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Regata lembra ato heroico no Recife

Nelcy da Silva Campos rebocou petroleiro em chamas para alto mar, evitando explosão e incêndio de grandes proporções no centro da capital pernambucana<br />  

No próxima quinta-feira (12) faz 31 anos que o prático Nelcy da Silva Campos salvou o Recife de uma tragédia. Chamado às presas, ele rebocou para alto mar um navio carregado de combustível, que estava em chamas e poderia explodir o parque de tancagem do Porto do Recife. 

Ano passado, Nelcy Campos ganhou um busto em sua homenagem. A obra foi instalada em frente ao Terminal Marítimo de Passageiros do Porto do Recife. Este ano, será realizada uma regata para lembrar o feito histórico deste herói pernambucano.

Aberta a todos os tipos de barcos das classes de Oceano, a Regata Prático Nelcy Campos será realizada no dia 21 de maio (sábado) e é válida pelo Campeonato Pernambucano de Velas. A saída dos barcos, prevista para às 15h, será no Marco Zero do Recife, no Bairro do Recife Antigo, de onde os participantes seguem até a Praia de Boa Viagem e depois retornam para o ponto de partida.

Além do prático Nelcy Campos, o evento irá homenagear o nadador pernambucano Luís Silva, atleta paraolímpico recordista de medalhas. A Regata Prático Nelcy Campos é promovida pela Sociedade dos Amigos da Marinha (Soamar) e pela Frotilha de Veleiros de Oceano (Frevo), com apoio do Cabanga Iate Clube, Armazéns do Porto, Associação Comercial de Pernambuco e Porto do Recife.

 O valor das inscrições dos participantes da regata será repassado para a Associação dos Surdos de Pernambuco, entidade que atua para melhorar a vida dos portadores de deficiência motora através do apoio e do incentivo à prática de esportes.

Há 31 anos, no dia 12 de maio de 1985, Nelcy da Silva Campos rebocou para longe da costa o navio petroleiro Jatobá, que pegou fogo e cujas chamas ameaçavam explodir o Parque de Tancagem do Brum, onde estavam armazenados 153 mil metros cúbicos de produtos inflamáveis.

A situação de risco começou por volta da 1h30 da madrugada de um domingo, quando um dos três tanques do navio explodiu, deixando a embarcação em chamas. Atracado no Porto do Recife, o petroleiro carregava 1.500 toneladas de gás butano, conhecido como gás de cozinha. O pior é que o incêndio e as explosões em série poderiam atingir o Parque de Tancagem do Brum, que estava a 500 metros do petroleiro e armazenava mais de cento e cinqüenta mil metros cúbicos de produtos inflamáveis. 

Todo o efetivo do Corpo de Bombeiros do Recife foi mobilizado para combater o incêndio, mas os homens não conseguiram debelar as chamas, que chegavam a 20 metros de altura. A situação era tão grave que o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães, foi acordado às presas e teve que deixar o Palácio do Campo das Princesas, onde morava, localizado no Bairro da Boa Vista.

Foi nessa situação que o prático da barra Nelcy da Silva Campos, então com 54 anos, foi chamado às pressas em sua casa pelas autoridades responsáveis pela Capitania dos Portos. Ele chegou ao porto por volta das duas horas da manhã e, com a ajuda de alguns auxiliares, começou um perigoso trabalho. Depois de muitos esforços e manobras perigosas, o petroleiro foi deixado à deriva a aproximadamente cinco quilômetros da costa.

Ao voltar ao porto, já na manhã da segunda-feira, dia 13 de maio, Nelcy Campos foi recepcionado pelo governador Roberto Magalhães, pelos amigos e pela família, que esperava ansiosa. Ao chegar, ele declarou: "Nunca me vi em situação tão difícil e perigosa, mas pensei logo na população. Mesmo sabendo que poderia morrer, parti para a operação".

Para o filho do prático que virou herói, Nelcy Campos Filho, a regata é uma forma de lembrar esse história para as pessoas que não conhecem e para as futuras gerações. “A intenção é que essa história importante para Pernambuco nunca seja esquecida”, completa. 

Nelcy da Silva Campos nasceu no Recife no dia 21 de janeiro de 1931. Trabalhou durante 25 anos como prático, ofício que aprendeu com o pai. Morreu no dia 27 de setembro de 1990 no Recife.