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Slacktivismo: a arte de tentar mudar o mundo do sofá

O termo surgiu da união entre as palavras <em>slacker</em> (preguiçoso) e <em>ativism</em> (ativismo), e diz respeito a um comportamento muito comum nas redes sociais.

Por Marcelo Lubisco

O termo slacktivismo surgiu da união entre as palavras slacker (preguiçoso) e ativism (ativismo), e diz respeito a um comportamento muito comum nas redes sociais. Não requer prática, habilidade e muito menos um passado de lutas para que você, ainda que descuidadamente, se torne um militante.

Um pouco de contexto: conflitos e injustiças fazem parte da nossa história desde que o mundo é mundo. Quando passamos a viver em rede, conectados com o que acontece em todo e qualquer canto, experimentamos uma nova forma de existência: o indivíduo se torna de fato um cidadão global. Sua percepção se estende e integra um todo chamado consciência coletiva.

Na medida em que aumenta o acesso à informação e o conhecimento sobre o que nos rodeia, aumenta também o senso de responsabilidade – em outras palavras, somos cada vez mais alertados sobre as dores do mundo, e cada vez mais instigados a tomar uma iniciativa acerca desses problemas.

A internet nos fez enxergar o óbvio e nos mostrou que tem muita coisa acontecendo mundo afora, e que nem tudo são flores. E o mesmo meio que trouxe o problema, trouxe também uma solução: podemos fazer a nossa parte e diminuir a angústia da impotência apertando um botão, demonstrando todo apoio (ou repúdio) a determinada causa.

Faça o teste: quantos apelos a causas nobres você compartilhou nos últimos meses? Vale qualquer coisa: crianças abduzidas em Uganda, atores globais contra uma hidrelétrica no Pará, maldades com animais de rua. Quantos desses você curtiu, compartilhou, comentou ou se posicionou a respeito?

Pois é, slacktivismo, ou ativismo de sofá, é basicamente isso. É o termo utilizado para designar o comportamento das pessoas que, ao se depararem com qualquer causa social, sentem-se participantes, manifestantes ou colaboradores da mesma simplesmente por passá-la adiante de alguma forma.

Os críticos mais contumazes dessa postura afirmam que o ganho do slacktivista é simplesmente uma satisfação, um descarrego de responsabilidades, um sentimento de pertencimento ou outras expressões que designem a velha e boa massagem no ego.

Obviamente o termo assume tom pejorativo, uma vez que aos olhos do mundo, o fazer alguma coisa em relação a qualquer causa soa muito melhor do que o simples ato de falar sobre ela. As pessoas compartilham o que é interessante e isso pode ser uma causa, um vídeo engraçado ou um artigo bacana sobre ativismo de sofá.

Porém, podemos concordar que se compartilhar uma piada não faz de você um comediante, se compartilhar um artigo não faz de você um intelectual, não é compartilhando uma causa que você vai se tornar um ativista e fazer a diferença no mundo, certo? Pois o motivo que me levou a escrever sobre o assunto é que não tenho certeza sobre essa resposta.

Tenho algumas opiniões bem sedimentadas sobre o assunto. Uma delas é que quando a nossa preocupação é com Uganda ou com os golfinhos no Japão estamos nos distanciando de outras questões igualmente comoventes, mas acontecendo bem embaixo do nosso nariz. Isso gera questionamentos sobre o que é melhor: doar alguns dólares para uma causa internacional ou alguns reais para uma instituição da sua cidade?

Por outro lado, se nossas posições sobre determinadas causas não forem compartilhadas, as autoridades não doarão nem um centavo de sua atenção. Grupos lutam por ideais que precisam de apoio da opinião pública para atingirem seus objetivos.

Portanto, grupos lutam por apoio. E, sim, compartilhar uma causa no Facebook ou preencher um abaixo assinado digital é, de certa forma, dar suporte a um ideal, mostrar que você se importa.

O mais próximo de uma conclusão que chego é que os reais defensores de causas precisam tanto daqueles que fazem quanto daqueles que falam. Talvez a importância de um ou de outro seja realmente distinta em prol de quem faz um pouco mais do que apenas passar ideias adiante, mas isso não diminui o papel de quem promove as causas, contribuindo para que mais gente tome conhecimento delas ou pressionando o poder público.

Na dúvida, por que não fazer as duas coisas? Recentemente aqui na Duplo começamos um trabalho junto ao Instituto da Criança com Diabetes (ICD), para divulgar a 14ª Corrida para Vencer o Diabetes.

Se por um lado fizemos toda a campanha, batalhamos fornecedores, parceiros e afins e com isso demos um alcance maior à causa, por outro lado criamos uma campanha interna para efetivamente vender as camisetas da corrida, gerando outro tipo de resultado esperado: os recursos que de fato ajudam a Instituição.

Na campanha que desenvolvemos, temos tanto estratégias para atingir as pessoas mais engajadas, que vão de fato comprar camisetas, como para impactar aquelas que apenas vão passar a ideia adiante. Tudo isso com a certeza de que essas características podem ser, inclusive, duas faces de uma mesma pessoa; e que com uma boa causa e um apelo bacana, ambas podem influenciar o resultado de forma positiva, sem rótulos ou restrições.