Experiência de Marca

Será que errar é "umano"?

O medo de errar é um dos grandes obstáculos ao desenvolvimento humano, seja individual, seja de coletividades. Apesar disso, o método de "tentativa e erro" tem sido responsável por inúmeras descobertas e inovações. Thomaz Edison, considerado um dos maiores inventores da humanidade (registrava uma nova patente a cada 40 dias) tentou mais de mil vezes até ser bem sucedido em seu invento mais famoso: a lâmpada incandescente. E o mais impressionante é que a cada tentativa frustrada ele dizia: "Eu não errei. Apenas descobri uma nova forma do filamento da lâmpada não dar certo".

Américo Marques Ferreira*

O medo de errar é um dos grandes obstáculos ao desenvolvimento humano, seja individual, seja de coletividades. Apesar disso, o método de “tentativa e erro” tem sido responsável por inúmeras descobertas e inovações. Thomaz Edison, considerado um dos maiores inventores da humanidade (registrava uma nova patente a cada 40 dias) tentou mais de mil vezes até ser bem sucedido em seu invento mais famoso: a lâmpada incandescente. E o mais impressionante é que a cada tentativa frustrada ele dizia: “Eu não errei. Apenas descobri uma nova forma do filamento da lâmpada não dar certo”.

Catalogava aquela fórmula e por aquele caminho não passava mais. Ou seja: foram mais de mil tentativas inéditas até alcançar êxito em sua empreitada. Não obstante, seu professor, quando ele era apenas um menino de oito anos, fez a seguinte afirmação: “Este garoto é confuso da cabeça, não consegue aprender, pois é muito agitado e perguntador”.

“Você erra 100% dos chutes que não dá” afirmou o genial Walt Disney. Quantos sonhos são abortados simplesmente pela falta de coragem em dar andamento a uma ideia, ainda que incipiente. Nas organizações, por exemplo, podemos encontrar dois tipos de erro: erra-se por ação e erra-se por omissão. É fácil concluir que os adeptos do erro por omissão constituem um contingente muito maior do que aqueles que se arriscam a errar por ação.

Os omissos orgulham-se em afirmar que jamais cometeram um erro, porém, nunca tiveram a alegria de ver uma ideia sua sendo implementada com sucesso. Por isso mesmo são os primeiros a criticar as sugestões dos outros, preferindo assumir o papel de estilingue a correr o risco de virar vidraça. É uma tremenda contradição esperar que as pessoas sejam inovadoras sem um ambiente de estímulo ao risco e tolerância ao erro.

Outro aspecto importante a considerar nas organizações é como o erro costuma ser tratado: a) buscando um culpando ou, b) como fonte de aprendizado. Na primeira hipótese, a pessoa que erra é transformada em “bode expiatório” de modo a permitir que os demais se sintam isentos de qualquer responsabilidade pelo erro cometido.

Por outro lado, em organizações cujas culturas estimulam o empreendedorismo, o erro passa a ser visto de forma positiva, de vez que se pode aprender com tais iniciativas falhas, seja como ponto de partida para outras experiências bem sucedidas, seja a fim de evitar que tais erros venham a se repetir.

No livro “Besteiras Administrativas”, de Mark Eppler, encontramos os seguintes fatores negativos relacionados a pratica de se atribuir culpa:   ·A culpa nunca afirma, ataca. ·A culpa nunca restaura, fere. ·A culpa nunca resolve, complica. ·A culpa nunca une, separa. ·A culpa nunca sorri, franze a testa. ·A culpa nunca perdoa, rejeita. ·A culpa nunca constrói, destrói.

O perfeccionismo é outro fator que impede as pessoas de lidarem com o erro de forma positiva. Tal postura revela um processo de auto-sabotagem decorrente da falta de auto-aceitação. Costumo comparar os perfeccionistas àqueles que se propõem a alcançar a linha do horizonte, trilhando um caminho de não chegar, pois jamais se mostram satisfeitos com qualquer resultado alcançado. Em decorrência, os perfeccionistas padecem de ansiedade, auto depreciação, rigidez, intolerância, insegurança, ressentimento e legalismo.

E como ninguém pode dar o que não tem, os perfeccionistas, insatisfeitos consigo mesmos, acabam por exigir dos demais o mesmo padrão ideal inatingível, deixando de gratificar o esforço alheio com feedbacks positivos. A consequência é a criação de um ambiente persecutório que desestimula qualquer iniciativa em função do risco de vir a ser punido por eventuais erros praticados.

Para lidar com o erro de forma positiva podemos aprender com o processo do brainstorming composto de duas fases distintas: a) Pensamento Divergente – na qual se adota a suspensão de qualquer julgamento, de modo a estimular a maior quantidade de idéias; b) Pensamento Convergente – fase em que se busca analisar e selecionar as melhores ideias com base em critérios judiciosos previamente definidos.

Por desrespeitar este princípio, muitas reuniões se tornam improdutivas, pois mal uma ideia surge é impiedosamente crivada por frases assassinas, como que colocando pesadas pedras sobre tenras plantinhas. Outro grave equívoco é praticado por algumas empresas que, em “Programas de Qualidade Total”, adotam o lema “Faça certo da Primeira Vez”. Trata-se de um princípio adequado a processos repetitivos e rotineiros, porém, desastroso quando se pretende encontrar soluções inovadoras para problemas desconhecidos.

Como no cenário do século XXI as empresas estarão singrando mares nunca dantes navegados, tentar fazer certo da primeira vez é como exigir que Colombo descobrisse a América sem enfrentar a incerteza de sua empreitada. Para evitar a rigidez gerada por tal princípio da Qualidade Total, recomenda-se substituir a utopia da perfeição pelo compromisso com a excelência, entendendo que alguns processos são mais semelhantes a “trilhas” do que “trilhos”, como muito bem descrito pelo poeta espanhol Antonio Machado:   …”Caminhante não há caminho, O caminho se faz ao andar “…

A fim de evitar a falsa impressão de que, neste artigo, estou fazendo a apologia do erro como algo sempre positivo, destaco que são graves e inaceitáveis os erros que ferem princípios éticos e morais, além daqueles cometidos por negligência, imperícia e imprudência.

Feita a ressalva acima, gostaria de concluir citando trechos do poema INSTANTES, que traduz a experiência de vida do escritor argentino Jorge Luiz Borges: Se eu pudesse viver novamente a minha vida, Na próxima eu trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, Seria mais tolo ainda do que tenho sido, (…) Correria mais riscos, viajaria mais, Contemplaria mais entardeceres, Subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, Tomaria mais sorvete e menos lentilha, Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente Cada minuto de sua vida; (…) Eu era um desses que não ia à parte alguma Sem ter um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda chuva e um pára-quedas; Se voltasse a viver, viajaria mais leve. Se eu pudesse voltar a viver, Começaria a andar descalço no começo da primavera E continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, Contemplaria mais amanheceres E brincaria com mais crianças, Se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

Américo Marques Ferreira Consultor Sênior do Instituto MVC, Autor dos cursos E-learning Team Building e Gestão da Mudança

* Américo Marques Ferreira é Consultor Sênior do Instituto MVC e autor dos cursos “E-learning Team Building” e “Gestão da Mudança”.