Experiência de Marca

É preço, mas eu quero técnica

O preço passou a ser a base de licitações e concorrências feitas por empresas, especialmente do governo, no intuito de “se darem bem” - e é isso mesmo - em cima do trabalho das agências.

Sinais dos tempos e dos desmandos, era inevitável que a gente acabasse caindo nesse buraco que é o descritério do cliente que, como não entende nada mesmo do nosso mercado, busca baixar custos para pagar mais caro. Eu explico…

A evolução natural do domínio de compras e suprimentos sobre decisões de marca, que, necessariamente, precisam ter alguém que entenda, minimamente, da importância de uma marca, foi destruindo qualquer possibilidade estratégica em eventos ou ações.

O preço passou a ser a base de licitações e concorrências feitas por empresas, especialmente do governo, no intuito de “se darem bem” – e é isso mesmo – em cima do trabalho das agências.

O barato pode sair caro (Imagem: Barry Blackman/Corbis).

Eles questionam tudo. Acham que o fee é um absurdo, que devemos trabalhar de graça, acham que roubamos ao cobrar entre 12 e 15% para trabalharmos. Por quê? Perguntam: Vocês não fazem nada mesmo, dizem alguns. Depois de não pagarem criação, que para eles também não existe, hoje, não querem pagar nosso gerenciamento.

A culpa, é claro, não é basicamente deles e dos gerentes meia boca que colocam para mandar em eventos, o tal cliente despreparado para entender o que fazemos, é culpa de crápulas que se dizem donos de agências, mas que, na verdade, são aventureiros do mercado que cortam e baixam preço para poderem “roubar” – aqui literalmente, amparados e sancionados por alguns clientes, ou por aqueles que ficam felizes em ver um preço absolutamente destoante dos de outras agências envolvidas na concorrência, como que a lhes dar razão, quando dizem que nós estamos cobrando absurdos.

Como, numa concorrência de preço, quando todas as agências convidadas colocam valores próximos, na casa do 500 mil, por exemplo, com diferença de alguns mil reais entre elas, alguém coloca 400 mil, numa diferença de mais de 100 mil e… ganha? A exequibilidade deveria ser questionada, mas, se você o fizer, vai ficar de castigo, porque o cliente não quer lisura nem profissionalismo. Quer “baba ovos” e lacaios que lhes façam ter razão.

Com a possibilidade de aditivar até 25% do valor, essa agência que “ganhou”, por certo, ou teve informações privilegiadas ou deve ter mais conhecimento e expertise que as outras quatro, que orçaram, a partir do mesmo briefing, o evento. Será?

Ou não? Ou as quatro outras roubam e essa, miraculosa, é que sabe fazer orçamento? Vejam que se ela aditivar os 25% sobre os seus 400 mil chegará a… tchan tchan tchan 500 mil. Que surpreendente, né? Como ela pode ter essa certeza?

O pior de tudo é que o cliente NÃO GANHA NADA. Ao aditivar, ele perde e NÃO TERÁ OUTRO JEITO. Porque ou aditiva, ou seu evento não acontecerá como deve. E se acontecer, ainda assim, será uma lástima, porque, no mínimo, se perdeu tempo.

Sua marca, mesmo de estatal forte, perde em grandeza, porque seus funcionários vão ver a decadência de um evento esperado e conhecido e para o qual tem parâmetro de comparação.

Onde deviam comemorar, não terão bufê de qualidade, serviço que os atenda, a segurança devida, o show que os alegre. Terão algo maçante e chato que, ao longo do tempo, salvo por obrigação, será esvaziado. Se for uma homenagem, idem, porque nenhum homenageado vai querer voltar numa cerimônia chata, sem grandeza e organização, para ser mero boneco no palco. E assim, os objetivos estratégicos de um evento se perdem.

Um toque: se querem fazer isso, melhor NÃO FAZEREM EVENTO NENHUM MESMO, porque aí que os senhores estão gastando um dinheiro inútil, por menor custo que tenha.

