Experiência de Marca

Ronaldo faz e-sport do Brasil evoluir; desafio é atrair marcas de peso

O esporte eletrônico brasileiro foi tomado por uma avalanche que atende pelo nome de Ronaldo Fenômeno. O anúncio da compra de 30% da CNB, uma das principais organizações nacionais, pelo ex-jogador chacoalhou o cenário em um já agitado ano de 2017.

O esporte eletrônico brasileiro foi tomado por uma avalanche que atende pelo nome de Ronaldo Fenômeno. O anúncio da compra de 30% da CNB, uma das principais organizações nacionais, pelo ex-jogador chacoalhou o cenário em um já agitado ano de 2017. Consagrado mundialmente através do futebol, Ronaldo Luis Nazário de Lima, o empreendedor, confere ao setor um ganho imediato, mas terá pela frente desafios, inclusive de ordem pessoal.

Este é o primeiro grande investimento de Ronaldo após o desmanche da 9nine, empresa de marketing esportivo que comandava junto com o empresário Marcos Buaiz, com quem rompeu ligações profissionais no ano passado. Apesar dos clientes de peso que ostentava, a 9nine chegou ao fim sem resultados expressivos. O ex-atacante agora é controlador da Octagon – com o mesmo perfil do seu negócio anterior. A CNB contará com serviços da empresa de Ronaldo.

O ganho imediato com a entrada de Ronaldo no cenário do esporte eletrônico é, inegavelmente, o aumento da exposição. E isso vale para todas as organizações brasileiras. Ronaldo é um fenômeno – com o perdão do trocadilho – de mídia. O anúncio da compra de parte da CNB repercutiu na imprensa mundial, inclusive nos grandes e tradicionais veículos. Nenhum outro evento do setor atraiu tanta atenção da imprensa. O mercado enxerga a exposição gratuita como fonte de receita e legitimação.

Além do ponto de vista empresarial, Ronaldo tem toda a experiência de um multicampeão do esporte. Pentacampeão com a seleção brasileira, o ex-atacante entende a cabeça dos jogadores, sabe o que é preciso para se formar um time com espírito competitivo. Inclusive, já sinalizou que está atento também para o avanço técnico da equipe de League of Legends, carro-chefe da organização. Anunciou que tentará viabilizar bootcamp, espécie de temporada de treinos, na Coreia do Sul – país líder absoluto no e-sport -, premiação adicional em caso de conquistas e até ensaiou o estudo de pagamento de "bicho", termo usado no futebol para a recompensa em dinheiro em caso de vitória.

A principal contribuição de Ronaldo neste acordo com a CNB será a captação de patrocinadores para o setor ainda considerado jovem, mas com grande potencial de crescimento. E este será o principal desafio do Fenômeno. Atualmente, o esporte eletrônico brasileiro ainda não conseguiu atrair grandes marcas. Os patrocinadores em geral são empresas ligadas ao setor de jogos e tecnologia. As exceções são raras. Os valores dos contratos principais atingem no máximo a marca de R$ 1 milhão anuais.

Os patrocínios assumem uma condição ainda mais importante uma vez que as premiações do League of Legends nacional são consideradas baixas. O 1° Split do Campeonato Brasileiro de LoL, principal competição do título, oferece ao campeão R$ 80 mil. A título de comparação, o custo operacional de uma gaming house de ponta gira em torno deste valor podendo chegar a R$ 100 mi. Só que por mês.

Ligado historicamente a grandes marcas, Ronaldo pode – e deve – encurtar o caminho até as grandes empresas. Aliás, de início, já há um conflito para ser mediado. A CNB é patrocinada esportivamente pela Adidas; Ronaldo é parceiro histórico da principal concorrente, a Nike. Aliás, o ex-jogador foi apresentado com uma camisa preta que ostentava apenas o escudo da equipe. Mas retornando ao assunto anterior, o Fenômeno deverá utilizar seu prestígio para capitalizar grandes investidores para os Blumers. Este será o "gol de placa" a ser perseguido em sua gestão.

Embora o cenário seja desafiador, existe um sopro vindo de fora. No exterior, grandes marcas começam a olhar e investir no esporte eletrônico. O ano começou com duas bombas neste quesito. A Sk Gaming, equipe alemã proeminente no Counter Strike e com formação majoritariamente brasileira, fechou acordo com a Visa, gigante do setor de compras eletrônicas. Depois foi a vez da Audi acertar com a dinamarquesa Astralis. De acordo com o site The Esport Observer, os acordos giram em torno de US$ 750 mil (R$ 2,3 milhões) anuais.

A entrada de Ronaldo na CNB ainda gera também impacto de concorrência. As outras organizações do mercado interno precisarão elaborar estratégias para não serem ultrapassadas pelo rival possuidor de um ativo importante como o ex-atacante. Quem não tomar medidas, fica para trás. Esta é uma das grandes facetas positivas da alta concorrência.

O Brasil tem atualmente o melhor jogador do mundo de esporte eletrônico: Marcelo "Coldzera", da Sk Gaming. Aliás, esta equipe é considerada uma potência mundial no CS:GO com a marca do talento verde e amarelo. Porém, toda esta "matéria-prima" nacional está nas mãos de uma organização estrangeira. Dentro do país, o League of Legends, o futebol do e-sport por aqui, ainda tem pouca representatividade global. Ronaldo chegou à CNB dizendo que pretende levar a equipe a vencer tudo. Dentro do campo, o ex-atacante já reverteu cenários muito mais adversos. Será ele capaz de feitos similares no esporte eletrônico na posição de dirigente? O tempo dirá.