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Os eventos e seu impacto ambiental

Apesar de muito se falar a respeito do desenvolvimento sustentável no mundo, os impactos ambientais dos eventos não são foco das atenções dos governos, da iniciativa privada e tampouco da sociedade.

Flavia Goldenberg

Apesar de muito se falar a respeito do desenvolvimento sustentável no mundo, os impactos ambientais dos eventos não são foco das atenções dos governos, da iniciativa privada e tampouco da sociedade.

É recente o interesse da indústria de eventos em desenvolver pesquisas para entender a relação entre eles, o meio ambiente e a sociedade. Essa indústria tem crescido extraordinariamente na última década em termos de números, diversidade e popularidade; no entanto, os impactos tanto positivos, quanto negativos, são raramente discutidos.

Diante da preocupação da sociedade globalizada com os impactos das atividades humanas no planeta, os organizadores de grandes eventos e os governos têm sido pressionados a prestar contas dos efeitos causados pelos grandes encontros.

Alguns regulamentos, como o das Olimpíadas, já trazem essa preocupação documentada, mas muito há que se fazer para criar e implantar metodologias de gestão e monitoramento. “Os Jogos Olímpicos são realizados em condições que demonstram uma consciência pela questão do meio ambiente e encorajam o Movimento Olímpico a demonstrar esta responsabilidade…”

A História

Os grandes jogos esportivos sempre estiveram presentes na História das civilizações e tiveram papel importante na construção da cultura e das tradições da sociedade humana. Atualmente, os jogos transformaram-se em grandes eventos com o objetivo de promover e de difundir o espírito de liberdade, fraternidade, democracia social e igualdade.

Em 1896, depois de um lapso de 1.500 anos, o Barão Pierre de Coubertin (1863-1937) reviveu as Olimpíadas que, a partir de então, passaram a ser realizadas de quatro em quatro anos em países distintos.

A Copa do Mundo de Futebol, por sua vez, foi criada, pelo francês Jules Rimet, em 1928, após ter assumido o comando da instituição mais importante do futebol mundial: a Fifa (Federation International Football Association).

Os Jogos Olímpicos, assim como a Copa do Mundo de Futebol, são grandes catalisadores de mudanças nos países onde eles acontecem. São inúmeros os impactos sociais, culturais, econômicos e ambientais desses eventos, tanto positivos quanto negativos.

Os Impactos Socioeconômicos

Os impactos podem ser divididos em três categorias:

– O impacto direto que advém das operações do evento propriamente dito com aquisições de bens e serviços para a preparação dos jogos.

– Os impactos econômicos indiretos que são gerados pelos visitantes na aquisição de bens e serviços.

– E, finalmente, os impactos econômicos induzidos, que são os efeitos multiplicadores dos impactos diretos e indiretos criados pela reutilização desses recursos na criação de infraestrutura.

Por intermédio de estudos socioeconômicos, verificamos que os jogos funcionam como grandes molas propulsoras da atividade econômica e trazem consequente desenvolvimento social. Como exemplo disso, temos a entrada de investimentos externos e investimentos público-privados, criação de empregos pela grande afluência de turismo antes, durante de depois dos jogos.

Somam-se a isso, a renovação urbana com a edificação de estádios e vilas esportivas, a construção e melhoria dos meios de transportes, tais como linhas de metrô e de trens, além de novos aeroportos. As cidades-sede dos eventos são beneficiadas pela criação ou revitalização de parques urbanos, zonas de convivência, calçadões, reabilitação de bairros históricos e de monumentos. Isto acontece, pois é inegável a interdependência entre o turismo e a indústria de eventos.

Para se ter uma dimensão dos números, basta analisarmos os investimentos da China nos preparativos para os jogos de 2006. Ela investiu aproximadamente 40 bilhões de dólares somente em infraestrutura, de 2002 a 2006, e praticamente transformou a paisagem de Pequim.

Outros exemplos: o investimento para a preparação das Olimpíadas de Antenas, em 2004, foi de 11,2 bilhões de dólares; na Austrália, 16,2 bilhões de dólares; em Atlanta, 5 bilhões de dólares. É praticamente impossível medir o valor da grande exposição gerada pela publicidade mundial, mas esse fenômeno trouxe para Sidney (2000) mais de 6,1 bilhões de dólares de acréscimo nos negócios e, para Atlanta (1996), um crescimento de 30% no volume de negócios.

As Olimpíadas de Barcelona (1992) ajudaram a cidade a se manter à margem da crise de desemprego (de 18,4% para 9,6%), situação que a Espanha viveu de 1986 e 1992. Durante a fase das Olímpiadas, a Espanha toda atingiu taxas de 20,9 e 15,5%, portanto mais altas que as da cidade-sede.

Além dos aspectos numéricos, esses eventos causam mudanças de comportamento na sociedade por meio de uma atitude mais profissional e competitiva e, ainda, impulsionam o reconhecimento, a imagem e a reputação global de uma cidade ou país.

Alguns efeitos econômicos negativos são apontados em estudos, mas de pequenas proporções com relação aos aspectos positivos, como, por exemplo, o custo de manutenção de instalações esportivas em cidades menores onde não haverá demanda após a realização dos jogos; prejuízo de algumas indústrias por exigências de melhoria da qualidade do ar e consequente distanciamento dessas instalações das cidades-sede; e ainda, perturbações causadas pelas obras e encarecimento do custo das habitações e de impostos, tudo por conta dos gastos com construção de instalações e de infraestrutura.

