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A internet, o imediatismo e a opinião pública

A internet possibilitou ao mundo que as informações fossem capazes de chegar ao conhecimento do público no exato momento do acontecimento.

Clarice Pereira*

Neste mês, presenciamos um momento histórico. Quem estava acordado na madrugada do dia 02/05, certamente se surpreendeu com a notícia sobre a morte de Osama Bin Laden, o terrorista mais procurado do mundo. Antes mesmo do pronunciamento feito pelo presidente dos EUA, Barack Obama, confirmando a morte de Bin Laden, a notícia já havia se espalhado pelos portais na internet e os comentários já corriam pelas mídias digitais, como Twitter e Facebook.

Na Era da Informação, que estamos vivendo, é impossível negar a enorme velocidade com que as notícias são produzidas. A internet possibilitou ao mundo que as informações fossem capazes de chegar ao conhecimento do público no exato momento do acontecimento. Mas será que o imediatismo, proporcionado pela web, contribui para a formação da opinião pública?

Até o ano de 1930, as notícias somente eram divulgadas pelos jornais e revistas impressos. Os diários, para que houvesse tempo de editar o conteúdo, sempre tiveram como característica informar ao público sobre as informações do dia anterior. Já os semanais, quinzenais, mensais e outros periódicos visavam oferecer um conteúdo mais profundo e analítico sobre temas e acontecimentos que estavam em discussão na atualidade.

Com as inovações tecnológicas, toda a área da comunicação passou (e continua passando) por transformações profundas. O surgimento de meios de comunicação como o rádio e, posteriormente, a televisão, aumentou a velocidade de produção e divulgação de informações. Se antes a notícia era “ontem morreu um homem atropelado por um bonde”, com a ascensão do rádio e da TV, a informação tornou-se em quase em tempo real – “acaba de morrer um homem atropelado por um bonde”.

Nos anos 90, surgem e começam a se popularizar os computadores pessoais e, com o advento da web, o imediatismo na geração das notícias tornou-se uma marca cada vez mais forte na produção do conteúdo. Esse fato, porém, garantido pela popularização da Internet não necessariamente significa algo bom para formação da opinião pública.

Primeiramente, devemos levar em conta que o imediatismo da web dificulta a apuração profunda dos fatos e, assim, as chances de que as notícias divulgadas sejam imprecisas é bem maior. Hoje, com a facilidade que qualquer pessoa tem para espalhar boatos na internet, as informações divulgadas podem ser inverídicas e, com isso, gerar muita confusão nas cabeças do internauta.

Para os jornalistas profissionais, o cuidado ao transmitir as notícias na web passou a ser redobrado, pois a velocidade digital, acompanhada pela ambição do “furo de reportagem” aumenta ainda mais a chance de serem divulgadas notícias falsas por blogs e meios digitais de pouca confiança.

Felizmente, os veículos de comunicação profissionais conhecem sua responsabilidade e o respeito com as informações a serem publicadas. Raramente o público verá um desmentido grave por falta da devida apuração. Ainda assim, esses noticiosos se valem do instrumento de “Errata”, caso concluam erros na a notícia.

Seguindo esta linha de raciocínio, outra consequência do imediatismo está a incapacidade do internauta em não conseguir refletir acerca dos fatos diante do volume de informações divulgadas. Esso influencia muito, na formação da opinião pública.

O dilema exposto, pela Era da Informação, faz-nos refletir sobre as nossas próprias formas de pensar e de avaliar a qualidade da avalanche de notícias que recebemos todos os dias. Se por um lado a internet facilitou a transmissão rápida de informações pela rede, por outro, o cuidado na produção desta ou daquela notícia deve ser maior do que nunca. Jornalistas conscientes sabem que uma verdade tem diversas faces e é sua obrigação ouvir todos os lados envolvidos, para que um fato seja relevante para se tornar notícia.

Notícias de todos os tipos são publicadas a cada segundo que vivemos. Para saber o que é relevante ou não é, cabe a cada um de nós estabelecermos nosso filtro pessoal. Um desses filtros é, com certeza, a fonte de informação.

Lembremos um caso que fora difundido pelo Twitter em que o ator de cinema Jackie Chan teria morrido em consequência de um ataque cardíaco. Por ser inverídica, a informação foi desmentida pelos portais de credibilidade e acabou acarretando uma nova função ao jornalismo: desmentir informações de usuários indesejáveis.

Ao público vale o recado de nunca tomar a primeira informação da web como verdadeira, certifique-se ao menos que o veículo de comunicação tenha credibilidade. Pesquise, informe-se sobre a procedência das notícias, senão você ainda vai acreditar que o homem nunca pisou na Lua ou que essa é feita de queijo… Engraçado? Não! A avaliação é o único caminho para que a opinião pública não seja desvirtuada e que saiba conduzir a sociedade da maneira correta.

* Clarice Pereira é jornalista, formada pela USP – Universidade de São Paulo e especialista em marketing, pela ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.