No dia 20 de julho, é celebrado o Dia do Mestre de Cerimônias, uma data oficial não só no estado de São Paulo, mas também em Goiás, Espírito Santo, Distrito Federal, Alagoas, Santa Catarina, Roraima e Maranhão. Mais do que uma homenagem simbólica, esse reconhecimento destaca o papel essencial de quem conduz, conecta e promove a comunicação nos eventos.
Muito além de apenas anunciar nomes e controlar o cronograma, o MC é o responsável por dar o tom da experiência, garantir fluidez na comunicação, apresentar autoridades e convidados, criar pontes entre público e conteúdo e, claro, gerenciar imprevistos. Muitas vezes, torna-se a voz oficial da marca ou organização que representa, contribuindo diretamente para o impacto e o êxito do evento.
E com a IA?
Hoje, a IA já está profundamente inserida nos bastidores dos eventos: planejamento, roteirização, tradução simultânea, produção audiovisual. Mas ela começa a ganhar espaço também no palco. Avatares, hologramas e até robôs apresentadores estão deixando de ser ficção científica para se tornarem realidade.
Um exemplo emblemático aconteceu em abril deste ano, na abertura do TEDx Vancouver, quando o robô Neo, desenvolvido pela startup 1X Technologies em parceria com a OpenAI, subiu ao palco na abertura para receber o público. Claro que tudo não passava de uma encenação, mas ficou claro ali que muitas são as possibilidades num futuro próximo.
Adalgisa Pires, jornalista e atriz com 15 anos de atuação em eventos corporativos, acredita que não há como conter o avanço tecnológico, tampouco a velocidade com que ele acontece. Para ela, o caminho mais sensato é o do letramento, que permite compreender e integrar essas novas linguagens de forma estratégica e consciente ao universo dos eventos.
“Em 2022, na Expo Dubai, foi marcante ver vozes digitais, hologramas e avatares conduzindo experiências e cerimônias — um claro sinal de que o futuro já estava em curso”, relembra. “Não temo a inteligência artificial porque compreendi que o pensamento crítico é a habilidade mais valiosa do futuro do trabalho. Ele é a base que sustenta outras competências essenciais como a alfabetização tecnológica, a criatividade, a adaptabilidade, a colaboração. Sem pensamento crítico, corremos o risco de nos tornarmos apenas mais uma estatística na chamada ‘Era da Estupidez’.”
Especializada em comunicação estratégica e atualmente dedicada aos estudos de Neurociência do Comportamento e Neuro Comunicação, Adalgisa destaca que o MC hoje, não é mais uma pessoa com boa voz e oratória, mas sim uma peça estratégica que contorna reações, administra eventualidades e gerencia a entrega do conteúdo:
“Liderar plateias e representar marcas ao vivo é uma responsabilidade que vai muito além da técnica. Exige senso crítico, empatia e timing — atributos profundamente humanos, que a IA não consegue replicar. Cada decisão tomada no palco reverbera no público, no cliente e em toda a equipe de produção. Por isso, mais do que acumular informações, é preciso sabedoria. A inteligência artificial pode até vencer em velocidade e volume de dados, mas o discernimento ainda está fora do seu alcance”.
A diretora artística Bruna Gal afirma que desenvolver, criar e dirigir experiências faz parte de sua essência e que já presenciou muitas situações em plenária onde a IA não daria conta!
“Ela pode até substituir trabalhos repetitivos e responder rápido com uma precisão invejável, mas a percepção do momento presente ela não tem e, por isso, não consegue fazer a leitura do ambiente – seja da energia da plateia, seja dos bastidores! Ela toma a decisão pelo que foi aprendido e não pelo que foi sentido. Isso um bom MC faz com o pé nas costas e, por vezes, salva o evento!”
Enquanto profissionais da comunicação seguem em constante atualização para acompanhar as transformações do setor, a categoria também se movimenta politicamente: o Projeto de Lei 5455/16, que visa regulamentar a atuação do Mestre de Cerimônias, já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e segue agora em análise no Senado.
Anderson Amaury, mestre de cerimônias e celebrante social, é o fundador do Novo Cerimonial — entidade que há mais de dez anos atua pela valorização e regulamentação da atividade. Ele explica que o dia 20 de julho foi escolhido como data oficial da celebração por ter sido o dia do primeiro encontro da entidade na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 2015.
“De lá pra cá, tivemos muitas conquistas, como São Paulo se tornar o primeiro estado do país a instituir um dia oficial para homenagear o Mestre de Cerimônias”, afirma.
Para ele, apesar dos avanços tecnológicos, o papel humano segue indispensável: “Nada substitui o fator humano. Um evento precisa de alma — e é o Mestre de Cerimônias quem comanda esse fluxo invisível de sentimentos, ritmo e presença. A IA é, sim, uma aliada poderosa, mas o protagonismo é humano.”
Num cenário em que tecnologias avançam a passos largos, o papel do Mestre de Cerimônias não perde relevância – pelo contrário, ganha novas camadas de responsabilidade e reinvenção.