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Festa do Peão de Barretos chega à 60ª edição

Com uma média de público de 900 mil pessoas por edição, hoje a Festa do Peão é conhecida como o maior evento do gênero da América Latina e carrega o dilema de abraçar as mudanças sem deixar de lado as tradições.

Há seis décadas, promover festas para o aniversário da cidade era um anseio de 20 amigos de Barretos (SP). Em 15 de julho de 1955, os jovens solteiros e já desgarrados da dependência financeira dos pais chegaram a um consenso durante uma conversa de bar.

Surgia assim o grupo Os Independentes, mais tarde conhecido como organizador da Festa do Peão, maior rodeio da América Latina que está completando 60 anos.

Uma história de recordes, transformações e polêmicas que para ser entendida precisa ser contada desde a primeira metade do Século 20. Naquela época, Barretos era parada de comitivas que levavam boiadas do Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás até um frigorífico local. Com ordenados pagos, muitos peões permaneciam na localidade, fato que movimentava noitadas em cabarés.

Foto: Arquivo/Os Independentes.
Em 1985 aconteceu primeira festa fora do Recinto Paulo de Lima Correa.
Em 1985 aconteceu primeira festa fora do Recinto Paulo de Lima Correa.

Preocupado que a farra dos trabalhadores atrapalhasse os festejos do aniversário da cidade, o então prefeito Mário Vieira Marcondes organizou em 1947 um rodeio, somente com montarias a cavalo – disputa comum entre peões na época – em um picadeiro montado no Recinto Paulo de Lima Correa, espaço de dois alqueires e meio no Centro do município.

O sucesso daquela iniciativa inspirou Os Independentes a realizar oficialmente em 1956 a primeira Festa do Peão de Boiadeiro em dois dias – 25 e 26 de agosto.

Depois de promover um ano antes uma “gincana automobilística” em prol de um asilo, o grupo uniu, em um mesmo evento no Recinto Paulo de Lima Correa, montarias a cavalo, apresentações de duplas sertanejas como Torres e Florêncio e a Queima do Alho – com a disputa da comitiva que preparava a melhor refeição tropeira no menor tempo.

Modernização

Os anos 1970 e 1980 foram pano de fundo para transformações que gradativamente estabeleceram o atual estilo da festa, como a adesão de patrocinadores oficiais. Em 1973, pela primeira vez, um peão, Laurindo Bernardes de Souza, de Jales (SP), ganhou como prêmio um carro – um Fusca 1300 zero quilômetro.

Recorrente desde os primeiros anos, os concursos da Rainha do Rodeio também ganharam um formato novo.

Foto: Divulgação/Os Independentes.

festa do peao de barretos entrada do parque

Se nas décadas anteriores eram mobilizados pela compra de votos, nesse período passaram a ser realizados por jurados e embalados por torcidas no Ginásio Municipal de Esportes, o Rochão, lembra Marilda Santana, de 71 anos de idade, primeira mulher a receber um título de Os Independentes devido aos serviços prestados ao clube por mais de 30 anos.

Foto: Érico Andrade.
Arena com capacidade para 35 mil pessoas foi projetada por Oscar Niemeyer.
Arena com capacidade para 35 mil pessoas foi projetada por Oscar Niemeyer.

“Nas primeiras edições, conta a história do clube, eram vendidos os votos. Aquela que arrecadava o maior número ganhava. Depois teve uma época em que eram escolhidas filhas de pecuaristas. Acredito que tenha sido por oito ou nove anos. Foi a partir dos anos 1970 que houve a escolha das rainhas com júri. Ganhava aquela que fosse a mais bonita e bem trajada, mas a beleza física tinha que estar aliada ao desembaraço.”, diz.

A influência americana também acompanhou essas mudanças, visíveis no estilo dos peões. Com jeans e fivelões, eles ficavam cada vez mais parecidos com os cowboys americanos. Período em que também começaram a ser introduzidas novas modalidades ao rodeio, dentre elas a montaria em touros – até então praticada como exibição.

Futuro

Com uma média de público de 900 mil pessoas por edição – o equivalente a nove vezes o tamanho da população local -, hoje a Festa do Peão é conhecida como o maior evento do gênero da América Latina e carrega o dilema de abraçar as mudanças sem deixar de lado as tradições.

Uma sucessão que ficará nas mãos de pessoas como Pedro Muzetti, de 24 anos de idade. Filho de Jerônimo Muzetti, o jovem estudante de Engenharia em São Paulo se tornou um dos cem membros de Os Independentes em 2012 por vontade própria, depois de anos atuando como aspirante na associação.

Prestes a se formar, ele pretende se estabelecer em Barretos ao término da faculdade para seguir os passos do pai e colocar suas ideias em prática, seguindo a fórmula da modernização sem se esquecer do passado.

“Vejo meu pai e me inspiro muito nele para tudo que eu faço. Quando eu fui entendendo a grandeza da festa fui vendo aquilo como meta para mim. O maior sonho que tenho é ser presidente de Os Independentes.”, diz.

Foto: GF Drone/Divulgação.
Estátua na entrada do Parque do Peão recebe festeiros em Barretos.
Estátua na entrada do Parque do Peão recebe festeiros em Barretos.

Edição 2015

A 60ª edição do evento teve início ontem (20/08), e se estende até o dia 30 de agosto, com diversos shows musicais e competições de rodeio.

Para marcar esta 60ª edição foi lançado no dia de ontem (20/08), o livro “Barretos 60 anos – Aqui se faz história”, no Memorial do Peão, no Parque do Peão.

Ele conta a história da Festa do Peão de Barretos. Segundo Baroni Neto, diretor-geral da BB Editora, nesta primeira edição foram impressos mil exemplares, dos quais 400 estão à venda em quiosques no Parque do Peão.

Foto: Divulgação/Os Independentes.
Marcelo Murta, diretor de comunicação de Os Independentes, a rainha Beatriz.
Marcelo Murta, diretor de comunicação de Os Independentes, e a rainha Beatriz.

O valor arrecadado com a comercialização será destinado à Creche Santo Antonio de Pádua, de Barretos, que atende 90 crianças. Cada livro custa R$ 49,90. A obra tem o patrocínio da Icatu Seguros, representada por Christian Assumpção.

 Por Rodolfo Tiengo/G1 Ribeirão Preto.