Experiência de Marca

Das festas aos smartphones que nos prendem

E foi por isso que os dois textos me serviram de base para abrir a gaiola nas quais as <em>Raves</em> e os smartphones, coisas tão boas para se viver, podem nos colocar, se não entendermos que nada é um fim em si mesmo.

Hoje, meu texto é inspirado em dois outros. Um, da jornalista Ruth de Aquino, na Revista Exame, outro, num post do meu amigo João Riva no FB.

O primeiro fala de eventos de formatura feitos por empresas especializadas nesse tipo de festa, o outro, de como nos distanciamos das pessoas por usar a tecnologia dos smartphones sem limites e comedimento.

O nosso mundo parece ter-se perdido entre os valores e a percepção. De um lado, uma empresa de eventos que promove festas para alunos do Ensino Médio – média de idade de 16 a 18 anos de idade – de escolas poderosas e tradicionais, do Rio ou de qualquer Cidade do Brasil, e tem, como principal fonte de divulgação e apologia de seu trabalho, a demonstração inequívoca que, nessa festa, vai rolar de tudo – tudo mesmo.

De outro, a solidão que o uso indiscriminado e sem controle dos smartphones nos impõe e nos deixa isolados em mesas cheias de amigos, dentro de casa, no trabalho e na rua, onde andamos e vivemos como verdadeiros robôs, autômatos, sem defesa (para os carros, transeuntes e obstáculos que se colocam, inadvertida mente, a nossa frente).

Reprodução/YouTube

smartphone-portal-progvacas-pv3

Num, temos a formação deturpada de jovens que deviam pensar humanisticamente no futuro da sociedade, mas se preparam para ser os Reis do Camarote. Pior, empresas despreparadas para atender a questões legais (menor não pode beber, embora no contrato das festas constem mais de dez tipos de bebida alcoólica, só para começar) e morais, que tão bem caberiam num momento onde um aluno deveria mostrar agradecimento ao investimento feito por seus pais e professores no seu futuro, compartilhando, com eles, esse momento único em suas vidas.

Eu até entendo a questão da privacidade, da festa só para a galera, mas então não rotulem o evento de Festa de Formatura. Façam uma viagem, por exemplo e transformem a festa em formatura de alguém ou alguma coisa.

Divulgação/EnglishTown.

falar-de-formatura_foto_By_englishtown

Não há formação onde o laurel a receber seja um copo de caipirinha, vinho, energético, etc., e a mensagem seja: viva essas 12 horas como se fossem as últimas de suas vidas – quando estão se formando para a vida que, por certo, cabe em bem mais tempo. Isso se eles entenderem o que é vida.

Rave, Festa de Final de Curso, O Bicho Vai Pegar, talvez fossem nomes que coubessem melhor para esses eventos. À parte, a questão de semântica (porque convenção é convenção, congresso é congresso, e festa é festa). Não se pode admitir que um grupo, praticamente constituído de menores em formação seja levado a pensar que o mundo é uma festa fácil. Onde tudo se pode, onde todos podem tudo – ou então serei forçado a crer que os defensores da maioridade penal estão certos. Sim, porque, se para beber não são menores, como não o serão para os resultados das bebedeiras, dos vícios e da night sem fim da qual sairão em carros, possivelmente, já que podem tudo, ou em grupos pelas ruas, bêbados?

Há quem aprove as festas e a minha questão aqui não é essa. A pergunta que faço é: Que tipo de empresa as faz sem tentar incluir nelas um momento que mostre seu verdadeiro significado. Afinal, se o briefing é formatura, em algum momento na festa ela teria que vir à tona.

E quando morrerem jovens por coma alcóolica – mesmo com as cláusulas que reportam UTIs Móveis e quase uma dezena de médicos e enfermeiros (o que prova o perigo da festa)  – ou  acidentes? Quem se responsabilizará pelas perdas? Os pais que assinaram os contratos, as agências, ou as autoridades que as permitem fazendo vista cega?

Quem se responsabilizará pela formação de jovens para os quais os limites da lei, dos valores de uma formatura e de uma Festa não passam de um porre e da futilidade, num País que precisa de gente de valor – e de valores – mais solidária e cidadã?

E é na solidão das mesas cheias de smartphones que nos aproximam do mundo e de milhões de pessoas que nos mostramos indiferentes e sem valor. Onde a palavra só tem vez nos SMS, nos posts, nas mensagens sem fim, onde faces dão lugar ao Face.

Perdemos a oportunidade de dividir um bom papo, um carinho, um olho no olho apaixonado, um abraço, um sorriso, uma gargalhada, um romance por emoticons que querem dizer tudo isso…mas não dizem.

Perdemos a emoção contida na frase dita e nas expressões e gestos na busca do touch e assim perdemos a verdadeira vida, porque o mundo digital não veio para nos isolar e nos afastar, muito pelo contrário.

Nós, do mundo live, já percebemos que temos que falar com as pessoas, tocá-las e buscar nas suas emoções e sentidos o que há de bom para mostrar o que há de humano em marcas produtos e serviços. Sim, é isso mesmo.

Parece paradoxo? Mas não é. Nós somos o grito de busca da emoção perdida. A interatividade que não mais existia num texto ou imagem estáticos a conversar solitários a nossa espera com as verdades unilaterais. E o digital é nosso parceiro nisso.

Nós somos a sinestesia, o riso, o choro, o valor e a consciência que busca o consumidor e o shopper sem subestimar sua inteligência ou sua opção de escolha.

Mas precisamos de gente, de valores e de vida. Precisamos da liberdade de escolha que molda gente.

E foi por isso que os dois textos me serviram de base para abrir a gaiola nas quais as Raves e os smartphones, coisas tão boas para se viver, podem nos colocar, se não entendermos que nada é um fim em si mesmo.

Vamos voar!