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Lideranças dos Bois garantem realização do Festival de Parintins

Faltando menos de 40 dias para a realização do 51º Festival Folclórico de Parintins, o futuro do evento ainda é uma incógnita

O Festival de Parintins, que acaba de ser incluído na lista dos 10 eventos da década pelo Promoview está com a sua edição de 2016 garantida.
A certeza de que o festival será realizado nas noites de 28, 29 e 30 de junho veio ao final de uma audiência pública na Câmara Municipal de Parintins, no último dia 25, quando o presidente do Caprichoso, Joilto Azedo, afirmou, juntamente com o vice-presidente do Garantido, Fábio Cardoso, que vai haver festival, durante as três noites.

“Estamos com 70% das alegorias concluídas e a caminho da disputa na arena do bumbódromo”, afirma Cardoso. Em 2016 o evento conta com o patrocínio da Brahma, Petrobras, Eletrobras, Bradesco, Atacadão e HapVida, e apoio dos Correios, Whirlpool, Lojas Marisa, C&A e Mac Cosméticos,

Segundo ele, os bumbás estão discutindo com a Tucunaré Turismo e a emissora detentora dos direitos de transmissão do evento como ficará a logística da festa, o que inclui os camarotes que são cedidos para o governo do Estado, que deixou de ser patrocinador do festival.

Planilha

Segundo o Portal Em Tempo, o compositor Tadeu Garcia, ex-presidente do Garantido, ao analisar a planilha orçada para o festival de 2016, orçada em R$ 17 milhões, disse não entender “o propósito da Secretaria de Cultura, em colocar nas contas dos bois, verbas que são do gerenciamento do organizador do evento”, no caso o governo do Estado, e não do executor, os bumbás.

Ele cita como exemplo a circulação de somas de dinheiro, por convênio ou não, para suprir o processo licitatório, nas contas de Garantido e Caprichoso correspondente a valores que variam entre R$ 1,6 milhão e R$ 1,8 milhão para pagamento de sonorização e iluminação utilizados na logística do festival. “Isso não pode de maneira alguma ser transferido como encargo para os bumbás, não é despesa do boi, é do Estado, que é executor da festa, as pessoas precisam entender isso”, salienta.

Garcia se diz também surpreso com o valor definido na planilha, que destina R$ 2,03 milhão para a logística dos jurados. “No mínimo, merece uma justificativa pública da secretaria por convocação da Assembleia Legislativa ou do Tribunal de Contas do Estado. O valor do custo de hospedagem, alimentação e transporte dos jurados, que em quatro dias alcança mais de R$ 133 mil, é um absurdo”, observa.

Para Tadeu, o evento é investimento e não despesa. “Temos que ser sinceros, o festival é um investimento a curto prazo, em geração de renda e emprego, e não uma despesa para custear uma brincadeira de dois grupos de gastadores e privilegiados”, opina.

Segundo ele, o festival ainda tem “um longo e doloroso caminho a percorrer com vista ao seu redimensionamento do ponto de vista econômico-social e principalmente do ponto de vista ético”.

Ele chama a atenção para o fato de que os caciques políticos do Amazonas transformam os dirigentes de boi em Parintins, em cabos eleitorais de luxo. “Por isso eles retiraram ao longo do tempo, sorrateiramente, a autonomia administrativa efinanceira das associações folclóricas”.

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Entenda a crise que cerca o Festival

Na manhã de sexta-feira (20/05), faltando menos de 40 dias para a realização da 51a. edição, o governador José Melo (Pros) anunciou o corte de R$ 35 milhões de patrocínio a eventos culturais, esportivos e de turismo, que deve afetar em cheio o espetáculo. Por conta disso, os representantes dos bois e o chefe do Executivo estadual amazonense passaram a discutir os rumos da festa. 

Segundo o presidente da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido (AFBBG), Adelson Albuquerque,  ele foi pego de surpresa com o anúncio do corte e  vai esperar a reunião para decidir as medidas que serão tomadas para a realização do evento. “O Festival não é somente um evento cultural por si só,  faz parte da indústria cultural do  Amazonas. Seu desdobramento econômico é tentacular, atingindo uma cadeia que será quebrada”, declarou.

O presidente do Garantido comentou ainda que ele e toda a sua gestão, esperam o comunicado de forma oficial. Caso se confirme as declarações do governador, a decisão se configura como uma tragédia econômica para o município de Parintins.

