Experiência de Marca

Diversidade: Mercados buscam se reinventar

Para dialogar com novos consumidores, marcas precisam ser mais diversas, inclusivas e transformar sua cultura corporativa.

Há muitos se fala no quanto a fotografia e a moda retratam uma sociedade irreal. 

O tema voltou à tona com o anúncio da São Paulo Fashion Week que tornou obrigatória para as grifes que participaram da última edição do evento a cota de 50% do quadro de modelos para negros, afrodescendentes e/ou indígenas. 

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Na moda internacional, recentemente, a cantora Beyoncé defendeu o trabalho de mulheres negras na fotografia ao escolher a fotógrafa Kennedi Carter, de 21 anos, para clicar suas fotos de capa na Vogue britânica, tornando-a a profissional mais nova na posição em toda a história da revista. 

“Cada uma dessas ações forçam transformações importantes no mercado de moda e fotografia no Brasil e no mundo, mas ainda não podemos dizer que esse cenário é diverso. Há marcas tentando reverter o gap de dezenas de anos de racismo e exclusão, principalmente, por conta da pressão social, mas muitas ainda não entenderam que essa mudança deve ser baseada em propósito.”, avalia Carolina Soares, coundadora da Foto.Com, empresa especializada em conteúdo e imagem para o e-commerce e que atua com as principais marcas de moda no país.

Marina Kadooka, head de Marketing da Tommy Hilfiger, fala da importância de uma mudança verdadeira na estrutura e na cultura corporativa das empresas do segmento. 

Segundo ela, perderá espaço e relevância quem não for responsável e atuante em relação ao problema. “Tem que começar de dentro pra fora, não adianta somente trabalhar num casting diverso ou fazer ações de marketing para acompanhar esse movimento. Mesmo se aproveitando de momentos específicos, como foi o que aconteceu com o Black Lives Matter, os clientes vão perceber e é aí onde começa um processo de entendimento de ‘quais são as marcas com as quais eu me identifico’. O consumidor deixa de comprar dessa marca por saber que ela não representa os valores que ele acredita. O discurso tem que ser legítimo. Não adianta a marca se posicionar na linha de frente e não fazer o trabalho dela nos bastidores também.”, explica.

Para tornar o segmento mais inclusivo e democrático, há um longo caminho a ser percorrido. São muitas as melhorias necessárias. Entre elas, buscar ter um quadro de funcionários mais plural, salários e oportunidades iguais para homens e mulheres e manter o foco na diversidade como base de atuação da empresa. 

“As marcas, principalmente as que estão no topo da pirâmide, precisam entender a posição em que elas se encontram e usar o poder de circular por lugares onde a base da pirâmide não chega, normalizando a presença de pretos, gordos, LGBTQIA+ e indígenas em todos os lugares, como convidados, pessoas com conteúdo forte e importante a ser absorvido por todos e não tê-los apenas como faxineiros ou cozinheiras, como sempre acontece com os pretos, por exemplo.”, defende Jussiara Coelho, supervisora de Conteúdo da Foto.Com.

Ela comenta ainda sobre a luta dos grupos inferiorizados e a influência das gerações Millennium e Z neste cenário: “Como mulher, preta, periférica, com pais nordestinos, LGBT e gorda, a minha existência é estímulo para que outras meninas parecidas comigo se espelhem na minha trajetória. Mesmo assim, acabar com essa cultura é algo que vai continuar a ser a luta dos meus filhos, dos filhos dos meus filhos e assim por diante. Felizmente, uma nova geração está surgindo e estamos passando por uma renovação de padrões, meio timidamente, mas muito engajada, com propriedade e falando abertamente sobre a despadronização da beleza e dos corpos. Acredito que, com isso, temos o poder de revolucionar o mercado da moda.”

Uma opinião compartilhada por muitas líderes do segmento e que não veem chances de sobrevivência para as empresas que não mudarem sua mentalidade. Uma questão ainda mais forte no ambiente digital. 

“As marcas que pensam como a moda de antigamente vão ter que se adequar, porque a onda do cancelamento está acontecendo, as pessoas estão investigando, acompanhando e as redes sociais vieram pra isso, pra dar esse controle maior e mais efetivo.”, pontua Marina Kadooka. 

“A nova geração de consumidores está atrelada a essas questões. Então, independentemente do ticket médio da marca, do investimento necessário, de o público ser A, B, C ou D, a empresa tem que se posicionar corretamente e a melhor maneira de reduzir esse gap é na execução. É fazendo.”, conclui Carolina Soares.