Por Antonia Goularte
Livre arbítrio, liberdade de expressão, direito de ir e vir, direito do consumidor, publicidade infantil, Conar, Procon e outros mais. Que ligação tem essas expressões? Até algum tempo atrás, poderíamos dizer que nenhuma, hoje, porém, estão totalmente interligadas.
Não tenho, em momento algum, a pretensão aqui neste post de defender as marcas que se utilizam de brindes e outros artifícios para atrair o público infantil e fazer com que seus produtos sejam consumidos. Objetivo, apenas, mostrar alguns parâmetros que envolvem marcas x educação.
O McDonald’s, mais uma vez está envolvido em polêmica por tentar “subverter” as crianças. Veja aqui. Não é de hoje que a marca tem sido alvo de severas críticas por fazer uso de brindes para vender os seus sanduíches. O alvo do momento é o Ronald McDonald.
Que fique bem claro: a rede de fast food não é a única a utilizar dessa estratégia de marketing para aumentar as vendas. A Caixa Econômica fez isso quando do lançamento do “Poupançudo” para ‘aquecer’ os depósitos em sua caderneta de poupança.
O Kinder Ovo, desde o seu lançamento no Brasil veio com brinde. Confesso, que, na época, eu já adulta, me viciei nos brinquedinhos e consegui montar a coleção completa. O chocolate? Ah!, eu não gostava. Dava de presente. Prefiro, hoje, nem pensar em quanto, financeiramente, investi nisso. Foi uma verdadeira febre.
O que mais me chamou a atenção, quando do surgimento do Kinder Ovo, é que eu não via quase crianças envolvidas na troca dos brindes. A maioria era adulto, embora o objetivo da marca era o público infantil. Conheci pessoas que colocavam os brinquedos no ponto mais alto da estande para que seus filhos não mexessem.
Bom, isso são apenas exemplos, para mostrar que os departamentos de marketing, que têm a função de criar mecanismos para alavancar as vendas, estão fazendo a sua parte. Ou seja, cumprindo com a sua obrigação.
A pergunta que faço é: Os pais estão fazendo a sua? As crianças não vão sozinha aos pontos de venda, elas não têm dinheiro no bolso e nem liberdade para efeturarem as suas próprias compras. Quem propicia isso a elas são os seus responsáveis.
Quando da ação promocional da Caixa, os “Poupançudos do Rock” (relembre aqui), recebi centenas de e-mails aqui na redação do Promoview, de todos os cantos do Brasil, com pais desesperados porque não encontravam os bonequinhos na CEF de suas respectivas cidades. Eles não queriam repetir, queriam ter todos.
O quê, mais uma vez me chamou a atenção, é que não veio nenhuma mensagem de criança. É possível perceber a diferença. Teve um pai que escreveu: “Meu filho de três anos está desesperado porque não consigo encontrar”.
Por favor gente! Uma criança de três anos de idade, por mais esperta que seja, por mais “tecnológica” e “antenada”, ainda não fica “desesperada” porque não conseguiu um boneco.
Não me lembro de ter visto, em lugar nenhum, nenhuma criança que se matou porque não conseguiu comprar um McLanche Feliz, um Kinder Ovo e tantos outros. Entre o querer, poder, ter e precisar, há uma distância muito grande.
Querer tudo o que é mostrado na mídia, todo mundo quer. Não é um “defeito” das crianças. Nós, adultos, também queremos. A diferença, é que já conseguimos diferenciar o querer, poder, ter e precisar.
Só, que há um porém nisso. Somos nós, os adultos que temos a responsabilidade de orientar as nossas crianças. Portanto, não adianta culpar o McDonald’s, a Coca-Cola e tantas outras marcas, por exemplo, como os únicos responsáveis pela obesidade infantil e pelo consumismo.
A responsabilidade da educação de uma criança é de seus pais. Se eles não conseguem se controlar quando veem uma promoção envolvendo brindes, se não têm capacidade de orientar os filhos sobre o que é bom ou ruim para eles, se não controlam a sua alimentação, não vão ser os órgãos de defesa do consumidor que vai conseguir isso.
Está na hora sim, de marcas encontrarem estratégias de marketing que não sejam tão descaradas e que pais, tomem à frente na educação de seus filhos e saibam separar o joio do trigo.
Só para encerrar. A Cacau Show foi ao Facebook dizendo que bastava lamber a tela para sentir o sabor de chocolate (Veja aqui). Em menos de 24 horas na rede social, o post teve 894 compartilhamentos e mais de 2,6 mil curtidas. Será que tinha alguma criança indefesa acessando a rede social que caiu nessa pegadinha?
O Dia das Crianças está aí. Quem vai mandar? Crianças, marcas ou pais?