Os Impactos Ambientais

Pouco está documentado a respeito dos impactos ambientais dos megaeventos esportivos; entretanto, as citações abaixo dão uma ideia das iniciativas para entender tais impactos.

“Os parques que foram construídos dois anos antes das Olimpíadas de Pequim representam três vezes o tamanho do Central Park em Nova Iorque.”

Segundo estudos do Dr. Michael Friedman e sua equipe, o número de atendimentos por ataque de asma em crianças caiu de 4,23 para 2.47 ocorrências por dia, durante as Olimpíadas de Atlanta, um decréscimo de 44,1%.

A estratégia implantada para transportes alternativos, por ocasião dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, proporcionou melhoria na qualidade do ar da cidade a ponto de causar diferença nas estatísticas de casos atendidos de crianças nos hospitais da cidade.

Nos estudos de Essex, Stephen and Chalkley e Brian, de 1998, em se tratando dos países asiáticos, os jogos foram benéficos para reduzir os níveis de poluição e melhorar os padrões de qualidade da água, higiene e descarte de resíduos.

Em Sidney, os jogos representaram um papel pioneiro de desenvolvimento urbano sustentável. O evento direcionou recursos para descontaminação de terras e incorporação do uso de energia de fontes renováveis e instalações aquíferas.

Se por um lado há benefícios localizados, por outro o impacto global é gigantesco.

Segundo David Smith, jornalista do Guardian, a Copa Mundial de Futebol é o maior evento esportivo do planeta, mais popular que as Olimpíadas e o SuperBowl somados. De acordo com seus dados, a pegada da Copa da África em 2010 foi de 2,75 milhões de toneladas, nove vezes maior que a da Copa da Alemanha e duas vezes maior que a de Pequim.

Para David, a energia baseada na queima de carvão e as longas viagens aéreas entre cidades foram as maiores responsáveis pela disparada das emissões de carbono na África. De acordo com a Unep, custariam estimadamente entre 13 e 24 milhões de dólares para zerar as emissões.

As boas condições encontradas na Alemanha, onde os transportes e a energia utilizam tecnologias mais limpas, onde há estádios e hospedagens mais “verdes”, onde cuidam da reutilização da água e da eficiência energética, foram fatores determinantes para a baixa emissão de carbono.

Quanto ao Brasil, algumas medidas estão sendo tomadas para que a Copa tenha menores impactos ambientais. Há uma intenção declarada do Governo em pensar numa “Copa Verde”. Está em discussão, na Câmara dos Deputados, um Projeto de Lei que obrigará a neutralização das emissões de carbono que serão geradas pela Copa do Mundo de 2014. As formas de neutralização em debate podem ser desde a redução do desmatamento e recuperação de solos degradados, até o desenvolvimento de tecnologias de uso de energias renováveis.

A Responsabilidade de Cada Um

Os eventos têm papel importante na vida da sociedade humana atual. Por outro lado, não restam dúvidas de que geram imensos impactos ambientais.

É preciso que os princípios do desenvolvimento sustentável sejam aplicados no desenvolvimento dos eventos, de forma a garantir que a sua realização seja monitorada com o cuidado proporcional às suas dimensões.

Assim sendo, os negócios envolvidos na realização desses eventos devem considerar seus resultados pela ótica do Triple Bottom Line e não apenas pela ótica socioeconômica.

Novas ferramentas para a Gestão da Sustentabilidade em eventos estão sendo desenvolvidas, como, por exemplo, a norma ISO 20121, os selos de certificação, os relatórios GRI, entre outros.

A Sob Medida Comunicação e Sustentabilidade assume sua parcela de responsabilidade no setor em que atua e, por isso, desenvolveu e lançou o “Sistema de Gestão de Sustentabilidade em Comunicação”, o SGSC, que encontra sua mais urgente aplicação na área de eventos.

A agência investe há muitos anos no conhecimento e desenvolvimento da sustentabilidade aplicada à sua área de atuação.

Referências Bibliográficas

Environmentally Sustainable Events: a critical review of the literature. Dr.Charles Arcodia and Chantal Dickenson, school of tourism The university of Quensland , Australia

Impact of changes in trasnportation and commuting Behaviors During the 1996 Summer Olympic Games in Atlanta on Air Quality and childhood Asthma, Michael Friedman, Kenneth Powel, Lori Hutwagner, Leroy M Graham, W. Gerald Teague.

Guardian, Novembro de 2009

Stephen Essex and Brian Chalkley  (1998) ‘Olympic Games: The catalyst of Urban change’

Economic Impacts of Olympic Games  – Departamento de pesquisa da  Locate in Kent’s – Richard Matthewman, Karima

Kamel and Mandy Bearne, julho de 2009

Sites Consultados

Ucho.INFO, maio de 2011

Roberto Pires, maio de 2011

CICLOVIVO, maio de 2011

Citações de citações

Burgan & Mules, 2000, Dwyer, Mellor, Mistills & Mules, Lee &Taylor, 2005 , Lee, 2006.

Carlse, Getz &Soutar, 2001

IOC,2004, OLYMPIC CHAPTER , rule 2, p.13