
O Brasil tem desempenhado um papel-chave na estratégia global da Adobe — especialmente no que diz respeito à adoção da inteligência artificial (IA) no processo criativo. É o que contou Vitor Gomes, gerente sênior de Marketing e Produto da Adobe, em entrevista exclusiva ao Promoview.
Responsável por conectar as diretrizes da matriz americana à realidade da América Latina, o executivo celebra a criatividade nacional e compartilha como a recepção brasileira às novas tecnologias tem servido de referência para outras regiões.
“O Brasil foi meio que a escola para os Estados Unidos quando o assunto é receptividade à IA”, afirma Vitor. “Estamos sempre entre os top 3 em uso das ferramentas, junto com Índia e Indonésia. Isso mostra que o criador brasileiro não só é criativo, como também está aberto à inovação”.
No cargo de PMM (Product Marketing Manager), Gomes atua como ponte entre o time global e os usuários latino-americanos. Seu foco atual é o Photoshop e o Acrobat, incluindo iniciativas que garantam a presença de brasileiros em betas privados e públicos. Por exemplo, a futura versão do Photoshop para Android, voltada especialmente para mercados mobile-first como o Brasil.
Responsabilidade criativa em primeiro lugar
Se por um lado a concorrência com soluções mais acessíveis, como Canva e Figma, pressiona o mercado, por outro a Adobe aposta na responsabilidade como diferencial. O Firefly, por exemplo, motor de IA generativa da marca, é treinado com imagens licenciadas do Adobe Stock, garantindo o pagamento de royalties aos criadores e o respeito aos direitos autorais.
“A Adobe não tem pressa em ser pioneira. Ela quer ser responsável. Preferimos demorar mais para calibrar a diversidade de uma imagem gerada por IA do que lançar algo sem critério. Tem mesa de reunião com homens, mulheres, pretos, brancos, muçulmanos. Outros modelos não entregam essa diversidade.”
Vitor Gomes, gerente sênior de Marketing e Produto da Adobe
Além disso, as criações feitas com Firefly trazem metadados via a tecnologia content credentials, que indicam a origem do conteúdo gerado — uma forma de combater a desinformação e proteger o trabalho autoral.
Criatividade democrática e multigeracional
Parte essencial do trabalho de Vitor é manter um diálogo constante com o público final da Adobe. Ele busca entender de perto as dores e demandas dos criadores — desde freelancers até equipes maiores — e leva esses insights para dentro da companhia. Recentemente, ele tem conduzido um mapeamento informal sobre percepção de valor e preço dos produtos. Esse processo de escuta ativa ajuda a ajustar estratégias para o mercado brasileiro.
A democratização da criatividade é outro pilar que guia a Adobe na região. Produtos como o Adobe Express têm o objetivo de alcançar usuários iniciantes e criadores de conteúdo mobile com soluções gratuitas e fáceis de usar.
Vitor destaca também como diferentes gerações estão aderindo à IA: “A nova geração já usa a IA desde o começo. Mas até os ‘Adobe lovers’ mais antigos estão começando a testar, ver que economiza tempo e ajuda a pegar mais projetos”.
A acessibilidade linguística também é pauta: apenas 5% da população brasileira fala inglês fluentemente, de acordo com levantamento da British Council — o que reforça a importância de interfaces e materiais localizados.
Olhar para comunidades e eventos
Para além da tecnologia, a conexão com as comunidades criativas também é central para a Adobe. Iniciativas como o CreativeMornings, por exemplo, uma série mensal gratuita de palestras no café da manhã projetada para comunidades criativas, colaboram para construir essa relação. O CreativeMornings não é realizado pela Adobe, mas por vezes acontece nas dependências da empresa, em especial na sede de Santos. “É uma cidade com uma comunidade muito forte para gente”, explica Vitor.
Atualmente, a Adobe participa mais de eventos externos, em detrimento a ter seus próprios eventos prioritários. Mas há um desejo da marca de investir cada vez mais nesses encontros. Em abril, o Adobe Summit aconteceu pela primeira vez no Brasil, dias após a edição em Los Angeles.
Ainda sobre comunidades, Vitor diz que a marca ainda enfrenta um desafio de segmentação no Brasil, enquanto internacionalmente essa estratégia está mais avançada. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem times dedicados a comunidades específicas como a do Photoshop ou do Lightroom, o que permite uma atuação muito mais focada e assertiva. Esses grupos compartilham com ele o que funcionou ou não em suas regiões, ajudando a moldar estratégias para a América Latina.
No entanto, essa granularidade ainda não é possível por aqui, onde o mercado é tratado de forma mais unificada, o que dificulta a adaptação precisa das ações para perfis distintos de usuários criativos.