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Carnaval de Salvador entra no escândalo Petrobras

<!--StartFragment-->Procurada, a Petrobras informou que “suspendeu a compra de convites e outras formas de participação no carnaval da Bahia, mantendo apenas apoio aos blocos afro”.<!--EndFragment-->

O carnaval de Salvador apareceu nesta semana na lista de irregularidades ocorridas na Petrobras nos últimos anos. O novo escândalo é destaque no site do jornal O Globo.

Uma das apurações mostra que políticos, dirigentes da estatal e até o ex-secretário particular da presidente afastada, Dilma Rousseff, assistiram de camarote à festa às custas da petrolífera. E ainda sobrou dinheiro para bancar um trio elétrico que tem como maior estrela a prima de um ex-dirigente da estatal. Agora, a Petrobras diz que tentará obter o ressarcimento dos prejuízos.

Foi no rastreamento de recursos de patrocínios no carnaval que se chegou até o Tripodão. A Petrobras direcionou, entre 2008 e 2015, R$ 880 mil ao trio elétrico fundado por Francisco Alberto Tripodi Filho. A estrela do carnaval do trio é sua filha, a cantora Viviane Tripodi. Francisco é primo de Armando Tripodi, chefe de gabinete da presidência da Petrobras na gestão de José Sérgio Gabrielli. No site da cantora, a logomarca da Petrobras permanece em destaque até hoje. O dinheiro destinado ao trio foi apenas uma parte dos R$ 8,6 milhões repassados a duas empresas de eventos da família.

TRÁFICO DE DROGAS

Armando Tripodi pediu demissão da Petrobras em fevereiro, depois de ter sido conduzido coercitivamente no âmbito da Lava-Jato, sob a acusação de recebimento de propina. O trio elétrico, por sua vez, apareceu em uma investigação criminal. Em maio, a Polícia Federal levou à prisão Marcelo Rodrigues, marido de Viviane, sob a acusação de chefiar quadrilha de tráfico de drogas. O galpão onde fica o trio foi um dos locais em que foram apreendidos entorpecentes. O GLOBO tentou contato com Viviane e o trio, mas não obteve resposta. Armando Tripodi não foi localizado.

Outra investigação interna da Petrobras descobriu gastos de R$ 1,15 milhão com ingressos do carnaval baiano, entre 2011 e 2013. Cinco empresas foram contratadas nesses anos com a finalidade de conseguir ingressos para os melhores camarotes da folia. Os auditores questionaram a distribuição dos ingressos, uma vez que a justificativa para aquisição era “ação de relacionamento com o público de interesse da Petrobras”.

Funcionário de confiança de Dilma por mais de duas décadas, Anderson Dorneles, que deixou o Planalto pouco antes do afastamento da chefe, recebeu da Petrobras 36 ingressos para camarotes, em 2013. A auditoria avaliou a benesse em R$ 15 mil. Ele já foi citado na Lava-Jato por ser sócio do bar do Estádio Beira-Rio, do Internacional de Porto Alegre, construído pela Andrade Gutierrez. Procurado, Dorneles não retornou.

A distribuição de ingressos pela Petrobras privilegiou políticos baianos. Jânio Natal, deputado estadual pelo PTN, teria recebido 72 entradas só em 2011. Ele reconheceu ter pedido, mas diz não se lembrar de quantos recebeu.

— Se recebi, foram para políticos e pessoas ligadas ao governo, até pessoas da própria empresa. Se foram 20, 15, 50, 72, eu não me lembro — disse.

Jonas Paulo, chefe do escritório de representação do governo da Bahia em Brasília, teria recebido 42 ingressos ao longo de três anos. Ele nega que sejam tantas entradas:

— Queria eu ter recebido!

O deputado estadual Rosemberg Pinto (PT) foi o primeiro colocado entre os políticos, com 118 ingressos nos anos de 2009, 2011 e 2013. Nestes mesmos anos, 40 entradas foram para Nelson Pellegrino, atual secretário de Turismo na Bahia. A filha dele, Bianca, recebeu quatro em 2013. Rosemberg e Pellegrino não responderam.

FILHO DE GABRIELLI

Funcionários da Petrobras e seus parentes também curtiram o carnaval baiano com dinheiro da estatal. Gabriel Mendes, filho de Gabrielli, teria recebido 52 ingressos em 2011 e 2013.

— Meu filho participou do carnaval, mas não acredito que tenham sido tantos ingressos. Provavelmente estão sendo computados vários dias e várias pessoas — disse Gabrielli.

Responsável pela contratação das empresas e distribuição das entradas, Darcles Andrade de Oliveira, ex-gerente de Comunicação da estatal para o Nordeste, ficou com 1.045 entradas em três anos. Outras 1.267 foram distribuídas para outros funcionários da companhia. Destas, 254 foram direcionadas para Armando Tripodi, o o do trio Tripodão.

A auditoria decorreu de uma reportagem publicada pelo GLOBO em 2014, revelando que Darcles era dono de dois postos contratados por prefeituras baianas ao mesmo tempo que era o responsável por direcionar verbas da estatal para elas. A Petrobras decidiu então fazer um pente-fino na gestão de Darcles, chegando aos relatórios obtidos agora pelo GLOBO. No total, foram 12 encontradas “não conformidades”. Os auditores questionaram a interferência indevida na concessão de patrocínios, os pagamentos sem a comprovação de serviços, a concentração de contratos para um grupo restrito de empresas, entre outras irregularidades. O GLOBO não encontrou Darcles.

Procurada, a Petrobras informou que “suspendeu a compra de convites e outras formas de participação no carnaval da Bahia, mantendo apenas apoio aos blocos afro”. A empresa decidiu ainda centralizar na sua matriz “a exigência de contrapartida em ingressos em seus patrocínios e todas as contratações da área de comunicação”. A expectativa é concluir até agosto as apurações. “A Petrobras tomará todas as medidas legais para buscar o ressarcimento de danos, além de encaminhar esse material aos órgãos de investigação competentes para futuras ações na Justiça”, diz trecho da nota.