Outro dia, conversando com colegas nos bastidores, uma pergunta: hoje, qual o papel do Mestre de Cerimônias em um evento? A resposta veio nos olhares atentos de quem já viu palco virar tela, script virar improviso e a emoção do “ao vivo” atravessar fronteiras e fones de ouvido.
Estava entre produtores e comunicadores e entramos num consenso: se antes o “MC” era aquele que lia nomes e passava o microfone, hoje ele é (ou deveria ser) um ponto estratégico que promove segurança tanto para o cliente, como para a equipe técnica e os próprios participantes, zelando pela comunicação do evento como um todo e sendo responsável pela conexão entre marca e plateia, conteúdo e experiência, razão e sentimento.
Há tempos que já não basta boa voz e se “vestir bem e de acordo com a ocasião”. É preciso ter presença: saber ocupar um espaço com intenção, sustentar o silêncio e costurar sentidos com a fala.
Conduzir um evento vai tão além de seguir um roteiro ou saber usar um “tp” (teleprompter)… É mais do que entender como atuar em um evento phygital, triangulando com os olhos da plateia e as lentes da transmissão “ao vivo”. É criar ritmo, dar vida ao que está no papel (ou no tablet) e ajustar a bússola “conforme o vento” — ou conforme a sala, o público, o clima, o imprevisto.
E a tecnologia virou nossa parceira de cena. E que cena!
A própria inteligência artificial nos ajuda a ajustar roteiros e tons, revisar pronúncias, criar situações mais envolventes. Já nos utilizamos de avatares, holografias, gamificação, realidade aumentada, realidade virtual! Mas para promover a tão desejada “imersão” nos eventos, é essencial ter uma noção mais ampliada sobre presença cênica e ter corpo e mente dispostos para contracenar — isso exige mais do que técnica: exige escuta, timing e generosidade.
O valor do improviso com consciência e responsabilidade
Quantas vezes já vi colegas virarem o jogo com um sorriso, uma sacada de humor, um olhar empático no meio de uma crise técnica? Esses são os momentos que não cabem num briefing e é neste momento que a presença do mestre de cerimônias se justifica.
Cada vez mais, o MC deixa de ser uma peça neutra para se tornar um agente narrativo. Alguém que entende o porquê daquele evento existir, que amarra os blocos com intenção e não apenas com transições ensaiadas; que escuta antes de falar; que lê nas entrelinhas; que, acima de tudo, tem sensibilidade para perceber onde está o fio condutor e capacidade para segui-lo.
Soft skills: não tão “soft” assim
Recentemente tenho lido e ouvido muito sobre como as tais soft skills serão imprescindíveis no futuro do trabalho: comunicação empática, escuta ativa, adaptação rápida, pensamento crítico. Termos que parecem vagos, mas que, na verdade, definem, na prática, se o evento vai “ter alma” ou não.
Não é sobre falar bonito. É sobre saber quando calar, como acolher, o que reforçar. É sobre sentir o ambiente – seja presencial ou virtual – e responder a ele com humanidade. E vai ser tornar cada vez mais difícil desenvolver essas habilidades, se não nos voltarmos ao aprendizado contínuo, dispostos a aprender e reaprender todos os dias!
O futuro não é substituição. É expansão.
Já ouvi colegas perguntando se seremos substituídos por IA – eu mesma já me fiz essa pergunta algumas vezes! Penso que o que veremos (ou melhor, já estamos vendo) é um novo perfil de Mestre de Cerimônias: mais preparado, mais estratégico, mais colaborativo. Profissionais que usam IA para potencializar o conteúdo, não para terceirizar a presença. Que aliam repertório a dados.
Por trás de toda a técnica, do figurino impecável ou do ponto eletrônico, o que realmente conta é o que o público sente. E isso ainda passa pela nossa capacidade de criar vínculo. De traduzir ideias em encontros. De transformar um cronograma em experiência.
Enquanto houver histórias a serem contadas, marcas querendo tocar pessoas e plateias buscando sentido, haverá espaço para verdadeiros COMUNICADORES. Não como peças decorativas ou, como poeticamente se costuma dizer, “pontes entre mundos”, mas como guardiões da narrativa, curadores da experiência e, cada vez mais, estrategistas da comunicação pretendida!
Comunicação
Com 25 anos de experiência na área da Comunicação, Adalgisa Pires tem formação em Jornalismo e Artes Cênicas. É pós-graduanda em ”Neurociência do Comportamento" e "Neurocomunicação: Estratégias para Narrativas de Impacto“. Apresentadora e mediadora de eventos corporativos presenciais, híbridos e online - em português, inglês e espanhol, é também especialista em identidade de voz para marcas e produtos nacionais e internacionais. Há dez anos, é a voz oficial do Discovery Home & Health no Brasil. Além disso, teve passagens por emissoras de TV do Warner Bros Discovery Group e rádios como Eldorado e Antena 1.
Com 25 anos de experiência na área da Comunicação, Adalgisa Pires tem formação em Jornalismo e Artes Cênicas. É pós-graduanda em ”Neurociência do Comportamento" e "Neurocomunicação: Estratégias para Narrativas de Impacto“. Apresentadora e mediadora de eventos corporativos presenciais, híbridos e online - em português, inglês e espanhol, é também especialista em identidade de voz para marcas e produtos nacionais e internacionais. Há dez anos, é a voz oficial do Discovery Home & Health no Brasil. Além disso, teve passagens por emissoras de TV do Warner Bros Discovery Group e rádios como Eldorado e Antena 1.