Experiência de Marca

O uruguaio que se tornou o "senhor da feira" no Brasil

Juan Pablo encara os eventos que organiza como um espelho da economia. “As feiras de negócios são um reflexo da economia local. Não conheço feira que faça milagres quando um país está em recessão.”

O uruguaio Juan Pablo De Vera é conhecido nos corredores do Anhembi, tradicional espaço de eventos de São Paulo, como o “senhor da feira”. Semana sim, semana não, ele está lá supervisionando a montagem dos estandes, conversando com os expositores, conferindo todos os detalhes para que nada dê errado. Juan Pablo, como é chamado pelos amigos, é o presidente da Reed Exhibitions Alcantara Machado.

“O interessante de uma feira é que, em quatro ou cinco dias, você mergulha em um setor diferente da economia”, define o executivo. “Você faz uma imersão.”

Juan Pablo De Vera (Foto: Greg Salibian/iG).

Juan Pablo recebeu a reportagem do iG durante a Feicon Batimat, o maior evento do setor de material de construção do País. No dia 28/03, ele abriu as portas da Fiee – Feira da Indústria Eletroeletrônica e de Energia, e no dia 29/03, as da Feimaco, de máquinas e componentes para o setor de confecções.

A anglo-holandesa Reed Exhibitions chegou ao Brasil em 1997 e era responsável pela realização de três feiras até fechar a joint-venture com a Alcântara Machado, em 2007. Ela tem 60% do capital da associação e, segundo Juan Pablo, não divulga o investimento. Com a união a uma empresa com mais de 40 anos de atividades no mercado brasileiro, foram incorporadas mais 23 feiras. Entre elas estão eventos importantes em seus setores, como o Salão do Automóvel e a Fenatran – da área de transportes.

Juan Pablo encara os eventos que organiza como um espelho da economia. “As feiras de negócios são um reflexo da economia local. Não conheço feira que faça milagres quando um país está em recessão”, diz. Segundo ele, o segmento está passando, recentemente, pela profissionalização. “Posso estar sendo injusto com meus concorrentes, mas se olharmos 30 ou 40 anos atrás, os expositores e organizadores eram todos sobrenomes de famílias, que eram donas das grandes empresas. Não havia administração profissionalizada. Nos últimos anos, porém, as feiras representam mais os negócios das empresas do que seus controladores”, explica.

Estratégia

A ofensiva da Reed no mercado brasileiro faz parte da estratégia global da empresa de apostar em negócios nos países emergentes. “Em 2003, decidimos lançar um plano para esses países, porque até então os negócios eram divididos entre 80% nos desenvolvidos e 20% nos países periféricos”, conta Juan Pablo. Em 2004, a empresa fez uma parceria com uma empresa chinesa. Dois anos depois chegou à Rússia e em Abu Dhabi, e no ano seguinte, na Índia. “Para o Brasil, temos um plano ambicioso de atingir uma posição majoritária” do mercado de feiras.

Seguindo essa tônica, a companhia comprou a MG em 2009 e se tornou a responsável pelo Salão Duas Rodas, importante concorrente do Salão do Automóvel, e pela Brasil Offshore, a maior feira do setor de petróleo da América Latina, fazendo o total de eventos subir para 42 no País.

Juan Pablo, que é administrador de empresas, entrou para o grupo por meio da filial de Buenos Aires. Já passou pelas unidades do México e da Espanha, até assumir a presidência no Brasil. Ele diz não ter informações sobre a posição de sua companhia, mas cita os dados da Ubrafe, a entidade que representa os cerca de 30 maiores realizadores de feiras no Brasil. Por essas contas, a Reed tem 17% do calendário anual elaborado pela entidade. “Desde 2007, nós dobramos de tamanho, e o desafio é duplicar novamente nos próximos três anos”, acrescenta. “As feiras estão cada vez mais se tornando vitrines.”

Mais eventos

Em fevereiro deste ano, após mais uma negociação, a Reed fechou uma parceria para futura aquisição com a Multiplus Feiras e Eventos, com sede em Ribeirão Preto, no Interior de São Paulo. Com isso, somou mais dez eventos ao seu portfólio, alguns tradicionais no agronegócio, como a Fenasucro e Agrocana – o principal evento do setor de etanol – e a Sucronor, especializada no segmento de açúcar, realizada no Nordeste. “Ainda temos muito a crescer no Brasil. Estamos muito concentrados em São Paulo e estamos começando a ir para o Rio e para outras capitais, além do Interior de outros Estados”, afirma.

A Reed Exhibitions pertence à Elsevier, uma das editoras mais antigas do mundo. No ano passado, a receita do grupo foi de dez bilhões de euros (algo em torno de R$ 23,5 bilhões), sendo que a Reed foi responsável por 10% desse valor, com a realização de 430 feiras em 34 países.

Segundo Juan Pablo, as Américas respondem por 32% da receita do negócio global de feiras. O crescimento mundial de faturamento foi da ordem de 4%, mas ele ressalva que é preciso cuidado ao fazer comparações anuais, já que há eventos que acontecem a cada dois anos, como a Bienal do Livro, no Brasil – um dos “xodós” de Juan Pablo.

Fonte: Nelson Rocco/iG São Paulo.