Experiência de Marca

O fogo do desejo

Usamos o fogo como a primeira tecnologia disponível, trazendo acessos, informações e conexões. E nos reunimos ao seu redor para socializar nossas incertezas, sonhos e nossos desejos — nosso fogo interior.

Por Marina Pechlivanis

“O belo muda, o saber muda, a inteligência muda, a medida muda. Mas o desejo é inalterável.” (Rubem Fonseca)

Quem nasceu primeiro: o desejo ou o objeto de desejo?

Dizem os estudiosos que no princípio, depois do nada, tudo era uma grande bola de fogo.

E, teorias evolutivas à parte, aparecemos nesta história. Aos adeptos da mitologia, talvez do fogo de Prometeu. Usamos o fogo como a primeira tecnologia disponível, trazendo acessos, informações e conexões. E nos reunimos ao seu redor para socializar nossas incertezas, sonhos e nossos desejos — nosso fogo interior.

Se não houvesse nada para se desejar — conforto, proteção, prosperidade, saúde, alimentação, segurança, eternidade, status, prestígio, poder — se não houvesse fogo nos olhos de cada um querendo coisas e sensações, talvez a humanidade ficasse acomodada, parada. Precisamos de algo que nos afete para sair da zona de conforto.

Somos movidos por afetos. Pelas coisas que nos afetam e pelas coisas que despertam a nossa afeição. Vale para a teologia, para a sociologia, antropologia, psicologia, psiquiatria… e para a mercadologia também.

Sem desejos não há felicidade possível; convém satisfazê-los sempre, mas de forma que nunca fiquemos saciados, refletiu há mais de cem anos o fisiologista Paulo Mantegazza. E mais: para desejar, precisamos conhecer. Não se deseja o que não se conhece, declarou há milênios o pensador romano Ovídio.

Mas ora ora! O mercado se incumbe de nos manter com a chama permanentemente acesa para boas oportunidades, boas compras, boas trocas, boas promoções, bons rituais de consumo que nos mantêm permanentemente afetados pelo desejo de possuir, nomear, colecionar, organizar e expor nossos pertences. Ah!, e de partilhar nossas experiências e vivências também.

Quem precisava do app Draw Something, a versão virtual do jogo Imagem & Ação, quem tem mais de 35 milhões de downloads na Apple Store? Afinal, como diz David Ko, da empresa criadora do produto, “As pessoas estão muito ocupadas. Elas querem maneiras rápidas de se dizer ‘oi’, de se manter em contato. E não há jeito melhor para fazer isso do que jogos.”

Ninguém desejava fazer uma campanha de advergame nesta plataforma, mas agora que ela existe, por que não?

http://itunes.apple.com/us/app/draw-something-free/id488628250?mt=8

E quem necessitava fervorosamente de um clicker, aparelho portátil e sem fio que serve para pessoas falarem em reuniões, alunos registrarem a presença nas salas de aula, eventos que demandem votação instantânea ou testes múltipla escolha — em resumo, substitui o ato de levantar a mão?

“Com um clicker, todos na sala têm contribuições e podem expressar suas opiniões anonimamente”, disse Eric Johnso, do Centro para as Ciências da Decisão, da Escola de Negócios de Columbia, em Nova York.

“Esta é uma nova forma de transparência para a psicologia das multidões”, declarou James Katz, diretor do Centro para Estudos das Comunicações Móveis na Universidade Rutgers, Nova Jersey.

Uai!, como já está disponível e fazendo sucesso com nove milhões de unidades vendidas nos últimos anos, por que não transformá-lo em um descolado gift de fim de ano?

http://www.nytimes.com/2012/03/31/us/clickers-offer-instant-interactions-in-more-venues.html?pagewanted=all

E os uniformes inteligentes, que vêm com chip instalado na camiseta e emite ondas de rádio-frequência que registram os acessos das crianças na escola?

Já que tem… Hum!, pensou em uma ação promocional para o seu cliente, certo?

http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2012/03/cidade-baiana-controlara-frequencia-escolar-com-uniforme-inteligente.html

Resumo da ópera: o desejo, qual fogo que arde sem se ver, sempre existiu, em intensidades diferentes, dentro de cada um de nós. E os objetos de desejo estão aí, esperando alguém para desejá-los.

Para algo ser desejado, precisa ser desejável. E conseguir isso não é fácil não; é fogo!

Vai ficar perdido neste silogismo ou vai pensar em algo inovador para despertar o desejo dos clientes, da concorrência, do mercado?

Em tempo: cuidado com aquilo que você deseja.

Vai que você consegue?