O mundo tem se especializado em atender, com produtos e serviços cada vez mais específicos, os mais distintos targets e tribos. Como os kids e os tweens.
A cada ano são lançadas novas soluções, muitas com a proposta de desenvolver habilidades psicomotoras e intelectuais, como determinados brinquedos e jogos, utilizados, inclusive, como atividades de complementação pedagógica.
Cursos, para além dos convencionais, como idiomas e esportes, abarcando desde o miniDJ até o minichef, proporcionando a experimentação com determinadas atividades e profissões de forma lúdica.
Para se promoverem, as marcas vêm remodelando seus modelos de negócio utilizando o edutainment como estratégia de gifting, buscando oferecer educação e entretenimento patrocinados.
Um indício deste pensar são os eventos, que estão aos poucos modificando a forma de se comunicar com as crianças proporcionando experiências práticas como costura, fotografia, culinária, tecnologia, música, artes para além da simples (e nem sempre funcional) distribuição de sacolinhas, chaveirinhos, brinquedinhos e comidinhas.
Há bastante espaço para a evolução deste raciocínio buscando atividades culturalmente pertinentes, mas o importante é a movimentação e o investimento das marcas neste sentido.
É um momento novo e muita mudança está por vir. Falta aos anunciantes a experiência de desenvolver modelos mais inteligentes e contemporâneos no relacionamento com crianças e suas famílias. Tudo ainda é um reflexo da comunicação “para todos”, praticada na era midiática passada.
Bons exemplos? Estimular a prática de esportes, como no Movimento Energia Urbana da Virada Cultural de São Paulo. Um gift e tanto para a população, associado a uma marca e proporcionando uma experiência boa de se guardar da memória.
Com a participação virtual devido ao crowdsourcing e ao cloudsourcing pode-se, como nunca, qualificar o que esta geração conectada, bem informada e acelerada pensa e o que espera das empresas, das entidades, do governo.
E o que querem? Dominar o mundo, como no vídeo We are the Future?
Ou apenas ter um pouco mais de atenção?
A conversa é polêmica.
Associações das mais variadas se reúnem para discutir a causa, pauta de simpósios e de projetos de lei tramitando nas instâncias públicas.
Mas que fique uma coisa clara: consumo é bem diferente de consumismo.
Todos necessitamos consumir para viver, seja alimento, seja educação, cultura, informação, entretenimento, acesso, pertencimento.
Agora, abusos e exessos à parte, se pesquisas indicam que 80% das decisões de compra familiar são influenciadas pelas crianças, realmente milhões de adultos precisam rever os seus conceitos. É uma infantilização do poder de decisão não apenas de mercado, mas da sociedade. Um problema de gente grande, e grave.
Pense bem: tudo vale à pena se a mente não é pequena.
Existem, no plano real e no virtual, boas opções de shoppings e também de museus, teatros, parques, estações de ciência, muitos inclusive subsidiados por marcas para poderem existir (especialmente no Brasil), e distribuindo lembrancinhas colecionáveis para estender seu vínculo com os visitantes. Tudo pode ser aprendizado, TV, gibi, embalagem de produto, depende da dedicação do mentor e da motivação do aprendiz.
Pais, mais que nunca, precisam exercer seu papel e não terceirizá-lo com a mídia, culpando-a depois.
Ouvi recentemente de uma criança:
“Não me influencio por tudo o que a TV fala porque não mostram tudo o que eu gosto”.
“E do que você gosta?”, veio a pergunta.
“Deste, daquele, e daquele outro livro. Conhece? Não anuncia, mas vende na livraria. Vem com marcador de páginas. E quando eu vou lá, às vezes, tem contador de histórias. É disso que eu gosto.”
Oh, pensadores e mercadores.
Durmam com essa.