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Varejo perde 135 mil lojas no 2º trimestre de 2020

Saldo negativo equivale a 10% do total de comércios que estavam em funcionamento antes da pandemia, diz a CNC.

A crise de proporções inéditas enfrentada pelo varejo nos últimos meses levou o setor a registrar um saldo negativo de 135,2 mil lojas com vínculos empregatícios entre abril e junho deste ano. 

Os dados, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), foram divulgados na terça-feira (25/08).

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O estrago provocado pela pandemia de Covid-19 foi de tal ordem que o saldo negativo no período superou a perda de estabelecimentos comerciais do ano de 2016 (-105,3 mil), até então a maior da série histórica, iniciada em 2005. 

A quebradeira coincidiu com a edição de diversos decretos estaduais e municipais que restringiram total ou parcialmente a circulação de consumidores em estabelecimentos comerciais, por meio da implementação do isolamento social, e reduziram significativamente as vendas presenciais – historicamente, a principal modalidade de consumo por parte da população. 

Fábio Bentes, economista da CNC, diz que o cenário só ficou pior do que em 2016 pois esta crise pegou o varejo em cheio, inviabilizando a operação de lojas de ramos inteiros em diversas regiões, e, em consequência, o consumo.

O resultado, porém, não significa que haverá piora para o varejo no segundo semestre. “Considerando o cenário de reabertura gradual até o final do ano e a extensão do auxílio emergencial devem consolidar a melhora.”, comenta Bentes.

Embora nenhum ramo do varejo tenha registrado expansão no número de pontos de venda entre abril e junho, naturalmente os segmentos mais atingidos pela crise desencadeada pela pandemia se caracterizam pela predominância na comercialização de itens considerados não essenciais.

Enquadram-se nessa situação os seguintes ramos: Lojas de utilidades domésticas (-35,3 mil estabelecimentos, ou -12,9% do total de lojas antes da pandemia); vestuário, tecidos, calçados e acessórios (-34,5 mil lojas ou -17,0%) e comércio automotivo (-20,5 mil ou -9,9%).

O varejo de produtos de informática e comunicação foi o segmento a registrar as menores perdas absolutas (-1,2 mil) e relativas (-3,6%) no número de estabelecimentos em operação. 

Perdas menos intensas

Já em alguns ramos do varejo essencial, menos afetados pela quarentena, as perdas de pontos de venda se deram de forma menos intensa do que a média do setor (-9,9%), na maior parte dos casos.

Foram os casos dos hiper, super e minimercados (-4,9% ou -12,0 mil lojas) e das farmácias, perfumarias e lojas de cosméticos (-4,3% ou -5,3 mil).

Mesmo autorizado a funcionar na maior parte do país, o ramo de combustíveis e lubrificantes se viu indiretamente prejudicado pela queda na circulação de consumidores (-12,2% ou -5,4 mil pontos).

A intensidade no fechamento de estabelecimentos das atividades comerciais entre abril e junho tende a refletir os respectivos desempenhos dos segmentos do varejo em termos de volumes de vendas das atividades, quando comparada aos três primeiros meses do ano. Ou seja, foram observadas perdas mais acentuadas nos ramos mais prejudicados pelas restrições ao consumo presencial. 

Porém, mesmo com a expectativa de retomada do varejo no curto prazo, não se espera a retomada do número de lojas abrindo pois ainda há uma quantidade significativa delas fechando, apesar da reabertura do comércio. Como as  de shoppings lembra Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

“Muitas pequenas não resistiram ou ainda devem fechar. O problema nos shoppings é que o movimento ainda não é suficiente para cobrir os custos. Mas é um processo gradativo: com a expansão do horário para oito horas, a expectativa é que o comércio vá melhorando gradualmente.”, declara Solimeo.

Recuperação em V

Embora recentes pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrem que apenas uma em cada quatro empresas comerciais tenha reduzido o quadro de funcionários em junho, o fechamento de estabelecimentos com vínculos empregatícios no 2º trimestre reverberou no nível de ocupação do setor.

Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no segundo trimestre de 2020, foram eliminados quase 500 mil empregos formais. Porém, apesar do grave quadro conjuntural envolvendo o setor no segundo trimestre, o ritmo de recuperação das vendas tem surpreendido positivamente. 

Cumprem papéis relevantes nesse contexto o menor índice de isolamento social das últimas semanas, a expansão do varejo eletrônico – no segundo trimestre, o e-commerce apresentou avanços de 43% no volume de vendas e de 117% no número de transações ante o mesmo período do ano passado –, os programas de suporte às empresas e, principalmente, à população mais vulnerável por meio do auxílio emergencial. 

Superada a fase mais aguda da queda no nível de atividade, a chamada recuperação em “V” do volume de vendas do setor deverá se consolidar já no início do segundo semestre. Em junho, o índice de vendas com ajuste sazonal divulgado pelo IBGE encontrava-se 4,5% da média do primeiro bimestre.

No conceito restrito, que exclui automóveis e materiais de construção, a consolidação já ocorreu. Porém, a mudança de hábitos do consumidor deve promover expansões menos intensas no número de lojas físicas.

Expectativas

Para 2020, a CNC projeta recuo de 6,9% no volume de vendas do varejo. Levando-se em conta esse cenário e a defasagem existente entre o crescimento das vendas e a natural contrapartida na abertura de novos pontos de venda no varejo nacional, a expectativa da entidade é de que o varejo brasileiro chegue ao final deste ano com 1,252 milhão de estabelecimentos com vínculos empregatícios – menos 88,7 mil ante 2019.

 

Foto: Reuters.