O Promoview chegou a noticiar três acidentes em eventos apenas durante o mês de junho e julho. Primeiro o caso da Arena Albatroz, depois o incêndio do palco principal da Tomorrowland, na Bélgica e, por fim, a queda da arquibancada da Expo Eldorado, no interior de São Paulo. Além disso, um painel de LED também desabou em um rodeio em Rio Negrinho, Norte de Santa Catarina.
Em 2024, a Associação Brasileira de Eventos (ABEOC) divulgou que o número de acidentes em eventos aumentou 15% nos últimos cinco anos. Isso conforme a indústria cresce e se diversifica, mas outros fatores também podem acrescentar na lista de motivações.
“Atualmente, a ocorrência de incidentes em grandes eventos cresce por uma combinação de fatores sistêmicos no mercado: prazos cada vez mais apertados e montagem em janelas reduzidas, que comprometem a qualidade e segurança do processo. A pressão para atender orçamentos enxutos favorece a competitividade por preço, o que leva à contratação de equipes reduzidas ou com menor experiência”, explica a Modale Cenografia.
O senso de urgência é fruto do pós-pandemia, já que os eventos presenciais são uma das principais formas para as marcas se conectarem com o seu público, causando uma pressa generalizada, conforme elucida Bruna Gal, Diretora Artística e Idealizadora do Mulheres na HouseMix: “profissionais, clientes e agências voltaram a atuar num cenário mais intenso, muitas vezes sem o devido planejamento ou fiscalização adequada. Acho que depois da pandemia o setor deu uma afrouxada… E agora está tentando se reorganizar”.
Ela também traz a diminuição de custos como um dos principais causadores dessa precarização: “Além disso, a principal causa que observo é a redução de orçamento. Os recursos estão cada vez mais escassos e os prazos mais apertados, o que compromete diretamente a segurança — principalmente na montagem e na realização de testes técnicos fundamentais”.
Mesmo na desmontagem, os riscos ainda continuam e, por vezes, com equipe e tempo ainda menores. “Além disso, há muita improvisação, por exemplo, uso de escadas em vez de equipamentos adequados, operadores sem habilitação e logística precária em espaços com acesso restrito, o que gera estrangulamento nos fluxos de circulação. A falta de coordenação central e supervisão on‑site também contribui para que pequenos erros se tornem acidentes graves”, diz a empresa de cenografia.
Medidas negligenciadas
A negligência com medidas básicas de segurança ainda é uma realidade preocupante no setor de eventos. Segundo a Modale, o uso inadequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) segue como uma das falhas mais recorrentes. “Capacetes que não se ajustam bem, cintos mal posicionados ou botas de baixa qualidade fazem com que os profissionais abandonem os equipamentos ou os utilizem de forma incorreta, especialmente nos momentos críticos da operação”, comenta.
Outro ponto alarmante é a falta de treinamento formal e consistente entre os prestadores de serviço, agravada pela terceirização excessiva e sem critérios técnicos, o que resulta em equipes despreparadas para seguir protocolos básicos de segurança. “Muitos contratantes sequer exigem documentação de habilitação ou fazem checklists técnicos. Com isso, a responsabilidade acaba recaindo apenas sobre as equipes de campo, que nem sempre estão preparadas para lidar com imprevistos ou prevenir riscos de forma ativa”, alerta Modale.
O problema é que, muitas vezes, tudo isso fica bonito apenas no papel. Na prática, a fiscalização falha e a responsabilidade é empurrada de um lado para o outro. Para piorar, a pressa e a pressão por orçamentos baixos fazem com que agências e clientes priorizem a entrega rápida em vez da segurança. E como sabemos, o barato e o rápido costumam sair caro — especialmente quando colocam vidas em risco. (…) Tem muita gente e muitas medidas de segurança sendo implementadas, cada vez mais. Mas, no fim das contas, tudo gira em torno do dinheiro.
Bruna Gal, Diretora Artística e Idealizadora do Mulheres na HouseMix
Formas de prevenção
De acordo com a Diretora Artística, os acidentes poderiam ser evitados se fosse possível seguir as boas práticas de montagem e produção, o que acaba não ocorrendo. “O problema é que muitas vezes o tempo é tão apertado que as equipes não conseguem trabalhar com segurança. Se os prazos fossem mais justos e o planejamento respeitasse o ritmo das pessoas e das entregas, a realidade seria outra. Segurança começa no planejamento — e não dá pra correr com estrutura, elétrica, altura, sem testar ou revisar. É o básico, mas ainda falta compromisso com ele”, relata.
Bruna ainda destaca que, quando o planejamento é levado a sério, o resultado é outro. “Já vi, por exemplo, montagens que funcionaram super bem porque tinham cronograma bem dividido, horários de descanso para a equipe, testes técnicos antes de abrir ao público e até briefing de segurança. Todo mundo sabia o que fazer e com quem contar. O evento rolou lindamente. Não é mágica — é organização e responsabilidade com o cliente e principalmente com as pessoas que trabalham no projeto”.
Por fim, a profissional compara o cenário brasileiro com o de outros países, onde os processos são mais sérios e estruturados. Aqui, segundo ela, ainda prevalece o “jeitinho” e a falta de alinhamento: “Tem vezes em que a gente nem sabe o briefing, nem vê nada. Já cheguei em evento sem saber o que vai acontecer. A agenda muda, o palco troca de lugar… Falta planejamento, falta bom senso. No fim das contas, o que falta mesmo é profissionalismo”.
Boas Práticas da Modale
Como dito anteriormente, boa parte dos acidentes poderiam ser evitados seguindo fatores como organização, atenção nos detalhes e processos bem definidos. Pensando nisso, a Modale montou uma lista com as 10 boas práticas de montagens e produção para trazerem mais seguranças para todo o setor. Confira abaixo:
- Planejamento com cronograma viável para montagem e desmontagem;
- Equipe de produção dedicada à segurança e à fluidez da operação;
- Briefing de segurança com todos os envolvidos antes do início das atividades;
- Checklists técnicos e operacionais validados em campo;
- Dimensionamento correto da equipe, inclusive para desmontagens;
- Operadores habilitados e equipamentos revisados;
- Calculo estrutural e documentação com responsável técnico validando a estrutura;
- Treinamento contínuo, inclusive com prestadores e equipes terceirizadas;
- Mapeamento e análise prévia dos riscos de cada projeto;
- Cultura ativa de prevenção, onde todos são responsáveis por todos.