Experiência de Marca

Comunicação é arte! - Por Alexis Pagliarini

Além de uma mostra das criações de Lorente, que morreu precocemente em 2009, foram apresentados trabalhos daqueles que admiravam e conviveram com o artista/publicitário.

Infelizmente, acaba de terminar a exposição alusiva a Tomás Lorente, que aconteceu na Pinacoteca e no Espaço Burle Marx do Mube. Além de uma mostra das criações de Lorente, que morreu precocemente em 2009, foram apresentados trabalhos daqueles que admiravam e conviveram com o artista/publicitário. Mais do que uma exposição, a iniciativa, foi uma homenagem e um tributo ao profissional admirado e ao ser humano querido, por meio de suas próprias obras e das que ele inspirou.

A tocante exposição apresentou trabalhos de alguns dos mais importantes nomes da propaganda brasileira, como Nizan Guanaes, Marcello Serpa, José Zaragoza, Washington Olivetto, Roberto Justus, Magy Imoberdorf, Carlos Domingos (de quem foi sócio na Age), Pedro Cappeletti, Jorge Iervolino, André Nassar, Alexandre Lucas, Jader Rossetto, Willy Biondani e Sérgio Campanelli. Alguns deles retrataram (literalmente) o homenageado.

Foram apresentadas ainda criações de Andreas Heiniger, Alê Cardoni, Augusto Moya, Bia Alves, Claudio Mello, Daniela Sachs, David Laloun, Fábio Cimino, Roberto Donaire, Elaine Carvalho, Gisela Prochaska, Leo Coutinho, Lourival Servilha, Luís Crispino, Luíza Prochaska Justus, Marcos Sulzbacher, Ñaco, Nina Linderman, Paulo Labriola, Sérgio Brandão, Tarcisio Dantas e Alexandre “Xan” Arakawa. A emoção em torno da homenagem e a qualidade dos trabalhos apresentados me estimularam a escrever este texto.

Na verdade, outra exposição – esta mais light, sem o peso da emoção da homenagem a Lorente – também contribuiu com a reflexão em torno da questão: a mostra sobre os cartazes de bonde, que acontece até abril no Instituto Tomie Ohtake. A mostra intitula-se “Veja ilustre passageiro – O Atelier Mirga e os cartazes de bonde” e apresenta uma pequena parte dos mais de oito mil cartazes desenvolvidos pelo atelier no período de 1928 e 1970. Um período naive da comunicação, mas muito rico, em termos artísticos e culturais. Não deixe de visitar! Mas a minha reflexão veio com a pergunta: afinal, comunicação é arte?

As frias cobranças por resultados, o ROI e o pragmatismo que dominam os decisores da estratégia desses nossos tempos talvez nos façam ver a comunicação mais como ciência do que arte, mas não dá para deixar de enxergar o valor artístico dessa atividade tão presente na vida das pessoas. Eu tive a sorte de pegar um período ainda romântico da comunicação, convivendo com artistas incríveis que se propuseram a dedicar seu talento (também) para a propaganda.

Lembro-me dos layouts do Zaragoza e do Petit, manchados à mão, na minha época de DPZ. Que artistas fantásticos! E que fantásticos homens de comunicação! Quem já teve a chance de visitar o atelier do Zaragoza e ter acesso às mapotecas que ele guarda com o mesmo cuidado dedicado às suas obras de arte, sabe do que estou falando. Há layouts que poderiam ser pendurados na parede mais nobre das nossas casas.

O seu livro “Layout man” apresenta esses trabalhos maravilhosos. Mas será que, além de belíssimos, cumpriam a tarefa de vender? Quem responder que não, estará subestimando a capacidade desses artistas “puros de origem” de se moldarem às necessidades de uma comunicação pragmática e objetiva.

Estamos vivendo um momento complexo de altíssima competição pela atenção de potenciais consumidores e público em geral. Num ambiente repleto de mensagens e estímulos visuais, destacar-se é uma dura tarefa. E, no meio da gritaria “só até sábado” do varejo e das múltiplas mensagens no ambiente web, de vez em quando surgem verdadeiras obras de arte voltadas a atrair, envolver, persuadir e vender, sim senhor. E são essas as peças que são comentadas no dia seguinte, que viralizam no ambiente digital, que elevam a imagem das empresas e produtos para as quais foram concebidas. Ao longo da minha carreira, tive a sorte de conviver com esses artistas da comunicação e sempre tive uma profunda admiração pelo seu trabalho.

Diferentemente de uma obra de arte pura, a concepção de campanhas de comunicação é obrigatoriamente gerada a partir de um briefing. É muito mais do que simplesmente obter elogios de quem é impactado por elas. É preciso fazê-lo parar, selecionar, se interessar e, o mais importante, tomar uma atitude positiva em relação à mensagem. Coisa de artista!