
Era da informação e era do ruído. Economia da atenção e também da distração. Sociedade do desempenho e do cansaço. Há muitos conceitos relevantes para pensarmos as especificidades e as complexidades dos nossos tempos.
Herbert Simon, Nobel de Economia, já alertava nos anos 70: “uma abundância de informação cria uma escassez de atenção”. Ou seja, em um mundo onde há mais informações do que tempo para consumi-las, a atenção humana é um bem incontestável!
Num cenário dominado pelo “scroll infinito”, como capturar – e manter – a atenção de uma audiência por 30 minutos em um evento, seja ele presencial ou online?
Antes de buscar respostas, é importante entender como biologicamente acontece a comunicação – soft skill da maior importância quando o assunto se refere às habilidades do futuro do trabalho em tempos de IA.
Neurologicamente, o cérebro processa mensagens, identifica relevância e decide se algo merece ser lembrado. Nosso sistema límbico (responsável pelas emoções) é ativado antes do córtex pré-frontal (responsável pelo pensamento lógico). Em outras palavras, sentimos antes de perceber. Isso significa que uma palestra, por exemplo, para ser memorável e eficaz, precisa despertar sentimentos e emoções numa plateia, e não apenas trazer um conteúdo relevante. É como afirma o neurocientista António Damásio, que por sinal estará no Brasil em agosto para uma conferência (fica a dica!): “não somos seres racionais que sentem, somos seres emocionais que racionalizam”.
No entanto, de nada adianta termos esse entendimento sobre como encantar e prender a atenção do outro, se não compreendemos por que queremos essa atenção e que papel ocupamos no processo comunicativo!
Um outro exemplo de speaker no mundo dos eventos: o Mestre de Cerimônias. Ainda que ele tenha total domínio da mensagem a ser transmitida, se ele não se conhece a ponto de saber administrar ferramentas como seu próprio corpo, sua voz, identificando quais as melhores linguagens a serem adotadas para manter a atenção do público, ele não tem competência para se fazer entender – ponto crucial para que uma conexão se estabeleça. A comunicação eficaz não acontece só na fala – ela depende de como o cérebro da outra pessoa processa o que foi dito.
Em 2024, tive a oportunidade de conversar com Anna Lembke, famosa psiquiatra norte-americana, professora em Stanford e autora do best seller Nação Dopamina. Ela comentou que “ninguém está imune à dependência digital”. Esse vício adoece o cérebro, afetando tanto sua estrutura quanto suas funções, prejudicando áreas responsáveis pelo controle de impulsos, memória, tomada de decisão, regulação emocional e atenção!
Isso me fez avaliar a relação que mantenho com mídias sociais, tidas como as principais vilãs nesta história. Procurei entender meu próprio consumo dos tais “15 segundos” de shorts, stories e, por conta disso, acabei redefinindo a maneira que utilizo o celular, por exemplo. Não podemos almejar ou até exigir a atenção do outro, se nós mesmos não estamos dispostos a zelar pela nossa capacidade de focar e nos concentrarmos por mais de um quarto de minuto!
Eu poderia elencar aqui uma receita com várias orientações para responder à pergunta inicial deste texto: “comece o speech com uma frase de impacto”; “use e abuse do storytelling e do storyliving”; “apele ao senso de pertencimento e personalização”; “torne o conteúdo multissensorial pois mensagens quando simultaneamente visuais e auditivas, por exemplo, têm 30% mais chances de serem retidas”; “recorra à ferramentas tecnológicas imersivas para proporcionar experiências” …
Isso tudo faz sentido e de fato pode funcionar, mas que tal começarmos com as seguintes perguntas:
- Estamos realmente preparados para nos comunicar no “futuro dos eventos”?
- Em um mundo onde, segundo um relatório da Morgan Stanley, em até dez anos teremos mais de 13 milhões de robôs humanoides atuantes no mercado de trabalho, será que nós — profissionais de eventos — compreendemos, de fato, o poder transformador da comunicação?
Mais do que transmitir mensagens, comunicar é definir estratégias, planejar ações, criar experiências, despertar emoções e moldar resultados. Afinal, a comunicação não é só parte do evento — ela é o próprio motor que o move.
Eventos
Com 25 anos de experiência na área da Comunicação, Adalgisa Pires tem formação em Jornalismo e Artes Cênicas. É pós-graduanda em ”Neurociência do Comportamento" e "Neurocomunicação: Estratégias para Narrativas de Impacto“. Apresentadora e mediadora de eventos corporativos presenciais, híbridos e online - em português, inglês e espanhol, é também especialista em identidade de voz para marcas e produtos nacionais e internacionais. Há dez anos, é a voz oficial do Discovery Home & Health no Brasil. Além disso, teve passagens por emissoras de TV do Warner Bros Discovery Group e rádios como Eldorado e Antena 1.
Com 25 anos de experiência na área da Comunicação, Adalgisa Pires tem formação em Jornalismo e Artes Cênicas. É pós-graduanda em ”Neurociência do Comportamento" e "Neurocomunicação: Estratégias para Narrativas de Impacto“. Apresentadora e mediadora de eventos corporativos presenciais, híbridos e online - em português, inglês e espanhol, é também especialista em identidade de voz para marcas e produtos nacionais e internacionais. Há dez anos, é a voz oficial do Discovery Home & Health no Brasil. Além disso, teve passagens por emissoras de TV do Warner Bros Discovery Group e rádios como Eldorado e Antena 1.