Mídia

Clubhouse: Nova rede social exclusiva de áudio já acumula polêmicas

Entenda o que cerca a nova plataforma que entrou nas conversas da internet, sobretudo no que diz respeito à exclusão social e proteção de dados.

Criada em março de 2020, a plataforma Clubhouse vem ganhando destaque na mídia, principalmente depois que Elon Musk, dono da Tesla e SpaceX, começou a utilizá-la, desfilando conceitos como humanos que vivem em Marte, dispositivos de implante cerebral e Bitcoin.

Este aplicativo se destaca das demais pelo fato de apostar em um novo formato de publicação, com a postagem de áudio gravado em vez de texto ou fotos. Afora isso, é uma rede social como qualquer outra, que vive à base dos seus dados. 

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No entanto, a plataforma já está sendo criticada por formas “inovadoras” de utilizar informações dos seus usuários indevidamente e também acumulou algumas críticas ao longo desses poucos dias de viralização. 

Não-faltam críticas em termos de acessibilidade ou até mesmo de privacidade. Nos EUA, os pontos negativos apresentados por especialistas são a moderação ineficaz e ausência de sistemas de prevenção de abuso.

Portanto, ninguém se espantou com o banimento da rede social na China, país onde o governo exerce controle rígido sobre todos os meios de comunicação. 

O Clubhouse (que é exclusivo para iPhone) ganhou popularidade nas últimas duas semanas, apesar de não estar listado na App Store para os usuários na China. Ainda assim, o acesso era livre, mesmo sem uma VPN, desde que o usuário conseguisse uma forma de instalá-lo em seu dispositivo.

Mesmo que você nunca tenha ouvido falar em Clubhouse, não tem vontade de criar conta e tem raiva de quem já criou, eles já têm suas informações de contato e um “perfil fantasma” ligado a você, tudo por conta dos dados compartilhados por quem tem suas informações como nome e número telefônico na agenda do celular. 

O aplicativo orienta e dá a entender que o usuário deve fornecer sua lista de contatos quando começa a usar o serviço. É possível não oferecer essa informação, mas o app até chega a utilizar um emoji de um dedo apontando para o botão para confirmar o compartilhamento da lista de contatos.

Por conta desta fragilidade, a rede foi bloqueada pelo “Grande Firewall” da China. Usuários em grupos de WeChat começaram a relatar inabilidade de se conectar ao serviço e tentam ajudar uns aos outros a contornar o bloqueio usando tecnologias como uma VPN. 

Ao mesmo tempo, já surgiram alguns “clones” chineses baseados no mesmo conceito. Ou seja, os usuários poderão continuar a conversar por voz, mas devem ter cuidado com o que dizem. Afinal, as paredes, mesmo as das salas de bate-papo, têm ouvidos.

Exclusão social

O conceito da rede social, por si só, já é exclusivo, em vez de ser inclusivo, já que deixa de fora uma parcela da população que não pode se comunicar por áudio. No entanto, a própria empresa parece apostar na exclusividade como forma de popularização.

Na prática, o que acontece com o Clubhouse é igual ao que aconteceu nos primeiros dias dos finados Orkut e Google Wave, que tiveram seus lançamentos amplificados justamente pela dificuldade em acessá-los. 

Mais recentemente, outra rede social, chamada Ello, fez o mesmo, com a promessa de ser um “anti-Facebook”, com foco em privacidade, e lançou o serviço apenas para convidados.

Não é diferente do restaurante ou da festa que estimula as filas em sua porta como forma de divulgação de seu serviço. Afinal de contas, se tanta gente quer entrar, é porque deve haver algo de especial, não?

Outra demonstração de que o Clubhouse não é para todos reside no fato de que ele também discrimina usuários com menor poder aquisitivo. E isso é simples de observar: O aplicativo existe apenas para iOS, até o momento em que o aplicativo é escrito.

Não há uma declaração formal dos desenvolvedores dizendo que esse era um objetivo, mas na prática é o que acontece. Não há como fugir: O iPhone é um celular de elite; ele pode ser mais popular em países com economias mais desenvolvidos, como nos Estados Unidos ou em algumas partes da Europa, mas essa não é a realidade na maior parte do mundo.

O Android, por sua vez, é o sistema operacional mais popular do planeta (superando até o Windows) por estar presente até mesmo nos aparelhos mais baratos que se pode imaginar. 

Quando os desenvolvedores optaram pelo iOS como plataforma preferencial, eles sabiam que estavam ignorando bilhões de pessoas no planeta para valorizar uma minoria que pode pagar por um iPhone.

 

Foto: Reprodução.