal (como o susto causado por um som alto, por exemplo). São oportunidades que muitas vezes desperdiçamos ao priorizar apenas a identidade visual e negligenciar a identidade sonora.
Se o evento tem um KV (key visual), por que não também um “KS” (key sound)? Imagina um evento com uma identidade sonora à la “Tudum” da Netflix? Ou com a logo do cliente aplicada em uma vinheta sonora de boas-vindas? Detalhes assim tem mais chances de eternizar a experiência do público.
Uma pesquisa da Kantar BrandZ de 2023 reforça isso: marcas com identidade sonora bem desenvolvida têm 76% mais Brand Power e campanhas que usam ativos sonoros são percebidas como 138% mais eficazes pelos consumidores.
Mas nada disso funciona sem uma base sólida: a escuta ativa.
Não basta promover um bom som no evento. É preciso ouvir com intenção. Ouvir o cliente, a técnica, a equipe, o público – e até a si mesmo. A escuta é a primeira etapa de uma entrega sonora precisa. Ela compreende o contexto, respeita a mensagem e honra a jornada emocional desejada.
Uma equipe que escuta ativamente desde o briefing constrói narrativas mais relevantes, menos genéricas e mais estratégicas. Roteiristas que o digam!
Acho que já ficou claro: nos bastidores de qualquer evento memorável, há um protagonista invisível — o áudio. E ele merece tanto cuidado quanto o palco, a luz ou a cenografia.
No mundo líquido de Zygmunt Bauman, onde tudo é fluido e incerto, a escuta se torna um ato de ancoragem. Ela fortalece a presença em tempos de dispersão, constrói vínculos duradouros e promove experiências de pertencimento.
Escutar profundamente é, hoje, um gesto contracultural e, por isso mesmo, vital. É na escuta que encontramos nossa própria voz. E é nesse gesto criativo que cumprimos nosso papel: transformar a vida das pessoas através dos eventos.

Eventos
Com 25 anos de experiência na área da Comunicação, Adalgisa Pires tem formação em Jornalismo e Artes Cênicas. É pós-graduanda em ”Neurociência do Comportamento" e "Neurocomunicação: Estratégias para Narrativas de Impacto“. Apresentadora e mediadora de eventos corporativos presenciais, híbridos e online - em português, inglês e espanhol, é também especialista em identidade de voz para marcas e produtos nacionais e internacionais. Há dez anos, é a voz oficial do Discovery Home & Health no Brasil. Além disso, teve passagens por emissoras de TV do Warner Bros Discovery Group e rádios como Eldorado e Antena 1.
Com 25 anos de experiência na área da Comunicação, Adalgisa Pires tem formação em Jornalismo e Artes Cênicas. É pós-graduanda em ”Neurociência do Comportamento" e "Neurocomunicação: Estratégias para Narrativas de Impacto“. Apresentadora e mediadora de eventos corporativos presenciais, híbridos e online - em português, inglês e espanhol, é também especialista em identidade de voz para marcas e produtos nacionais e internacionais. Há dez anos, é a voz oficial do Discovery Home & Health no Brasil. Além disso, teve passagens por emissoras de TV do Warner Bros Discovery Group e rádios como Eldorado e Antena 1.