MICE

30 de abril, dia do profissional que você não vê

Os eventos são as grandes estrelas e quem organiza, produzir, idealiza, monta e concebe acaba ficando nos bastidores


Eu sou jornalista de profissão mas o que gosto mesmo é dos eventos. Minha primeira empresa chamava-se A Rose de Festa e tinha como assinatura: a primeira que chega e a última que vai embora.

Claro que o objetivo era informar ao cliente que seria a primeira na organização do evento e que ficaria até o final para garantir que todos os convidados estivessem bem servidos, acomodados, que a atração fosse pontual, que os serviços da festa estivessem perfeitos e que a experiência de todos fosse a melhor possível.

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Tempos depois, já por dentro dos eventos do mercado de turismo e de viagens corporativas, decidi criar o Mice Fórum, um conceito de eventos itinerantes com oficinas que tiravam os convidados da cadeira e colocavam para fazer atividades manuais, para construir brinquedos, para fazer ginástica e meditação, para visitar fábricas de cerveja artesanal, enfim, para assimilar conteúdo de forma mais lúdica e menos convencional.

O-Mice Fórum Guarulhos, primeira edição, teve adereços de palco da linha puf puf, da Bueno Cenografia, projeto de logística reversa que reutiliza materiais de eventos e os transforma em peças exclusivas e criativas 

Sempre gostei dos eventos e logo entendi que o sucesso deles, além do planejamento, estava na escolha dos fornecedores. E meu caderninho secreto guardava os melhores deles em montagem de cenário, de sonorização, de atrações, de transfer, de brindes, de buffet e de palestrantes. Com o conteúdo eu tinha uma relação quase obsessiva. Tinha de ser palestrante diferenciado, especial, carismático, com didática, alguém que não fosse um medalhão das palestras, mas que tivesse um amor pelo tema que cativasse a plateia. Que fosse tão gente boa que seu conteúdo emocionasse a audiência. Também queria temas alternativos e fora da caixa. Não queria palestrante chapa-branca e nem figurinha carimbada de outros eventos. Queria o surpra-sumo, o diferentão, o afetivo, o orador que levasse um desconforto a quem estivesse assistindo, que promovesse uma reflexão profunda na forma como os negócios estavam sendo geridos. O Mice Fórum em Campos do Jordão, Guarujá e Guarulhos foram épicos.

Esteve na pauta a diversidade quando ainda não era moda isso; o vegetarianismo e outras restrições alimentares também foram tema de palestra quando ninguém questionava o catering dos eventos. Humor então, ninguém passava conteúdo sério através de palhaços e lá no Mice Fórum tivemos presenças incríveis do tema. Quem esteve em alguma das cinco edições do evento há de se lembrar.

Atividades para engajamento da plateia e networking incentivado

Place branding? Há 8 anos ninguém falava sobre o tema em eventos mice e no meu Mice Fórum tivemos palestras excelentes com um expert neste assunto. E assim foi também com temas como desperdício e a visão oriental do motainai, com os cassinos como desenvolvimento econômico, com a tecnologia tão necessária para o engajamento e com tantos outros temas que fizeram história.

Este texto nem era para ser tão dedicado ao Mice Fórum, mas me empolguei com as lembranças e os objetivos cumpridos à luz do que é um bom evento. Este texto era mesmo para falar sobre o profissional de eventos. Estas pessoas que muitos não enxergam mas que garantem que os convidados serão surpreendidos, serão bem atendidos, viverão experiências incríveis ao participar de um encontro patrocinado por uma marca.

Eles podem ter muitos nomes, podem ser produtores, organizadores, meeting planners, analistas, montadores, gestores, assistentes, carregadores de caixas, montadores, coordenadores, enfim, o nome não importa, todos estão à serviço do bem-estar do outro, da realização do sonho de alguém, da entrega de um evento tal como foi planejado, tal como foi idealizado pelo cliente.

Uma gueixa chamou a atenção da plateia sobre os desperdícios de talentos, de tempo, de recursos, de vida, de negócios

O profissional de eventos está assim como para um construtor de sonhos. Se pensamos nos eventos sociais fica mais fácil de entender o que faz este profissional. Pensa em uma noiva e na festa de casamento e vai visualizar o que faz um organizador de eventos. No âmbito corporativo, imagina um congresso com milhares de participantes e vai entender o que faz um gestor de eventos. Lembra da última exposição ou feira de negócios que foi e saberá o que faz um profissional de eventos.

O grande Caio de Alcântara Machado, que nascia em 30 de abril de 1926 e por isso homenageia os profissionais de eventos neste dia, entendeu desde cedo o que era este encantamento que os eventos deveriam provocar nos participantes.

Um verdadeiro homem da comunicação, Caio entrou para a história do segmento mice promovendo as primeiras feiras comerciais no Brasil e incentivando a criação do primeiro pavilhão para abrigar grandes eventos.

Em 1958 a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), no Pavilhão Internacional do Parque do Ibirapuera, em São Paulo abria o calendário de icônicos eventos e feiras de negócios como a Feiras da Mecânica, de Utilidades Domésticas – UD -, o Salão Anhembi, o Salão da Criança e também o Salão do Automóvel.

Futurar para faturar: as visões de futuro também fizeram parte do conteúdo do Mice Fórum em Campos do Jordão e Guarujá

Foi também a ambição profissional e a visão de negócios de Alcântara Machado que resultou na construção do Anhembi, oferecendo a São Paulo um equipamento de qualidade internacional e que viria a contribuir para a cidade seguir sua vocação cosmopolita e de turismo corporativo.

A ABEOC Brasil (Associação Brasileira de Empresas de Eventos), afirma que o setor contribui com mais de 3% do PIB nacional, com movimentação superior a R$ 50 bilhões por ano. Já o Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas, afirma que a cadeia produtiva dos eventos envolve 52 segmentos da economia, movimentando, anualmente, R$ 37 bilhões, empregando quase 3 milhões de pessoas e recolhendo, em impostos, R$ 4,2 bilhões.

Agora esquece tudo isso. Depois dos duríssimos tempos de pandemia, quando o setor praticamente parou no formato em que conhecemos, foi necessário uma reinvenção profunda do setor. A tecnologia foi um ponto importante de partida, mas a retomada parece ser o grande ponto de inflexão, quando quem conseguiu sobreviver ao que passou, precisou se requalificar, repensar os métodos de trabalho, renovar as energias para o que está por vir. Não é só metaverso, é híbrido, é engajamento multiplataforma, é protocolos de segurança, carbon-free, encontrar novos venues e tantos outros itens que agora exigem a atenção do profissional de eventos.

A única coisa que não mudou é que o profissional de eventos continua a ser um construtor de sonhos. Dos outros.

Parabéns a todos por isso.