Experiência de Marca

Até quando? - Por Apostole Lazaro Chryssafidis

A estabilidade econômica, aliada à boa gestão das empresas, permitiu que só em 2010 fossem registrados aproximadamente 140 milhões de embarques e desembarques nos aeroportos brasileiros.

Apostole Lazaro Chryssafidis*

O crescimento do número de usuários do transporte aéreo nos últimos anos surpreende até os investidores mais otimistas. A estabilidade econômica, aliada à boa gestão das empresas, permitiu que só em 2010 fossem registrados aproximadamente 140 milhões de embarques e desembarques nos aeroportos brasileiros, representando um crescimento de 23,5%.

E mais que um bom momento do mercado, os números representam uma tendência de crescimento consolidada, ou seja, uma mudança de comportamento da população brasileira que descobriu de vez as vantagens do modal aéreo.

Segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a demanda de voos domésticos cresceu 19,54% em junho, na comparação com o mesmo mês em 2010. No mesmo período, a oferta de voos domésticos cresceu 12,48%, elevando a taxa de ocupação de 64%, em junho de 2010, para 68,1% no mês passado.

No entanto, nadando contra a maré, se me permitem o trocadilho, está a Infraero, estatal que administra 67 aeroportos do País, ou seja, menos de 10% de todos os aeródromos do Brasil, mas que correspondem a aproximadamente 97% de todo o tráfego de passageiros.

Entre eles os mais rentáveis como Cumbica (Guarulhos-SP), Viracopos (Campinas-SP) e Congonhas (São Paulo). Só em 2010, a receita da Infraero foi de R$ 947,6 milhões, alta de 21,6%. Considerando apenas a rentabilidade, a estatal fechou 2010, com R$ 32,4 milhões de lucro líquido, alta de 45,8% sobre 2009.

Mesmo com uma receita superavitária, a Infraero não consegue executar os cronogramas definidos por ela mesma. Um exemplo disso é o Aeroporto Professor Urbano Ernesto Stumpf, em São José dos Campos, cidade a menos de 100 quilômetros da capital São Paulo.

O ano passado o mesmo foi apresentado pelo diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Infraero, Jaime Parreira, como alternativa viável e estratégica ao esgotamento dos aeroportos da Região Metropolitana de São Paulo. Segundo o plano apresentado, até sua internacionalização estava sendo cogitada para que o aeroporto pudesse receber voos charters na Copa de 14.

Entre as obras necessárias para adequação do terminal de São José dos Campos para atender a nova demanda, está a instalação de um módulo operacional (MOP) com um mil metros quadrados, que já tinha prazo e valores definidos: novembro/2011 a junho/2012, com previsão de gastos de cerca R$ 2,5 milhões.

Além de tornar o terminal uma alternativa para as companhias, principalmente as regionais que, por falta de slots não conseguem operar nos aeroportos paulistas de Congonhas e Cumbica, a instalação de um MOP aumentaria em cinco vezes a capacidade de processamento de passageiros, dos atuais 90 mil para 600 mil paxs/ano.

Mesmo com tudo planejado, para nossa surpresa, a Infraero cancelou o investimento em São José dos Campos e declarou que a instalação do MOP está sendo reestudada, mas sem previsão de quando terminará tal estudo.

Mas, por que reestudar algo que já havia sido considerado viável há mais de um ano? Enquanto a Infraero reestuda o que fazer com São José, o terminal já registra esgotamento. De janeiro a junho de 2011 foram 101.594 embarques e desembarques contra 28.224 no mesmo período de 2010, representando um aumento de 260%. Em apenas seis meses de 2011, o volume registrado já é quase 13% maior do que a capacidade do aeroporto.

O que acontece em São José dos Campos é o que acontece no Brasil. Enquanto, a Infraero reestuda, pensa e não tira os investimentos programados do papel, o mercado age e busca alternativas, para continuar crescendo e atendendo a demanda de passageiros ávidos por melhores condições do transporte aéreo.

Mesmo com tantos malabarismos, a realidade é preocupante. As empresas associadas à Abetar tem potencial para crescer em torno de 18% esse ano, mas diante da realidade da infraestrutura aeroportuária do País, estimam crescer em torno de 10%.

Se sobram recursos à Infraero, sobram também ao governo, que deixou de aplicar de 1994 até agosto de 2007, cerca de R$ 470 milhões de recursos provenientes do Profaa (Programa Federal de Auxílio à Aeroportos). E se considerados os valores até 2010, o montante facilmente ultrapassa a R$1 bilhão.

Por isso, voltamos a dizer, o mercado tem pressa e os usuários também. Adequar a infraestrutura aeroportuária do País para a Copa de 14 é um prazo muito longo, pois as necessidades são reais agora. Pois, se nada for feito, correremos o risco de andar para trás. Até quando vamos esperar?

*Apostole Lazaro Chryssafidis é presidente da Abetar.