Live Marketing

Profissionais de Eventos e as metáforas na sua existência

A intenção aqui não é autoajuda, mas um momento de observação e análise de como fortalecer essa qualidade de Resiliência tão requisitada na área de Eventos.


Faço essa introdução conceitual, não com objetivo de escrever um artigo epistemológico, tão pouco acadêmico, mas para tentar compreender um fenômeno que escuto e vejo ser utilizado no mundo corporativo e tenho cá para mim, diz muito sobre a rotina e em especial o momento do Profissional de Evento. 

Refiro-me a Resiliência, esse termo multifacetado que mostra a propriedade de assimilar impactos, mas se regenerar. 

Como dito pelo sociólogo Bauman (2001) “nestes tempos líquidos, onde tudo muda rapidamente, estamos constantemente experimentando rupturas e necessidade de adaptação e reinvenção”. Entender melhor as definições, recortes e aplicações dados a essa palavra é nosso desafio inicial.

Resiliência-subst.. feminino)

1.    Etimologia: do latim resilioresilire., derivada de re (partícula que indica retrocesso) e salio (saltar, pular), significando saltar para trás, voltar saltando, ir e voltar;

2.    Física: propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica;

3.    Psicologia: é a capacidade de se adaptar em situações difíceis ou de fontes significativas de estresse;

4.    RH: Item de job description e jargão no RH e presente em feedbacks corporativos

5.    Figurado: capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Independente de qual vertente de definição de resiliência que você queira aplicar, todas relacionam-se com a aptidão de ser impactado, absorver o golpe e manter o foco. O talento de cair e levantar constantemente.

Nos últimos tempos, vejo que esse atributo tem sido exigido mais do que nunca em nossa profissão, não acham?

Pressão 1: Considerando a pandemia, que foi literalmente um eclipse total para o Profissional de eventos, de repente não pode realizar suas atividades, sem previsão de volta, um obscurecimento completo, depois com o tempo, a criatividade, o poder de adaptação, aprendizado sobre o hibridismo e regras sanitárias foi ajustando os eventos para um novo normal, o eclipse ia se tornando parcial e a luz voltou a brilhar. Dá-lhe Resiliência !!!

Pressão 2: Nesse período escuro e de falta de jobs, o profissional de eventos e a cadeia de hospitalidade como um todo hibernou, muitos não aguentaram o grande período de inverno de remarcações de datas, de contas inegociáveis, de folha de pagamento, de aluguéis, de manutenção de equipamentos, de saúde mental e não sobreviveram; outros migraram para outras áreas que estavam fornecendo mais oportunidades, deixando um gap de força de trabalho e de empresas no setor, o que vem impactando quem ficou e fluxo de jobs que vai voltando ao normal. Dá-lhe Resiliência !!!

Pressão 3: A tão esperada Primavera de projetos chegou, mas muitos deles já tinham suas verbas definidas e pagas antes da pandemia, portanto muitos usaram essa reserva e somando-se os reajustes econômicos no país, o que se fazia antes com X, necessita 2X e quem estava saindo da hibernação de faturamento, está com a saúde financeira comprometida. Sem falar que esse tempo limitado de faturamento dificulta que as verbas dos clientes sejam adequadas, ou até mesmo, isso seja utilizado como barganha com alguém que há muito não fatura e se submete aos valores enxutos, provocando uma adaptação do como fazer e na entrega, a gente colhendo flores, mas com muito, muito espinho. Dá-lhe Resiliência !!!

