É triste dizer isso. Mas estão acabando com a Criação.
Essa é uma constatação. Não é, de forma alguma, uma ilação ou um texto com título apelativo para a galera ler. A coisa é séria, e vem de muito tempo atrás.
A origem do problema, a meu ver, vem de uma prática que começou quando as agências de publicidade, para fechar contratos anuais com seus clientes, propunham “não cobrar a criação deles”.
É claro que isso era um jogada. Nós sabemos que cliente adora ser enganado e que as expressões tipo “é de graça”, “é um mimo”, “não vamos cobrar”, dentre outras, soam como música suave aos ouvidos dos tacanhos gestores financeiros.
Perguntem a eles se a empresa deles ou eles mesmos trabalham de graça? Já sabem o que dirão. Pois bem. Por que eles acham que o dono de uma empresa séria vai usar um dado insumo de mão de obra e “não vai cobrar por ele”?
É claro que cobravam. Mas o custo era camuflado.
O problema foi que para os criativos das agências esse argumento foi usado para baixar salários. Essa foi a razão pela qual muitos criativos, nessa época, abriram suas próprias empresas ou viraram sócios de outras.
A coisa veio, veio e quando nós do live marketing, ainda como marketing promocional, começamos a ter que usar a criação para entregar projetos, passamos a remunerar os profissionais dessa área com mais carinho.
Nunca a criação live marketing teve tanto espaço e condição para usar potencialmente toda sua capacidade quanto nesse momento. Bons salários, boas ideias, grandes cases.
Essa etapa era parte relevante e inquestionável nos orçamentos. Mesmo porque, nessa época, existiam grandes profissionais de marketing no cliente e eles sabiam muito bem que uma grande ideia (uma grande criação) não tem preço, tem valor.
Mas o tempo, esse algoz mortal, a economia volátil, os exemplos do passado das agências de publicidade e a incompetência e falta de ética do cliente deram sinais de vida no final de 2009, quando uma crise econômica mexeu com todos, em especial com o mercado de comunicação.
Todos sabemos que em momentos de crise econômica os administradores, gênios financeiros e de RH têm sempre a mesma ideia e decisão: demitir gente e cortar marketing e comunicação.
Foi nesse momento que, para trabalhar, as agências ouviram do cliente: criação? não pago. Tira essa linha do orçamento.
Mais uma vez, os bobões espertos fingiram não entender que o custo desse pessoal (que eles não queriam pagar, mas exigiam no briefing – dá para entender?) passou a ser diluído em outras linhas. Afinal, como pagar a área de criação exigida com a frase: queremos identidade visual, ideias fora da caixa e criativas, hein?
O problema é que algumas agências, por força da situação, ou mesmo por burrice, demitiram a criação ou a terceirizaram. As que a terceirizaram ganharam, ao longo do tempo um custo agregado que evitariam com sua criação interna. As que abdicaram dessa área criaram um grande problema para gente.
É que essas agências adotaram a ideia de que o importante era “entregar” (bãh!), criar pra quê? Com o argumento de que a qualidade criativa não importava, tornaram-se as agências do nada, que competiam no preço, baixando-os sucessivamente até quebrarem… para abrirem outra, com outro nome, e começar tudo de novo. Ainda estão por aí, viu.
O cliente, então, com um monte de ideias meia boca vindas dessas empresas, sem ninguém preparado para argumentar tecnicamente sobre layouts e conceitos com ele, começou, ele mesmo, a criar. Aí, fu…..bicou tudo.
Não bastasse a juniorização, o total desconhecimento do live marketing, a empáfia e a mania de que eles são maiores e mais importantes que todo mundo, profissional ou não, o cliente virou… criativo!
Hoje, não raro, é o cliente que diz o que quer, como quer e como vai ser a ideia. Do layout à fonte. Do convite ao palco. Do conceito ao texto.
E não tente argumentar com ele se você, por acaso, apresentar um projeto técnico, fundado num conceito inovador. Ele vai ficar “p… da vida” e vai dizer pro dono da agência que perderam a concorrência porque você quis dar aula para ele. Que isso ele não aceita, porque ele sabe o que faz.
Se sabe, porque não argumenta e questiona? Se sabe, não precisa temer o criativo qualificado. O pior é que donos de agência dão razão ao cliente para não “perdê-lo”. Perder o quê? Quem? Eles já estão perdidos – nos dois sentidos.
