Mídia

Publicidade infantil: De quem é a culpa?

De pais e educadores a agentes do mercado global, todos voltam os olhares para a infância − os primeiros preocupados com o futuro delas, já os últimos, fazem crer que estão preocupados apenas com a ganância de seus negócios.

Entra ano sai ano e a guerra dos órgãos fiscalizadores e das marcas que usam brindes para atrair as crianças continua. As crianças são consideradas sensíveis e vulneráveis à publicidade, por isso, a propaganda para esse público deve ser regulada cuidadosamente.

Por ser um público extremamente sugestionável, persuadido com facilidade, as crianças são vistas pelas empresas como parte relevante do mercado.

Para o Idec, tendo como base o Artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor, a publicidade direcionada ao público infantil é abusiva pois se aproveita da deficiência de julgamento da criança.

O Conselho Federal de Psicologia afirma que “Além da menor experiência de vida e de menor acúmulo de conhecimentos, a criança ainda não possui a sofisticação intelectual para abstrair as leis (físicas e sociais) que regem esse mundo, para avaliar criticamente os discursos que outros fazem a seu respeito.”

Mas, será que a culpa é somente das marcas? Onde entra a responsabilidade dos pais sobre o que seus filhos consomem, leem ou comem? É deles a responsabilidade de saber o que é melhor para eles, afinal, nenhuma criança vai sozinha a um ponto de venda comprar alguma coisa.

Não estamos aqui defendendo as marcas. Concordamos que realmente existem algumas que ultrapassam os limites, principalmente as que estão usando os youtubers para sua divulgação, afinal, todo mundo sabe que eles são grandes influenciadores e o que dizem, para muitas crianças, é lei.

Ninguém nasce consumista. O consumismo é uma ideologia, um hábito mental forjado que se tornou uma das características culturais mais marcantes da sociedade atual. Não importa o gênero, a faixa etária, a nacionalidade, a crença ou o poder aquisitivo. Hoje, todos que são impactados pelas mídias de massa são estimulados a consumir de modo inconsequente.

As crianças, que vivenciam uma fase de peculiar desenvolvimento, e, portanto, mais vulneráveis que os adultos, não ficam fora dessa lógica, e, infelizmente, sofrem cada vez mais cedo com as graves consequências relacionadas aos excessos do consumismo: obesidade infantil, erotização precoce, consumo de tabaco e álcool, estresse familiar, banalização da agressividade e violência, entre outras. Nesse sentido, o consumismo infantil é uma questão urgente, de extrema importância e interesse geral.

De pais e educadores a agentes do mercado global, todos voltam os olhares para a infância − os primeiros preocupados com o futuro delas, já os últimos, fazem crer que estão preocupados apenas com a ganância de seus negócios.

Para o mercado, antes de tudo, a criança é um consumidor em formação, consumidor de hoje e do amanhã, e uma poderosa influência nos processos de escolha de produtos ou serviços.

O Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, combate qualquer tipo de comunicação mercadológica dirigida às crianças por entender que os danos causados pela lógica insustentável do consumo irracional podem ser minorados e evitados, se efetivamente a infância for preservada em sua essência como o tempo indispensável e fundamental para a formação da cidadania.

Indivíduos conscientes e responsáveis são a base de uma sociedade mais justa e fraterna, que tenha a qualidade de vida não apenas como um conceito a ser perseguido, mas uma prática a ser vivida.

Hoje, as crianças passam mais tempo conectadas na internet do que brincando em praças e parques. De quem é a culpa? Para alguns é dos pais, para outros é da mídia.

O uso dos celulares pelas crianças passou a ser uma comodidade para os pais. Com um nas mãos, as crianças ficam quietas, não correm o risco de se machucar (fisicamente), e, principalmente, não ficam fazendo barulho.

E a pergunta é: Quem comprou o celular para a criança? O próprio pai ou mãe. Se perguntarmos a eles porque deram um smartphone para ela, a resposta vai ser: “Todos os amiguinhos dela têm um, então ela também tinha que ter.”

O incentivo ao consumo infantil não está somente nas mídias tradicionais ou na internet. Ela está em todos os lugares, seja na vitrina de uma loja, nas áreas de diversão de um shopping center, onde, por trás de uma brincadeira, geralmente tem um personagem de algum programa de televisão que as crianças adoram, e, por consequência, querem ter um, e por aí vai.

Os órgãos de fiscalização têm de continuar atentos, no entanto, se faz necessário que mais campanhas devem ser feitas em relação aos pais. Eles precisam aprender a dizer não, incentivar os seus filhos a terem uma vida mais saudável. Cabe a eles a responsabilidade de educar os seus filhos. Não é porque eles batem o pé dizendo que querem determinado produto que o mesmo tem de ser comprado.

Está na hora desses pais consumistas, que, consequentemente criam filhos iguais, acordarem. E, as marcas, cujo objetivo é vender o 'seu peixe', estimularem uma relação maior entre pais e filhos, não por meio de um simples brinde atrelado à compra de um produto, mas, sim, com atividades lúdicas, de preferência ao ar livre, e, lógico, sem o uso de celulares. Se isso for feito, com certeza todos saem ganhando!