Pressão 4: O tempo passou e o Verão chegou, vivendo a era quase que pós pandêmica, mercado agitado e novos briefings carregados de demanda reprimida e nova. Um super aquecimento com diferentes características, desde o desafio de encaixar os eventos antigos + os novos na grade dos espaços e sem falar na lacuna de profissionais pela migração para outras áreas, hoje falta gente para contratação. Isso também contribui para uma juniorização, já que muitos foram promovidos pela necessidade e não houve tempo para capacitação e monitoramento, poucos estão se inscrevendo em formações e reciclagem, porque não tem tempo, porque não são liberados para tal ou porque não encontram cursos, assim temos um ciclo vicioso. Essa dificuldade de encontrar funcionários técnicos, operacionais e estratégicos é fato, sem falar que, os que estão na ativa, estão sobrecarregados, a ponto de termos gente abandonando produções. Temos que considerar que 2 anos de reclusão forçada pela pandemia, deixou as pessoas sem timing e também mexeu um bocado com a cabeça e saúde mental, ainda mais quem está se adaptando agora a esse habitat dos eventos. Dá-lhe Resiliência !!!

Pressão 5: Sabe-se que planejamento é inerente as ações de eventos e mesmo com tudo organizado, independente da tipologia, botar um Evento de pé é uma tempestade de informações, tarefas e decisões, na maioria das vezes com prazos curtos e budget enxutos, alinhamento com diferentes funções e perfis de pessoas, que muitas vezes se conhecem para e no job. Sem falar, na característica momentânea, pontual, um agora mágico com tudo junto ao mesmo tempo, portanto é inevitável a pressão. Quem trabalha na área sabe como é passar do céu ao inferno e vice-versa rapidinho, mas não é qualquer um(a) que aguenta essa rotina. Dá-lhe Resiliência !!!

Essas fases todas, tem ocorrido na sequência e/ou juntas, provocando uma avalanche de situações que haja Resiliência para sobreviver. Com isso entender melhor e estimular a resiliência é fundamental para gestores de eventos. A psicóloga Tabata Cardoso, tem um material bem significado, resultado de sua tese de mestrado, e esquematizou os Pilares da Resiliência, que resumo aqui no intuito de auxiliar nesse momento que profissionais do live marketing estão vivendo:

1.    Aceitação positiva da mudança: é o que temos e em vez de reclamar, encontrar oportunidades;

2.    Autoconfiança: acredite-se e enfrente;

3.    Autoeficácia: buscar suas capacidades (e porque não treiná-las?) ;

4.    Bom humor: sorrir traz leveza, descontrai o ambiente e o entorno (o que te faz feliz?);

5.    Controle emocional: o que te incomoda: detecte, evite e/ou gerencie ou encontre alguém que o faça para ti;

6.    Empatia: aquela máxima de se colocar no lugar do outro;

7.    Independência: busque soluções, utilize a autonomia e entenda como a colaboração existe nas situações;

8.    Orientação positiva para o futuro: acreditar, ter objetivos e traçar planosss, senão fica só na ideia;

9.    Reflexão: respire, analise/ respire, pesquise/ respire trabalhe com sabedoria;

10.  Sociabilidade: saiba relacionar-se e calibre o formato dos laços;

11.  Valores positivos: ser e fazer o Bem.  

Nada fácil, mas possível. Por muitas vezes, uma mescla de todos ou a busca pelos itens que temos mais dificuldades, mas utilizando mais uma metáfora:

“o esforço para a resiliência é como o banho, tem que ser diário, senão ficamos fedidos”

(a brincadeira não é minha, e sim do Karnal, mas é muito clara

assista o vídeo completo: https://www.youtube.com/watch?v=T3Coqb2KXn0)

A intenção aqui não é autoajuda, mas um momento de observação e análise de como fortalecer essa qualidade de Resiliência tão requisitada na área de Eventos, fazer a leitura das estações, das pressões e saber como suportar todas as intempéries de uma maneira saudável, faz com que a gente consiga acreditar e enxergar o arco-íris que sempre aparece depois da tempestade. Se existe pote de ouro no final, não sei, mas ele traz um colorido no céu e a esperança de melhores momentos.

Baummann, Z. Modernidade Líquida, Ed. Zahar, SP

Cardoso, T.; Martins, M.C.F.(2013) EPR – Escala dos Pilares da Resiliência, Editora Vetor, SP