Após quase oito anos fechado por problemas estruturais, o Teatro Gregório de Mattos, localizado na Praça Castro Alves, no Centro de Salvador (BA), foi reaberto no dia 11 de junho. A cerimônia teve início às 19 horas e foi aberta apenas para convidados.
A restauração contou com investimentos da ordem de R$ 2 milhões – sendo metade de recursos públicos e outra metade privados – e conservou as características originais do teatro, que tem o projeto arquitetônico idealizado por Lina Bo Bardi.
O projeto faz parte da plataforma de incentivo à cultura do Banco Itaú e contou com a parceria da Prefeitura de Salvador.
Fotos: Max Haack e Valter Pontes.
A arquiteta italiana, que traçou a alma do centro de Salvador foi uma das homenageadas durante a reinauguração, com uma exposição intitulada “Amar a Lina”, do artista plástico Joãozito, que celebra o centenário de Lina e conta a relação dela com a cidade de Salvador.
A mostra permanecerá no local por dois meses, com visitação gratuita, de quarta a domingo, das 13h às 19h.
A reinauguração teve também apresentação do ator Jackson Costa, que foi o mestre de cerimônia e esteve caracterizado de Gregório de Mattos Guerra, tido como o primeiro poeta brasileiro.
O soteropolitano, nascido em 1633 e que dá nome ao espaço, ficou conhecido como “Boca do Inferno”, pelas críticas ferozes e debochadas que fazia em suas poesias à sociedade do Século XVII. Uma caricatura do poeta, de autoria do cartunista baiano Flávio Luiz Nogueira, passa a representar a nova logo do teatro.
A programação de reinauguração contou ainda com o espetáculo musical “Eu Te Amo Mesmo Assim”, estrelado pelos baianos Laila Garin e Osvaldo Mil, que foi apresentado nos dias 13 e 14 de junho.
Reforma
Essa á terceira reforma realizada no teatro desde sua inauguração, no ano de 1935. Presidente da Fundação Gregório de Mattos desde 2013, o diretor teatral Fernando Guerreiro ressalta que o espaço tem formato alternativo e está apto a receber propostas de diversas linguagens artísticas, como teatro, música, dança, literatura e artes visuais.
“O objetivo é retornar o projeto de Lina e à proposta original, que é a de ser um teatro multiuso. Ele vai ter uma linha muito próxima dos musicais. Vamos tentar trazer vários. O espaço nunca funcionou com uma linha especifica, e agora vai priorizar os espetáculos experimentais e musicais.”, destaca Guerreiro.
Entre as intervenções realizadas estão novas instalações elétricas, de incêndio e para-raios, instalação de equipamentos de som e de iluminação cênica e expositiva, além da reestruturação da ladeira da Barroquinha, um dos acessos ao teatro, com escada de granito e calçada de pedras portuguesas.
A prefeitura de Salvador chegou a anunciar que o teatro seria reaberto em março de 2014, mas um ato de vandalismo adiou a reinauguração. “Houve grande arrombamento no final de 2013. Pessoas entraram e levaram vários cabos, destruíram a parte elétrica, e isso acabou atrasando a obra e aumentando o custo. Hoje, o teatro é todo gradeado.”, disse Guerreiro.
Histórico
O Teatro Gregório de Mattos foi criado no espaço onde funcionava o antigo Cabaré Tamaris, que teve seu auge entre as décadas de 50 e 60. O prédio, antes único, foi posteriormente dividido e hoje abriga o teatro e o Espaço Cultural Glauber Rocha, um complexo com cinco salas de cinema.
Em 1979, o teatro foi reinaugurado, mas só tinha um andar. O novo formato, com dois andares, só apareceu no ano de 1986, com o projeto de Lina Bo Bardi. A partir de então, exposições passaram a ocorrer no andar térreo – que atualmente possui 400 m² -, enquanto o outro andar recebe exibição de peças de teatro.
Na década de 90, o espaço passou por nova reforma, que mantece o novo formato. O projeto de Lina, idealizadora de uma arquitetura despojada, oferece ao espectador a possibilidade de participação no espetáculo, já que o formato é de uma arena, hoje com capacidade para 400 pessoas.
“A arquitetura alternativa permite várias disposições do palco e da plateia. Isso é o que diferencia o Gregório de Mattos de outros teatros de Salvador que possuem palcos convencionais.”, destaca Guerreiro.
