Experiência de Marca

Garçom, traz a mais gelada! – Por Marcos Hiller

Quando o assunto é mercado de cerveja, reúna todo aquele conhecimento que se aprendeu na faculdade, os 4 Ps de marketing, promessa de marca, construção de posicionamento etc., e jogue fora.

Marcos Hiller*

Quando o assunto é mercado de cerveja, reúna todo aquele conhecimento que se aprendeu na faculdade, os 4 Ps de marketing, promessa de marca, construção de posicionamento etc., e jogue fora. O processo de comunicação do segmento de cerveja hoje em dia é regido por uma ordem que não encontra facilmente nos livros de marketing. Atualmente, muito mais que tentar vender meros atributos racionais ou emocionais do produto, a comunicação destas marcas procura se basear em aspectos lúdicos, irracionais e, até mesmo, incompreensíveis.

Hoje, ligamos a televisão e vemos Beto Barbosa cantando Adocica, Sandy dançando em cima de balcão de bar ou, então, até duas “loiras” gringas da marca nordestina Proibida (sediada no município de Pindoretama/CE). Todas essas são exemplos de como indústrias cervejeiras estão se utilizando de munição de marketing para se conectar aos seus consumidores. O que boa parte deles não sabe é que o ganho de market share no feroz mercado de cerveja depende de variáveis mais complexas e mais estratégicas como gestão disciplinada de força de vendas, capilaridade de pontos de distribuição, entre outros.

Vale a pena lembrarmos aqui o polêmico caso da cerveja Devassa que utilizou a, literalmente, devassa Paris Hilton no lançamento da marca. Há quem diga que neste comercial, os executivos da marca propositalmente passaram do ponto na sensualidade do comercial, justamente para ser vetado pelo Conar e, com isso, ganhar visibilidade e buzz marketing para a marca. E, mais recentemente, quem estrelou a campanha foi a recatada filha de Xororó, que não bebe cerveja (pelo menos é a imagem que nos é passada). Não adianta, market share de cerveja não decola assim.

No caso mais recente da marca Proibida, a estratégia de utilizar redes sociais foi uma das principais formas encontrada pela empresa para concorrer com as gigantes do mercado. O que os executivos da empresa talvez não saibam, é que cerca de 20% de nosso País apenas tem acesso a essas plataformas tecnológicas.

O programa “Pânico na TV!”, da Rede TV!, ainda que patrocinado por uma marca de cerveja da concorrência, mostrou as superloiras da Proibida por várias semanas no reality “As Tchecas do Brazil”, sem saber que era uma campanha publicitária.

O programa ficou sabendo por meio do jornal Folha de S.Paulo. Não adianta, market share de cerveja não cresce assim. Eles poderiam ter pego uma parte dos R$ 60 milhões que estão investindo na marca e destinar para comissão para equipe de vendedores. Certamente, o ponteiro de vendas da marca ficaria mais feliz.

Para entrar nesse mercado e disputar com gigantes como AmBev (simplesmente a maior cervejaria do mundo), ou Heineken, não basta ter um produto de qualidade, um sabor único ou um preço que o consumidor esteja disposto a pagar. Logicamente, são variáveis importantes a serem analisadas, mas, no fundo, o que realmente conta é o processo de vendas e distribuição ou se preocupar com o hábito do bebedor de cerveja no bar, que se resume no: “Garçom, traz a mais gelada!”.

*Marcos Hiller é coordenador do MBA em Branding (Gestão da Marca) da Trevisan Escola de Negócios. Formado em Marketing pela ESPM, tem especialização em Marketing de Serviços na FAAP e MBA em Gestão de Marcas na Universidade Anhembi Morumbi. Foi idealizador do 1º Branding Week.