Não é raro seu nome estar em listas de executivos poderosos do turismo. Sua experiência em marketing, comunicação e relações governamentais a coloca como uma profissional respeitada quando o assunto é promoção de destinos. A fluência em alemão, francês e inglês conferem a competência de colecionar relacionamentos importantes para os negócios do turismo. Quem se lembra dela como diretora executiva da WTM Latin América deve ter achado estranho sua saída para assumir o poder público no município de Ilhabela, estância turística paulista.
Entretanto, seu currículo reforça sua vocação orientada para os negócios de estado. Durante dez anos foi diretora de turismo da SPTuris, estruturou a Companhia Paulista de Turismo e Eventos e antes disso fez carreira na Bahia, atuando como superintendente de desenvolvimento de turismo da secretaria de turismo do estado. E também foi diretora de relações internacionais da Bahiatursa.
Nas cinco perguntas abaixo, ela revela um pouco de seus pensamentos sobre promoção de destino, captação de eventos, diversidade de gênero e os números de sucesso da sua atual gestão em Ilhabela.
1. Que comparações consegue fazer entre o seu trabalho realizado na SPTuris, na WTM e agora na secretaria de turismo de Ilhabela?
O mais importante sempre é estar disposta a aceitar o desafio. Embora sejam realidades diferentes, como executiva sou bastante objetiva e transparente. Seja na iniciativa privada ou no poder público, busco entender a essência do local onde estou trabalhando, estruturar uma boa equipe e com bastante espírito empreendedor vou em busca de resultados.
Quando cheguei em São Paulo, a cidade não era vista como um destino de lazer, existia um forte turismo emissivo. Durante minha gestão na SPTuris, criamos 9 roteiros temáticos e São Paulo se consolidou como a capital latino-americana do turismo cultural, de entretenimento e gastronômico. Até no carnaval tivemos sucesso, hoje os desfiles de São Paulo não deixam nada a desejar se comparados com os do Rio de Janeiro, e os blocos de rua atraem milhares de foliões.
Na Reed Exhibitions, dirigi o maior evento B2B de turismo latino americano: a WTM Latin America. Inovamos com lançamento do Programa de Agentes de Viagens (o WTM Hosted Travel Agent), criamos soluções personalizadas para aumentar a receita do evento, como o WTM Live, além de treinamentos e eventos customizados. Outro resultado importante foi a melhora na satisfação do expositor e do visitante, calculada através do Net Promoter Score (NPS), sendo que o NPS do expositor aumentou 33 pontos entre 2016 e 2019 (de + 9 para + 42) e o do visitante subiu 14 pontos no mesmo período (de + 50 para +64). Entre 2016 e 2019 tivemos também o aumento 43% no número de visitantes únicos, passando de 6.540 para 9.338.
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Em Ilhabela, enfrentei o desafio de assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e do Turismo em plena pandemia, no início nem era possível fazer promoção para atrair o turista de lazer. Nesse momento, inovamos com a campanha Ilhabela Anywhere Office, que tinha como público-alvo as pessoas em trabalho remoto, com objetivo de estender as diárias de quem já estava na cidade ou aumentar ocupação hoteleira durante a semana. Ao longo do ano, investimentos em infraestrutura, com a manutenção de trilhas; em qualificação dos empresários e trabalhadores; em diversificação de experiências, como o Turismo de Observação de Baleias e Golfinhos e o Birdwatching; aos poucos retomamos eventos, como a Semana Internacional de Vela de Ilhabela e o Festival do Camarão; voltamos a participar de feiras de turismo e a investir em promoção, com destaque para a realização de duas provas do MasterChef Brasil na ilha e para a campanha É Tempo de Viver Ilhabela.
Como principais resultados, recebemos em 2021 1,6 milhão de turistas, o que representa aumento de 17% em relação a 2021. Isso se refletiu na geração de empregos: foram 4.283 carteiras assinadas no ano passado e um saldo positivo de 894 empregos.
2.-Qual foi seu ponto de virada da carreira na iniciativa privada para a vida pública. E quais seus desafios?
