Experiência de Marca

O que há por detrás das arquibancadas - por Marco Garcia

Terminou no último dia 24/11, a Soccerex, a feira mundial de negócios da Fifa, realizada no Rio de Janeiro, em plena Copacabana. Ali, comecei a entender e desnudar o que há por detrás das arquibancadas, pois o cenário do futebol para a maioria dos mortais está limitado às quatro linhas e suas arquibancadas barulhentas e apaixonadas.

Marco Garcia

Terminou no último dia 24/11, a Soccerex, a feira mundial de negócios da Fifa, realizada no Rio de Janeiro, em plena Copacabana. Ali, comecei a entender e desnudar o que há por detrás das arquibancadas, pois o cenário do futebol para a maioria dos mortais está limitado às quatro linhas e suas arquibancadas barulhentas e apaixonadas.

Foram quatro dias de ações, palestras, debates, mas principalmente e prioritariamente, efetivação de negócios. O público trajando roupas esportivas e descontraídas foi substituído por executivos e executivas de terno, gravata e vestidos, discutindo, fomentando e desenvolvendo negócios em torno de tudo que permeia o futebol, desde a construção de estádios, passando por serviços de consultoria até a oferta de gramas sintéticas com materiais de última geração tecnológica, tudo isto envolvendo vultosos valores em dinheiro.

Mesclados a esses executivos, encontramos ex-jogadores de várias seleções campeãs do mundo transformados em embaixadores de marcas e produtos, os quais emprestam suas imagens para atingir os objetivos de grandes grupos de negócios, tudo isto em um planejado e estudado plano estratégico de negócios.

Mas, paralelamente, fomos confrontados com realidades que não podem ser encobertas nesse mercado, pois o investimento em uma Copa do Mundo não é só dos governos que sediarão os jogos e suas estruturas, mas também das empresas que investirão. Os aportes previstos são de três a 150 milhões de reais cada uma em torno da Copa 2014, em lançamento de produtos, fixação de marcas e ativações diversas, visando ao aumento de vendas e à consolidação de resultados efetivos.

Frente a isso, enquanto se discutiam milhões e milhões no exuberante e inovador pavilhão de negócios erguido no Forte de Copacabana, o confronto entre o crime organizado e o Governo do Rio de Janeiro era latente e alarmante, trazendo aos mais de 2,5 mil executivos estrangeiros de empresas dos cinco continentes um temor velado, que podia ser sentido no ar de apreensão e nas conversas nas áreas de café e nos lobbies dos hotéis, que estavam todos lotados para receber os mais de cinco mil inscritos neste evento.

Enquanto se fomentavam negócios, perguntava-se onde estavam os planos de infraestrutura do governo para a solução de aeroportos e portos ou o planejamento das cidades-sedes sobre a demanda hoteleira, infraestrutura de hospitais e capacitação de pessoal, esta última de vital importância, mas que está sendo deixada na última linha da lista de prioridades.

A quatro anos da Copa, só se fala em construção de estádios e nada sobre como se chegar a eles e quais os legados da competição. Um bom exemplo é o Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, um elefante branco erguido para atender aos Jogos Panamericanos e que não teve um plano de urbanismo e um planejamento estratégico do entorno, transformando em “caos” para a população e torcedores o acesso a jogos, pois as ruas do bairro continuam estreitas e modeladas como há 60 anos.

Precisamos pensar e agir estrategicamente e entender que, paralelamente às grandes construções e investimentos em infraestrutura, deve-se investir em pessoas, em treinamento, em gestores capacitados para administrar, conduzir e operar todos os babilônicos empreendimentos que estão sendo implantados, pois só se pensa em ganhar, e estamos esquecendo de pensar o todo, especialmente no elemento humano que terá que operar todas estas obras e serviços.

As empresas têm falado muito em humanizar as ações. Pois bem, esta é uma ótima oportunidade de colocar esse discurso marqueteiro em prática. É uma boa chance política para os governos mostrarem seu papel de gestores e aplicarem políticas públicas em torno da capacitação de pessoas para construir um mercado de turismo forte e consistente.

Chega de vendermos mulheres nuas e prostituição infantil. Temos uma chance de criar um negócio de longa duração e de um legado espetacular que é o ESPORTE COM TURISMO SUSTENTÁVEL, pois nenhum país tem a convergência de fatores que temos aqui no Brasil – povo charmoso e acolhedor, mais locais paradisíacos, mais áreas de sustentabilidade naturais, mais gastronomia e área de expansão de negócios. Enquanto os países árabes e asiáticos criam ilhas artificiais de entretenimento e obtêm sucesso, temos aqui todo este potencial de maneira natural.

Que parte dos bilhões que serão investidos nesta Copa possa ser destinada à capacitação de pessoas, à formação de gestores preparados e especializados em administração do esporte, de executivos de negócios com graduação em negócios esportivos. Não podemos perder essa chance de criar um dos mais promissores cenários de negócios do esporte do mundo, e só nos resta bradar a frase de um célebre jornalista: ACORDA, BRASIL.