Se o evento ou ação, criado por ele, for um sucesso, ele traz pra ele. Se for um fracasso, culpa a agência e suas ideias imbecis e troca-a.
Para agravar tudo isso, um 2014 parado, uma crise econômica provocada por um governo incompetente, e uma eleição de triste final complicaram tudo.
Demissões de criativos, fechamento de agências, parte técnico-criativa dando lugar a menor custo, baixa absurda de salários em todos os níveis (do estagiário ao diretor de criação) afastaram profissionais e liquidaram grandes equipes de criação.
O que sobrou? Pense!
Quantas agências da sua cidade hoje são famosas porque têm uma grande criação? Quais são os grande nomes de criativos do seu mercado? Quem você reconhece como grande talento criativo? Quais, e quantos, de seus jobs podem ser inscritos numa premiação por conta da ideia criativa inovadora, base necessária para inscrevê-los?
Tá pensando? Tá difícil responder? Pois é. Não era difícil responder a duas das perguntas, pelo menos, há uns seis, oito anos atrás. É isso. A criação está na pior.
O que fazer? Como mudar?
Iniciativas como “Os Criativos” da Tati Calvo e do meu eterno parceiro e amigo Dil Mota estão um passo à frente nisso. Vale conferir as entrevistas de grandes criativos do live marketing e da comunicação em geral feitas por eles. Eu recomendo o site do projeto. Você vai conhecer só gente boa e entender o que falo.
Na publicidade, onde grandes criativos são sócios ou donos de agência, cito o Álvaro Rodrigues da DM9 Rio (hoje África), Gustavo Bastos da 11:21, o Marcos Silveira, Fábio Fernandes, João Livi dentre outros putas profissionais que mantém viva a importância da criação publicitária e seu valor.
Matuto aqui com meus botões uma ideia para o Promoview, que antes vou dividir com o Julio Feijó, para valorizar criativos que acho que vão ajudar.
E convidei meu amigo Dil Mota a escrevermos um livro sobre o assunto. O mestre topou e eu vou tirar casquinha, que não sou bobo nem nada.
A Conceito, minha empresa, mantém viva sua criação, ainda que com sérias dificuldades por conta de clientes medíocres. Não abrimos mão da ideia que pode mudar tudo e produzir resultados para o cliente, claro, porque ideia por ideia é arte, tem seu valor, como qualquer ideia, mas somos técnicos. Abrimos mão dos clientes que nada mudam a não ser a nossa paciência, tentando nos mediocrizar também.
Falando ainda no Dil (a orelha deve estar vermelha), ele diz que, hoje, numa agência, só se usa 30% da capacidade dos criativos – verdade. Os outros 70% a gente usa fazendo nossas “artes”. E somos bons nisso.
Entendo que, num ano em que o cliente vai precisar “rebolar” para vender, nós, os criativos, podemos fazer a diferença. Sugiro que, ao invés de esperarmos os briefings, sejamos propositivos e autorais, apresentando novas ideias que provoquem venda.
Duvido que mesmo o cliente medíocre não compre. Mas cobre bem, cobre mesmo, de agência ou cliente, porque eles não tiveram essa ideia, sacou? Valorize-se, experiência própria. Vão pagar, de um jeito ou de outro.
O nosso momento de mudança é esse. Porque, como já dito por alguém, se o momento é de lágrimas, vender lenço é uma ideia espetacular.
É Done, dito e feito. Guardem essa expressão, esse nome. Tem tudo a ver com criação, execução, e, especialmente, resultados para clientes. Tem tudo a ver com o Brasil, em especial como o Nordeste e o Sudeste. Tem tudo a ver com o que falamos aqui.
Por fim, queria deixar uma reflexão a todos:
Vygotsky, um grande educador, em sua obra “ Criação e Imaginação” diz que “é a atividade criadora que faz do homem um ser que se volta para o futuro, erigindo-o e modificando o seu presente.”
Ou seja, se você, cliente ou dono de agência, quiser um futuro no mercado, encontre, rápido, alguém que queira modificá-lo no presente.
O nome dele eu não sei, nem onde está, mas em que área ele vai trabalhar isso eu sei. Vai ser na criação!