“Temos patrocinadores másters de porte internacional, empresas de turismo que já venderam pacotes, hotéis em Manaus e em Parintins que fecharam reservas, empresas que estavam interessadas em fechar parceria com o festival e que certamente depois desse anúncio, por temeridade, não entrarão no evento. O Festival de Parintins movimenta uma cadeia econômica que se reverte em impostos para o Amazonas. Todos ganham com o evento. Não quero acreditar que o governo cometerá esse erro histórico”

Confirmando o anuncio do governador, o secretário Estadual de Cultura, Robério Braga, comentou que este ano o governo não repassará nada para nenhum festival, inclusive o apoio logístico para festa. “As atividades que dependem de patrocínio, apoio cultural de infraestrutura e logística todas foram cortadas, inclusive o Festival de Parintins. Anteriormente, o evento era feito com recursos vindos do Estado e da iniciativa privada. Não sei se só com os recursos da iniciativa privada será o suficiente para a realização, pois até a questão de logística, como a segurança do evento, o governador cortou. Vamos ver qual será a decisão dos presidentes dos bois-bumbás”.

Em nota, a Maná Produções, Agência Oficial e Exclusiva das Associações Folclóricas Bois Bumbás Caprichoso e Garantido de Parintins, responsável por quase todos os patrocinadores privados, estatais e federais do festival, informou que foram renovados os patrocínios da Brahma, Petrobras, Eletrobras, Bradesco e HapVida, alguns com redução do valor aportado, como por exemplo os Correios, que se tornaram apoiadores do festival e a Whirlpool também na condição de apoiadora.

Agência informou ainda que o Atacadão também ingressou como novo patrocinador. E na categoria de apoiadores,  o festival passou a contar também com a Mac Cosméticos,  Lojas Marisa e C&A, com apoios pequenos e focais.

O comunicado reiterou ainda a confiança que deposita nos bois e  em suas diretorias e que todos os patrocinadores têm suas participações confirmadas e  convicção de que estão apoiando o mais importante evento folclórico do Brasil.

A nota concluiu informando que nesse ponto, o festival está tecnicamente seguro, mas não tem toda a logística que era responsabilidade do governo.

em Parintins, a população recebeu com indignação a notícia de que o governo do Estado, pela primeira vez, depois de 50 anos, não irá liberar recursos para os bumbás realizarem a tradicional disputa na arena do bumbódromo.

“É lamentável, é triste, é inaceitável, não podemos ficar calados diante dessa estupidez, nós, artistas, queremos provocar o Ministério Público Estadual, como é que o governo tem dinheiro para o Festival de Ópera e não tem para o festival da terra, do povo amazonense, que dá identidade ao Estado”, o  desabafo foi do artista Juarez Lima, do boi Caprichoso, que chegou a passar mal dentro do galpão do boi ao tomar conhecimento do corte.

Momentos após a notícia circular nas redes sociais e as emissoras de rádios darem destaque em Parintins, o artista Juarez Lima pediu uma reunião com os demais artistas de ponta do boi para discutir uma estratégia para fazer frente a esse momento difícil pelo qual passa o festival.

“Precisamos nos unir juntamente com os artistas do contrário e mostrar ao Estado a nossa revolta, a nossa indignação não é pelo dinheiro, mas é pelo que o Festival representa para a nossa economia”, afirmou.

No Garantido, o clima também era de muita tristeza. O artista Rogério Azevedo disse que o boi está planejado para as três noites de disputa. “Essa notícia de hoje foi um balde de água fria em todos nós artistas, não podemos aceitar calados uma imposição que compromete a nossa festa e, sobretudo a nossa economia”.

Azevedo disse que os artistas deverão se encontrar juntamente com os do Caprichoso para definir uma agenda de ações em defesa do Festival Folclórico.

Articulador das reuniões entre o governador e a diretoria dos bumbás, o deputado estadual, Bi Garcia (PSDB), alertou para o fato de que a não realização do Festival Folclórico “será um desastre para o Estado do Amazonas e a economia de Parintins”. O parlamentar disse que participará, juntamente com presidente da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), Bosco Saraiva (PSDB), mais uma vez da reunião com o governador para interceder pelo festival.

Em nota, o prefeito de Parintins, Alexandre da Carbrás, voltou a se colocar à disposição da diretoria dos bumbás para encontrar uma alternativa à crise financeira que está impedindo o Estado de repassar recursos para o evento.