Seu colaborador vai ter a impressão de que a empresa está com problemas, porque a agência baratinha que você escolheu terá gente baratinha trabalhando no seu evento, desqualificada para tal trabalho, quando não obrigá-lo a trabalhar no seu próprio evento, dando-lhe a ilusão de que você é produtor e sabe o que faz (se soubesse, com certeza, estaria numa agência, que lhe daria mais condições profissionais de trabalho.).

Isso vai agravar ou potencializar os erros no evento e a percepção do cliente, que, de fato, sabe o evento que quer, será arma contra ele mesmo, porque todo mundo sabe como quer um carro, mas só profissionais sabem fazê-lo. Como o cliente pode ser empregado (que é o que deveria acontecer se ele fosse um produtor contratado do evento) onde ele deve ser o dono?

Por certo, fará besteiras que, se derem certo, lhe dará crédito, mas, se derem errado, recairá sobre os profissionais que deviam fazer o trabalho.

E assim o barato sai caro ao longo do tempo. Qualquer um de nós, inclusive o cliente, sabe que qualidade de trabalho qualificado  tem valor. Ninguém quer baixar o custo do médico especialista, quando está com doença séria; ninguém quer o advogado de porta de cadeia, quando nos tribunais enfrenta uma denúncia de estelionato; ou um arquiteto e um construtor baratinhos que levantem a casa onde vai viver com sua família. Pergunte a quem optou por isso e veja o que aconteceu. Morreu, está preso ou até hoje tenta consertar a casa onde mora, sempre pagando mais caro.

Então, por que nós, profissionais de live marketing, temos que nos sujeitar e ouvir essas baboseiras do cliente? Ele faz a maldita concorrência de preço, misturando agências absolutamente “imisturáveis” – por exemplo, como comparar uma agência com estrutura e funcionários qualificados  como a Banco, a Rock, a Conceito, a AVERA e por aí vai, com uma que sequer tem uma sala, estrutura ou funcionários fixos? Quem faz essa escolha? E por que a faz? Queria ter essa resposta.

Como esperar um resultado LÍCITO se uma agência que tem que pagar pela qualidade que oferece, e que garante o que faz, portanto, essa qualidade está no seu custo – assim como uma empresa de petróleo, por exemplo, tem o custo de seu produto um pouco maior por conta de sua tecnologia e expertise, para garantir a entrega, com uma outra, meia boca que não tem nada?

E quando a entrega não é feita do jeito que tinha que ser, quem paga a conta? Tem dez minutos pra pensar e responder.

Pois bem, que fique claro que: NÃO há como licitar preço e exigir técnica (que inclui logística, expertise e profissional que deve ter qualidade para executar e garantir o trabalho e sua entrega de qualidade.).

Que fique mais claro ainda que essa maneira esdrúxula de licitar, colocando o preço como se ele fosse o único fator relevante numa concorrência para não “perder dinheiro”, é falsa, antiética, sem transparência, duvidosa e prejudicial a qualquer empresa ou marca.

Porque se seu evento ou ação não for feito de maneira a lhe dar o resultado e a solução de comunicação devida, você, querido cliente, ou terá que refazê-lo, ou aditivá-lo para não perder tudo que empenhou de esforço, trabalho, tempo e expectativa – o ralo é para todos – e, pior, seu público interno ou externo vai perder também. Ou seja, você PERDERÁ GRANA no afã de economizá-la.

Ainda que nós cobremos pelo trabalho, porque nós da Conceito, e uma centena de agências por esse País (se quiserem dou uma lista), trabalhamos sim senhor, nosso preço é o que tem que ser, é o justo, comparado com o que oferecemos ao nosso cliente – e quem é nosso cliente sabe.

Nossa técnica é que, na verdade, vai de brinde, porque mesmo nas mais idiotas das concorrências de preço, sem técnica, quem ganha é a mediocridade. E quem perde é sempre o cliente e a marca.