Experiência de Marca

O nosso jogo tá uma m... Quem quer o apito?

Que o mercado está cada vez mais antiético, a gente sabe. Que o cliente, de uma maneira geral, está cada vez mais júnior e pouco profissional, ok, também sabemos. O problema é que quando a gente pensa que o fundo do poço chegou, ele se mostra ainda mais longe.

Publicado originalmente em 23/10/12.

E vão me chamar de ácido, chato, repetitivo, recorrente e outros “res” por aí, mas não posso ficar quieto. Nem quando alguém me manda uma história, um fato, que ocorre no mercado com uma agência ou um profissional, muito menos quando acontece com a gente, aqui na empresa.

Que o mercado está cada vez mais antiético, a gente sabe. Que o cliente, de uma maneira geral, está cada vez mais júnior e pouco profissional, ok, também sabemos. Que o respeito ao nosso trabalho está cada vez menor, também não é novidade. O problema é que quando a gente pensa que o fundo do poço chegou, ele se mostra ainda mais longe.

Não param de aparecer agências promo e de Comunicação por aí. Só no meu prédio, em três meses, surgiram duas. Não param de surgir, no Rio, agências vindas de todos os cantos do Brasil, montando salas, fazendo parceria, algumas montando estruturas grandes mesmo.

As novas, por absoluta falta de nomes pertinentes ao que fazem (todos já foram usados, claro), tem-se dado nomes esquisitos… Algumas tem nomes próprios, tipo “Agência João e Maria Eventos”. Outras genialmente colocam o nome ao inverso, com “Airam (Maria ao contrário) Promoções e Eventos”, outras são cores, outras ainda, figuras geométricas, outras nomes esquisitos, feito onomatopeias, “Tchan, tchan, tchan tan Eventos”…

Nada contra a falta de criatividade, muito menos ao desejo legítimo de estar no mercado, mas essas efêmeras tentativas estão virando arma na mão dos clientes contra agências sérias, constituídas e profissionais, que investem em estrutura e gente.

Pois bem. Num único mês, três fatos me mostram que esse volume insustentável de pseudo-agências está mudando o jeito de trabalhar até das empresas que respeitavam nosso trabalho. Elas chegam ao cliente pra fazer número e procuram concorrer com a única arma que tem: o custo. Como não investem em nada, algumas não têm nem estrutura física, esperam um evento para ter grana e subir um degrau.

Pro cliente é ótimo. Eles “dão uma chance” a elas para com seus custos, para metrarem as outras agências. É assim: ”Você é nossa preferida mas a Airam tá com o custo 40% menor. Queremos vocês, mas têm que baixar o custo queridão!”

Mas como comparar essas agências? Uma apresenta ideias inovadoras, profissionais qualificados a executar o trabalho, custos reais, compatíveis com o que criaram e com que o mercado cobra, gestão efetiva, trabalho planejado considerando o pré e pós evento, fornecedores reais e com experiência comprovada em suas áreas de ação, enquanto a outra talvez nem saiba explicar algumas das palavras acima.

Quem está ganhando com isso? O mercado? Os profissionais? O cliente? Ninguém! Seguem-se os eventos com problemas, alguns graves. Enquanto o evento for “meia boca”, tudo bem, porque ninguém reclama mesmo se não der uma tremenda “merda”. Se der, trocam os caras de Marketing, porque os de compras só estão presentes antes do evento. Durante e depois não.

E eu lastimo. Vejam: um cliente significativo, grande mesmo, faz uma concorrência, na qual participaram cinco agências, três delas, pelo menos, de verdade e o cliente sabia, de antemão, que o evento não ia acontecer. Ou seja, quem ganhasse não levava. Onde fica o respeito ao trabalho das agências? Por que não cancelar a concorrência?

Outro, pede um trabalho de pesquisa de gifts, limita o budget para ver a capacidade criativa e, ao final, dá como resposta que optou por usar brindes de experiência, portanto num budget em muito superior e absolutamente fora do que pediu em briefing. Então por que pediu o trabalho? Não seria melhor contratar alguma agência especializada em gift?

Pra piorar, numa concorrência em que o cliente, tacitamente, pede em briefing tema e conceito que envolve tecnologia, vence quem apresenta o menor preço, sem que a temática ou o conceito criativo tivessem peso algum. Nesse caso deu agência com nome de gente. Então, por que não fizeram uma concorrência de preço, sem temática?

Estamos andando pra trás, e o poço e a vaca (e os porquinhos), avizinham o brejo. Não bastasse uma crise econômica que já se mostra restritiva, vivemos a crise do talento, da qualificação, do respeito profissional. Não se pode comparar banana com amendoim, profissional com amador, custo com valor, coisa pronta com resultado.

Estamos igualzinho ao futebol. Os times são profissionais, os técnicos também, mas os juízes, que mandam no jogo, são (ou se fazem de) amadores. O problema é que, no jogo, a gente tem que aguentar quietinho o dedo em riste, o enquadramento e as decisões de V. Ex.

Não podemos falar nada. Se falamos, tomamos o amarelo ou o vermelho e estamos fora. Podemos até ser craques e jogar um bolão, mas estamos expostos a qualquer cabeça de bagre, que mete “porrada” na gente. A gente não pode reclamar não.

Talento, pra quê? Podemos até fazer gol lícito, mas quem decide se é gol, se a bola entrou ou não – mesmo com milhares de pessoas gritando: golaço, golaço! – são eles que, na maioria das vezes, nem sabem jogar bola.

Nesse jogo, a gente tá mal. Eu acho que tá na hora da gente se voltar definitivamente pra nossa CBF (a Ampro) – sem comparações além a metafórica, tá – e pedir para ela nos colocar na mesa, pra falar de igual pra igual, os craques e os juízes.

Quanto aos cabeças de bagre… Ah!, tem muito craque por aí, então dá pra barrar eles, colocá-los na reserva, qualificá-los com treinamento e exigências ou então simplesmente bani-los do jogo por total incompetência em entender que a bola é redonda.

Quem quer o apito?