Experiência de Marca

Tá de castigo! Já pra biblioteca!

Ouvindo o rádio na semana da criança, ouvi um comentário que não me saiu da cabeça. Falava o entrevistado que uma das razões das crianças não gostarem de livros era o fato de que, antigamente, a biblioteca nas escolas era lugar de castigo.

Ouvindo o rádio na semana da criança, ouvi um comentário que não me saiu da cabeça. Falava o entrevistado que uma das razões das crianças não gostarem de livros era o fato de que, antigamente, a biblioteca nas escolas era lugar de castigo.

Daí, lembrei que era mesmo, pelo menos na minha escola.

Lembrei da inspetora dizendo, ameaçadora, pra minha turma encapetada do primeiro Científico (não existe mais, agora é Ensino Médio) do Daltro Santos: Todo mundo quieto, se não vão ficar pra Biblioteca!

Oh! palavra mágica. Silêncio total, afinal, ficar lá dentro, sentado, obrigado a ler livros que iam de Racine a José de Alencar era um castigo mesmo.

Meu Deus, mas quem foi o idiota que deu essa ideia: transformar o paraíso dos sonhos em pesadelo dos infernos? Talvez o mesmo cara que tirou as aulas das ruas, campos, praças, ao ar livre, dos gregos para colocá-las em salas fechadas, onde um grupo sentado observa, num púlpito, uma figura solene que impõe o silêncio reflexivo (ou não), uma espécie de missa, onde o padre, professor, fala sozinho, dogmas inquestionáveis que a gente tem (ou deve) aceitar porque perguntar, nem pensar, é heresia. Pena, pena mesmo.

Queria de volta a liberdade dos gregos nas aulas onde perguntar era obrigação, discutir, objetivo, questionar, consequência. Onde o Professor, pedagogo, era aquele que conduzia as crianças, literalmente (paidós – criança e agogé – condução), onde a posição era de igualdade, professor e aluno sentados ou em pé, conversando e aprendendo em conjunto, construindo conhecimento, onde a biblioteca era espaço dos livros desejados, não impostos.

Quis voltar no tempo mentalmente e dizer: Vou fazer muita bagunça pra encontra Machado de Assis, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Monteiro Lobato, Saint Exupery e me tornar um Pequeno Príncipe das histórias, sonhos e palavras para arrematar meu texto com frases que melhor explicam o que penso para vocês, meus leitores:

Porque “Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção” e “Conhecer não é demonstrar nem explicar, é aceder à visão.”

Só assim a gente entende quando ele diz: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

Então, vamos todos falar bem alto e ficarmos juntos, de castigo, nas bibliotecas de nossas vidas.