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Flip teve musa, ciência, polêmica e lágrimas

Mais de 40 mil ingressos foram vendidos para as mesas de debates, que renderam momentos marcantes para a plateia.

A nona edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro, reuniu cerca de 25 mil pessoas, segundo a organização, ao longo dos cinco dias de evento que homenageou o modernista Oswald de Andrade. Mais de 40 mil ingressos foram vendidos para as mesas de debates, que renderam momentos marcantes para a plateia. Outros fatos de destaque ocorreram nos bastidores do evento. Em tempo: o homenageado da décima edição, em 2012, será Carlos Drummond de Andrade.

Plateia lotada já no primeiro dia de debates literários (Foto: Divulgação).

A musa

A argentina Pola Oloixarac chegou a Paraty badalada e com status de musa do evento. Aos 33 anos de idade, formada em filosofia, antenada nas redes sociais, amante de orquídeas e com um único livro publicado, “Teorias Selvagens”, ela esbanjou simpatia na coletiva em que falou sobre vários assuntos, incluindo futebol e até mesmo a polêmica da ausência de Antonio Tabucchi, que cancelou sua participação no evento em protesto contra a decisão do STF de negar a extradição de Cesare Battisti.

Pola Oloixarac em entrevista coletiva no Flip.

No debate, no entanto, teve problemas ao se expressar e acabou ofuscada pelo angolano radicado em Portugal valter hugo mãe, que comoveu a plateia…

O choro

O autor de “Máquina de Fazer Espanhóis”, “valter hugo mãe” (que escreve o nome assim mesmo, com minúsculas), encerrou sua fala na mesa de debates da Flip lendo uma carta em que relatava sua relação com o Brasil. Falou dos vizinhos brasileiros que teve em Portugal, os primeiros que viu “fora das novelas”, a amizade com as amigas brasileiras de suas irmãs, que lhe davam status com as meninas de sua idade, e o gosto pela banda Legião Urbana. Ao final da leitura, foi às lágrimas. Terminou aplaudido de pé. valter hugo e Pola participaram da peça que encerrou a Flip…

Nus

O diretor José Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina, encenou sua versão do manifesto antropófago de Oswald de Andrade, escritor homenageado pela Flip este ano, no encerramento da festa. Com atores nus como índios, distribuiu um banquete de frutas e vinhos à plateia, e fez referência a uma palestra de sucesso na Flip, com um neurocientista…

Peça de Zé Celso Martinez foi responsável por finalizar oficialmente a Festa Literária de Paraty (Foto: Divulgação).

A ciência

Miguel Nicolelis prendeu o público que acompanhou seu evento ao falar de sua “utopia de restaurar movimentos”. Ele anunciou seu projeto de fazer um tetraplégico dar o pontapé inicial da Copa do Mundo 14 com a ação do cérebro, por meio de uma veste robótica.

Sua ideia é fazer com que uma criança tetraplégica dê o pontapé da Copa por meio de uma veste robótica (Foto: Walter Craveiro/Divulgação).

Antonio Candido

O crítico literário fez a palestra inaugural da Flip este ano. Palestra, não. Como ele mesmo definiu, sua participação foi com depoimentos de um amigo do modernista Oswald de Andrade, classificando-o como uma pessoa “extremamente afetiva” e que tinha como principal traço de personalidade a mobilidade. “Em tudo o que se referia a opiniões, a coisas momentâneas, havia essa mobilidade. Mas ele era de uma extrema constância no que se referia à ideias”.

O Sorriso do Lagarto

João Ubaldo Ribeiro divertiu o público da Flip ao contar histórias, revelar preferências e ser extremamente franco sobre seu processo de criação. Em certo momento, admitiu que a origem dos livros está na encomenda feita pelos editores. “Cheque gera inspiração”. Sobre sua principal obra, Viva o Povo Brasileiro, disse que a motivação não foi “reescrever a história do Brasil do ponto de vista do dominado”, como muitos acreditam, mas fazer um livro “grosso” para “esfregar na cara” de um editor que dizia que os brasileiros só faziam “livrinhos para serem lidos na ponte aérea”.

Escritor protagonizou um dos mais divertidos debates da Festa Literária (Foto: Walter Craveiro/Divulgação).

Éder Jofre

O performático James Ellroy, autor de livros que foram adaptados para o cinema, como Dália Negra” e “Los Angeles – Cidade Proibida, esbanjou sarcasmo e elogios ao Brasil, incluindo um especial ao ex-boxeador Éder Jofre: “Foi o lutador mais perfeito que vi na vida. Espero que alguém possa falar para ele que sou fã dele”.

Talking Heads

O músico David Byrne, ex-líder da banda Talking Heads, trouxe uma discussão unusual para a Flip: arquitetura, urbanismo e o uso da bicicleta como meio de locomoção. Conhecendo várias cidades do mundo sobre duas rodas e usando pedais, tornou-se um especialista no tema e escreveu Diários de Bicicleta.

A mesa 'Tour dos Trópicos' discutiu a nova mobilidade cidadã (Foto: Walter Craveiro/Divulgação).

A polêmica

O francês Claude Lanzmann desentendeu-se com o moderador de sua palestra, Márcio Seligmann Silva, ao exigir que falassem de seu livro de memórias “A Lebre da Patagônia. Chegou a ameaçar abandonar o palco, depois de falar longamente sobre seu filme Shoah, no qual reúne relatos de sobreviventes do holocausto.

A atitude dividiu a opinião da plateia, contra e a favor do convidado. O curador da Flip, Manuel da Costa Pinto, defendeu o moderador: “Esse preconceito que há contra o acadêmico é uma coisa nazista. Infelizmente, uma pessoa que trabalhou tanto com essa matéria-prima acaba reproduzindo uma atitude dessa, ser contra a discussão intelectual, filosófica”, disse.

Manuel da Costa Pinto disse que preconceito de Claude Lanzman contra intelectual é forma de nazismo (Foto: Walter Craveiro/Divulgação).

O dono da editora responsável pela publicação do livro de Lanzmann protestou, classificando a declaração de “equívoco”. A organização da Flip considerou a palavra usada pelo curador “inadequada”.

Fonte: Claudia Andrade/Portal Terra.