
A expansão dos shopping centers proporcionou aos clientes ambientes refrigerados, espaços amplos e serviços dos mais diversos. Mas por trás de tantas comodidades, os consumidores sofrem com banheiros sujos, estacionamentos caros, filas em guichês de pagamento, vendedores despreparados, guaritas que não funcionam, falta de informação e até goteiras.
Por uma semana, os serviços dos centros de compras passaram pela “Blitz do DIA“. Equipe do jornal percorreu dez shoppings na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e ouviu muitas queixas de clientes. A principal delas é a cobrança fracionada do estacionamento, que aumentou o valor da tarifa.
O preço abusivo dos estacionamentos está mudando a rotina dos cariocas, que já passam menos tempo no local e param o veículo fora do shopping. “Algumas vezes deixo o carro no supermercado Walmart, que dá três horas de graça, e vou a pé até o Norte Shopping”, diz o taxista Gilberto Marques Sobrinho, 60 anos de idade, que não gostou da mudança no sistema de cobrança.
“Ficou pior depois que a lei foi criada e caiu. Antes pagava R$ 4,50 por seis horas no Norte Shopping. Agora cada meia hora custa R$ 2,50”, queixou-se. Mesmo tentando sair do shopping antes de completar uma hora, para pagar R$ 5, o motorista ultrapassou o prazo por causa da fila para pagamento no guichê: “Acabei pagando ainda mais por culpa deles. Se todo mundo boicotasse e parasse de vir, eles iam ter que baixar o preço”.
A aposentada Ana Amaral, 66, e o contador Alfredo Amaral, 63, deixaram no guichê do estacionamento R$ 28,00 em só duas idas ao Botafogo Praia Shopping. “Gastamos R$ 600 em compras e ainda tivemos que pagar pela vaga”, critica Ana. Entre os dez shoppings, esse tem o estacionamento mais caro por cinco horas de permanência: R$ 10,00.
O estudante de Direito Marcel Daher, 23, desembolsou R$ 15,50 no Nova América: “Viemos fazer trabalho de faculdade e aproveitamos para almoçar e fazer compras. Deixamos bastante dinheiro aqui. Poderiam nos isentar do pagamento”. A ideia é unânime entre os clientes. “Nos mercados, se consumir, o estacionamento sai de graça”, lembra o fotógrafo Ricardo Batista ,46.
Liberdade para escolher o modelo de cobrança
Há um mês, o Tribunal de Justiça do Rio suspendeu a Lei Estadual 5.862/2011, que proibia a cobrança mínima de horas em estacionamento. Mesmo com a decisão, cinco shoppings cariocas informaram que vão manter, por enquanto, esse sistema de cobrança, que encareceu a tarifa. São eles: Barra Shopping, Botafogo Praia Shopping, Tijuca Shopping, Nova América e Norte Shopping.
O Nova América disse que, em breve, vai implantar um sistema “Pague Rápido”, com cartões de recarga de autoatendimento, semelhante ao usado no metrô, para que o motorista não precise entrar nas filas dos guichês de estacionamento.
Segundo o coordenador do Procon-RJ, Carlos Alberto Cacau de Brito, os shoppings ganharam na Justiça todos os recursos contra o consumidor: “Não vão querer abrir mão dessa receita. É muito dinheiro em jogo”.
Famílias mudam de hábitos e prolongam lazer do lado de fora para fugir da cobrança em cascata, os frequentadores de shoppings centers decidiram ficar menos tempo fazendo compras. “Antigamente, eu e minha família costumávamos ficar cinco horas no shopping. Hoje não passo mais de duas horas”, conta o representante comercial Wagner das Neves, 29 anos, que ficou das 10h às 14h no Shopping Tijuca e pagou R$ 7,50.
Ele também decidiu prolongar o lazer do lado de fora do shopping. “No máximo, vamos ao cinema e saímos do shopping para jantar em outro lugar. Sai mais barato”, aconselha. Além de estacionar o carro longe do shopping, a família do taxista Gilberto Marques também diminuiu as idas ao espaço. “Não dá mais para vir muitas vezes. A gente fica uma hora e vai embora”, diz.
Fonte: O DIA.