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Gestão da mentira prevalece nas corporações

A notícia não é boa para agências e profissionais do mercado promocional que tem seu dia a dia praticamente dentro das grandes corporações. Os dirigentes brasileiros mentem. Isso acontece, principalmente, quando o assunto é gestão.

Pesquisa com executivos mostra que mentiras dão o tom da gestão no Brasil. Essa prática não se restringe ao âmbito interno das organizações. Para 21% dos entrevistados o que se fala para os fornecedores não é necessariamente o que é realizado.

A notícia não é boa para agências e profissionais do mercado promocional que tem seu dia a dia praticamente dentro das grandes corporações. Os dirigentes brasileiros mentem. Isso acontece, principalmente, quando o assunto é gestão.

É o que mostra pesquisa realizada com 330 representantes do alto escalão das maiores empresas em operação no País, sendo 48% com faturamento anual superior a R$ 5 bilhões.

No estudo, os comandantes admitem que a mentira em suas companhias é comum em assuntos relacionados aos funcionários, fornecedores, parceiros e até governo, ou seja: em tudo.

“Eles dizem uma coisa e fazem outra”, afirma a pesquisadora e consultora Betania Tanure, autora de diversos livros sobre o ambiente empresarial, entre eles “A gestão de pessoas no Brasil”, que conduziu o estudo.

Entre os pesquisados, 74% admitem que o discurso oficial é oposto ao que acontece na prática. Essas incoerências aparecem nos mais diversos âmbitos da gestão – desde o feedback enganoso, à falsa preocupação com qualidade de vida das equipes que continuam sendo altamente demandadas e até o privilégio para amigos em detrimento dos demais funcionários.

Um dado que chama a atenção, de acordo com Betania, é que as mentiras não se restringem ao âmbito interno das organizações. Mais da metade dos respondentes disseram que a prática se estende também aos fornecedores e aos clientes.

“Muitas vezes, os problemas de execução são escondidos.” Para 21% deles, o que se fala para os parceiros não é necessariamente o que é realizado. Cerca de 30% dizem que o mesmo acontece com os clientes. “O discurso para conquistá-los muitas vezes está distante da realidade”, afirma.

Quase 60% dos pesquisados dizem que o desempenho dos subordinados não é discutido, e, quando isso acontece, a verdade nunca é dita. “Isso é preocupante porque cria na pessoa uma percepção distorcida sobre a própria performance”, diz Betania.

Essa falta de conhecimento fica evidente, por exemplo, quando alguém é surpreendido com a demissão, uma vez que não percebeu qualquer sinal de descontentamento do superior. “É injusto a pessoa não saber como seu trabalho é avaliado”, completa Betania.

O mais grave, segundo a pesquisadora, é que 9% dos respondentes afirmam que não elogiam ninguém para que o empregado não se acomode e se torne preguiçoso. “Essa é uma postura do século passado que vai contra todos os princípios de engajamento e motivação tão discutidos hoje em dia.”

Senso de justiça parece também ser outro embuste no mundo corporativo. Enquanto no discurso os executivos costumam propagar que suas empresas tratem todos de forma igualitária, no dia a dia a história perece ser outra. No levantamento, 26% dos entrevistados dizem que as diferenças existem, além de uma visível preferência dos dirigentes pelos amigos.

Segundo Betania, essa é uma característica de culturas mais coletivistas como a brasileira e outras de origem latina. “Nelas, as relações pessoais estão mais presentes no ambiente de trabalho”, afirma.

Mas esse tipo de comportamento é notado também entre russos, chineses e indianos. Em sociedades mais individualistas como a americana, a canadense ou a sueca, por exemplo, o lado pessoal e profissional não se misturam tanto nas organizações.

Falsa autonomia é outro ponto levantado no estudo. Um em cada quatro entrevistados afirma que os chefes costumam dizer que os subordinados têm poder para decidir algo, mas logo em seguida alteram a decisão tomada por eles.

Na verdade, os comandantes sempre têm a palavra final. Inclusive, as relações que se dizem respeitosas, para 14% dos executivos ouvidos são, na verdade, desrespeitosas.

O autoritarismo, segundo o estudo, predomina nas corporações brasileiras. “Falar de gestão democrática é uma grande mentira”, diz a pesquisadora. Essa falsidade, segundo ela, está em todos os lugares, dos corredores às salas de reunião das diretorias.

“Ninguém imagina o que as pessoas pensam de fato sobre elas”. Para 12% dos respondentes chamar alguém de amigo no alto escalão não significa nada, pois pelas costas “todo mundo enfia a faca.”

Até para o poder público os executivos mentem. Nesse caso, a mentira pode envolver sonegação, questões trabalhistas, de segurança ou falsos motivos alegados para o fechamento de uma fábrica, por exemplo.

Desse relacionamento institucional incoerente não escapa nem mesmo a comunidade que gravita ao redor da companhia. Isso acontece quando a empresa diz que investirá em educação e não gasta nada com isso, ou quando ela afirma estar cumprindo metas ambientais e não está. “O caso clássico é o executivo negar algo que realmente disse”, diz Betania.

O lado positivo do estudo, para a pesquisadora, é que os brasileiros estão admitindo as falhas na gestão. Segundo ela, os dados precisam ser usados para tratar dessas inconsistências, pois elas afetam o resultado operacional. “A mentira tem perna curta.”