Experiência de Marca

Não é por causa de 20. É por 75 ou 120

Mas isso eu já tinha falado em textos anteriores. A questão agora é a posição de quem bem poderia ficar calado.

Não é por causa de 20. É por 75 ou 120

Estava me incomodando um certo silêncio de empresários da comunicação quanto às barbaridades dos clientes.

Tanto a galera do advertising quanto do live marketing pareciam anestesiados ou mesmo procurando caminhos negociados, isolados, para ver se livravam suas agências dessa desonestidade, que é pagar por trabalho já feito em entre 75 e 120 dias. Como se esse fosse um problema de cada um.

Aí, leio hoje no Promoview entrevista do Martin Sorrel, CEO da WPP Group, a maior agência de Publicidade (Comunicação) do mundo, com mais de 3.000 escritórios, em 110 países, empregando mais de 162.000 profissionais, dona de Grupos como a JWT, a Young & Rubican e da grande vencedora de P&A de Cannes, a Ogilvy, assumir de público que não somos Bancos e não podemos aceitar essa palhaçada.

A questão, como bem ressalta Sorrel, está no efeito cascata dessa barbaridade de financiarmos indústrias e empresas em suas ações de comunicação como se delas fizéssemos parte, fôssemos um apêndice financeiro. Pior, açoitados por suas áreas de suprimentos e compras que, além de nos imporem recebimentos em prazos aviltantes, ainda pedem, exigem, descontos.

É a mais imbecil, e desonesta, lógica financeira de mercado: você antecipa o pagamento de uma atividade que é minha, estratégica e importante (eu o contratei para isso), leva bronca e esporro o tempo todo de gente incompetente e despreparada para entender o que fazemos, recebe entre três e seis meses depois de ter pago todo evento, campanha ou ação que era do meu interesse, e que eu devia ter  pago, e ainda temos que ver se damos um desconto para esse pagamento. Que Banco ou agiota faria isso pra você?

Mas isso eu já tinha falado em textos anteriores. A questão agora é a posição de quem bem poderia ficar calado. Um gigante da comunicação que poderia se omitir pelo volume que tem e pela condição de negociação, mas que já entendeu o nível do estrago que isso pode causar no mercado.

Ele faz uma convocação implícita a seus pares ao usar a frase Você é tão fraco ou tão forte quanto seu elo mais fraco”, na sua entrevista. É isso mesmo. O nosso silêncio, na perspectiva de que o problema é das agências pequenas, das que não têm lastro, das concorrentes mais fracas, apenas mostra o nosso elo mais fraco: o da desunião.

Lições recentes nas ruas do Brasil já mostraram que, quando nos unimos, não há como os poderosos ficarem indiferentes. Se as vozes discordantes saírem dos grandes, médios e pequenos, dos empresários, profissionais, fornecedores, enfim, de toda cadeia que move o mercado da comunicação, podemos mudar isso sim. E muito mais.

Absurdo moral, jurídico e ético, o que está acontecendo pode ser questionado. Inicialmente por agências em Fóruns apropriados, como o Congresso Brasileiro de Live Marketing, por exemplo, mas também pode ser objeto de manifestações legitimas de agências e profissionais por e-mails, via redes sociais dos clientes, em entrevistas de grandes líderes e textos constantes como este, também por exemplo.

Não somos fracos. Podemos mudar hábitos de pessoas, podemos fazer marcas serem desejadas, podemos interferir no consumo de produtos e serviços e, como dizia uma das frases do Palais em Cannes: “… Por que não podemos mudar o mundo?” Podemos sim, basta nos unirmos.

E não é por 20. É por 75 ou 120… dias. E todo mundo já sabe o que pode acontecer quando se dá motivos justos a quem pode mudar as coisas.