Depois de quase 1 ano em home office e de um longo período de quarentena, recebi uma proposta do Prefeito Toninho Colucci para assumir a pasta do turismo em Ilhabela. De um lado, fui incumbida da responsabilidade de comandar a secretaria responsável pela principal atividade econômica do município, justamente o turismo, que tanto sofreu com a pandemia do Covid-19. De outro, ganhei a oportunidade de me reencontrar com o mar e alinhar melhor o trabalho com a qualidade de vida.
Me readequar ao ritmo do poder público foi mais um ponto a equacionar. Na iniciativa privada as coisas acontecem com mais celeridade. Em órgãos públicos há processos mais longos e licitações, que embora sejam necessários, tornam o tempo entre a tomada de decisão e a execução muito maiores.
Agora, nesse momento de retomada, o desafio é continuar melhorando nossos indicadores econômicos. Vamos trabalhar para aumentar nossa taxa de ocupação hoteleira e o movimento no setor de comércio e serviços para que possamos gerar mais empregos e manter aquecida a economia.
3. O que falta às mulheres para que assumam seu lugar de direito e respeito no mercado?
Não diria que seja algo que falte às mulheres e sim, acredito que não só o mercado de trabalho precise evoluir, mas a sociedade de forma geral, para que haja mais equidade de gênero. É comum lermos notícias que falam sobre a diferença de salário entre homens e mulheres ou que a maioria dos cargos de gerência são ocupadas por pessoas do sexo masculino. Mas penso que não devemos nos entregar a determinismos, é necessário confiar em si, em nossos sonhos e potenciais, investir em qualificação e seguir firme e com muito trabalho para conquistar o sucesso.
4. Quais os desafios em promover Ilhabela como destino turístico e quais suas estratégias para dar visibilidade à cidade na captação de eventos?
O desafio de Ilhabela, assim como para a maior parte de nossos destinos turísticos, é reduzir a sazonalidade. Para minha surpresa, percebi que aqui, embora haja sazonalidade, a diferença entre alta e baixa estação não é tão acentuada. Em 2021, durante a alta temporada tivemos média de 80% de ocupação hoteleira. A baixa registrou média de 51% de ocupação. Em 2019, por exemplo (período pré-pandemia), a baixa temporada teve 64% de ocupação.
Por se tratar de uma ilha, com 94% de Mata Atlântica preservada, a solução não é simplesmente trazer mais turistas. Precisamos atingir o público que valoriza justamente a riqueza natural que Ilhabela possui. Para isso, nosso trabalho na secretaria busca fomentar novas experiências, de acordo com a identidade local, e trabalhar junto aos empresários para qualificar a oferta turística, com objetivo de agregar valor aos serviços e aumentar o ticket médio das empresas.
O turismo corporativo é um segmento de grande potencial para nós, Ilhabela é um destino turístico consolidado, com variada oferta de serviços. Temos mais de 5.000 leitos em meios de hospedagem (entre estes, hotéis com estrutura para receber eventos corporativos), centenas de bares e restaurantes, agências de receptivo, buffets e empresas de transfers. Precisamos organizar melhor este mercado e nos posicionarmos como destino de turismo corporativo.
5. Todos os destinos podem disputar o mercado MICE ou há características muito específicas para este tipo de atuação?
Acredito que não. Para disputar este mercado e se posicionar bem é necessário ter diferenciais competitivos que vão desde a localização do destino até a capacidade de oferecer com qualidade o que o cliente está buscando. Aspectos como a proximidade do mercado emissor, infraestrutura turística e de serviços, preço e capacidade de customização de serviços são essenciais.
Por isso acredito que Ilhabela tem tudo para ser um ótimo player no MICE. Estamos a pouco mais de 200 km de distância da capital, a região é bem servida por rodovias que trazem ao Litoral Norte, temos uma ampla rede de serviços turísticos, e em breve teremos nosso Centro de Convenções e Teatro, que permitirá realizar eventos para até 450 pessoas.
